Phil Collins: Superação e terapia de regressão num álbum só
Resenha - Going Back - Phil Collins
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 17 de dezembro de 2018
Nota: 7
Em 2010, artistas tão diversos quanto Peter Gabriel, The Bird and The Bee, Djavan e Pato Fu lançaram álbuns de regravações de velhas canções. Em comum, todos reinterpretam o material trazendo algo de novo, ainda que de maneiras distintas, dependendo do estilo e do approach de cada um.
Philip David Charles Collins, ex-vocalista/baterista do Genesis, também decidiu lançou álbum de covers naquele ano. Quem conhece mais de perto a carreira do inglês, está careca de saber que ele sempre gostou mais de música negra norte-americana dos anos 60 do que dos devaneios progressivos de sua ex-banda. Tanto é que, com ele no comando, o Genesis guinou para a popice desenfreada. Claro que não sem a anuência de Banks e Rutherford.
Então, não muito longe de virar sessentão, após três casamentos fracassados, relação complicada com os filhos do primeiro casamento e com sérios problemas de saúde, o baixinho deliberadamente virou os olhos para suas raízes anos 60 e gravou Going Back (Voltando), tentando recriar a atmosfera de seus tempos de adolescente em Londres.
Mergulhou fundo no catálogo da lendária Motwon e concebeu um álbum que não trouxesse nada de novo às regravações. "Minha intenção foi criar um álbum ‘velho’, não um ‘novo’", declarou.
Conseguiu, na maior parte do tempo. Utilizando músicos remanescentes da banda de apoio que tocava nos estúdios da Motown, inclusive para alguns dos artistas regravados, Collins mimetizou à perfeição clássicos das Supremes (Love is Here), Dusty Springfield (Going Back), Steve Wonder (Uptight), The Temptations (Girl), Martha & the Vandellas (Heatwave) e outros. O baixo está gordo à beira da distorção em algumas faixas, as canções têm os tamborinzinhos, enfim, é quase tudo idêntico.
Louvável o aspecto de superação de Going Back. Collins perdera a sensibilidade nas mãos e apenas tocava bateria com as baquetas amarradas aos pulsos. Também é perceptível a reverência que o músico tem pelo material e a energia com que ele interpreta canções, como Jimmy Mack. Difícil não estalar os dedos.
A voz perdeu um pouco do vigor e está anasalada demais em certas faixas. Depois de um par de audições, a gente se reacostuma, porém.
A pergunta que fica, no entanto, é: pra que tudo isso se já há os originais, tão bons a ponto de Collins nem querer mexer neles? Embora bem produzido, o álbum dá a sensação de não passar de terapia de regressão para um homem maduro e deprimido, em busca de um tempo que não pode voltar.
Para Collins, Going Back funcionou como ferramenta terapêutica. Resta saber se os ouvintes necessitam desse tratamento.
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