Satyricon: mantendo a chama acesa sob o frio norueguês
Resenha - Deep Calleth Upon Deep - Satyricon
Por Francisco Silva Júnior
Postado em 14 de janeiro de 2018
Nota: 9
Quatro anos após lançar um álbum pouco inspirado, melancólico e até cansativo, a banda SATYRICON (que na verdade é um duo) retorna com um álbum grandioso. O novo álbum da banda, "Deep Calleth Upon Deep", é sem dúvidas um dos melhores de sua carreira. Nele, a banda apresenta uma grande variedade de riffs, melodias marcantes e substitui a melancolia do álbum anterior por energia, tensão e emoção.
Quando a capa foi divulgada, ela não trouxe muita empolgação aos fãs. Muitos acharam simples demais (branca?), sem graça. Mas ela é na verdade uma obra feita em 1899 pelo artista norueguês Edvard Munch e se chama "Death's Kiss". Pelas entrevistas dadas por Satyr recentemente, cheguei a pensar que este será o último álbum de estúdio da banda. A capa pode estar nos dizendo isso? Espero que não. Esteticamente, eu prefiro a capa de "Satyricon" (2013). Mas vamos ao que interessa...
A banda, que reconstruiu seu som após o clássico "Nemesis Divina" de 1996, vem investindo pesado no "black 'n' roll" desde o álbum "Volcano", de 2002. A essência continua sendo black metal, basta ler as letras das músicas, mas toda a rispidez e agressividade típicas do black metal se transformaram num rock direto, repleto de riffs, de construção simples, mas de muita energia. Apesar dos fãs mais radicais repetirem o tempo todo que a banda acabou em 1996, o SATYRICON continua sendo um grande nome do rock/metal mundial e o novo álbum mostra isso.
E falando dele, de cara percebemos a banda novamente apresentando um álbum com produção limpa. Todos os instrumentos são perfeitamente audíveis e tudo soa claro e limpo. As guitarras têm destaque absoluto no álbum, o que é ótimo para o som direto que a banda produz. Essa produção mais limpa já ocorreu no álbum anterior. Acho apenas que a bateria de Frost merecia um tratamento melhor, mas essa pode ser uma opção da banda... Se por um lado, a banda se distancia ainda mais da leve sujeira de álbuns como "Volcano" (2002) e "The Age of Nero" (2008), por outro é muito mais agradável ouvir um álbum com tantos riffs poderosos de maneira tão limpa.
Em relação às músicas, me arrisco a dizer que "Midnight Serpent", que abre o disco, é uma das melhores músicas feitas pela banda em toda a sua carreira. Temos tudo que o SATYRICON faz de melhor numa única faixa: ótimos riffs, letra pesada e obscura, melancolia, tensão e energia. Na minha opinião, a melhor do álbum. O refrão arrastado é o momento de destaque absoluto, para ser cantado a plenos pulmões nos shows. Ótima performance de Satyr, não apenas nessa música mas em todas as outras do álbum. A música alterna momentos de agressividade e tensão, que é uma característica que a banda explora muito bem em suas composições. "Midnight Serpent" estará presente em todos os shows da banda, daqui para frente, com certeza.
A segunda faixa, "Blood Cracks Open the Ground", é agressiva e um show de experimentalismo. Cheia de mudanças de andamento e nela o baterista Frost dá um show. Ele mostra que apesar de não estar entre os melhores do mundo, é competente e versátil naquilo que faz. Mais uma ótima música para a conta.
Na sequência temos "To Your Brethren in the Dark", que tem um ritmo mais cadenciado e melancólico. Mas o estilo vocal raivoso de Satyr deixa a música tão agressiva quanto as outras. A intenção aqui é realmente mostrar algo diferente das outras músicas do álbum. O resultado é muito bom.
A quarta música é a que dá título ao álbum. É mais uma música densa com muitas mudanças de andamento. Frost novamente faz um ótimo trabalho e o backing vocal do cantor de ópera Håkon Kornstad que acompanha Satyr deixa a música ainda mais obscura. Música de refrão simples, mas muito boa para os shows também.
"The Ghost of Rome" é a quinta música e é a que tem a introdução mais "alegre". É um rock básico, típico da banda. Bateria rápida, riffs diretos, refrão pesado, e a voz de Kornstad ao fundo. Música também muito bacana.
A sexta música se chama "Dissonant". Essa é a que menos me chamou atenção. Começa arrastada, depois acelera, depois freia e assim vai. Os elementos presentes nessa música já aparecem muito bem nas outras. Então ela não conta pontos a favor.
A penúltima música se chama "Black Wings and Withering Gloom". O que posso dizer sobre ela? Que riff fantástico! Que música fantástica! Esta é a música mais longa do álbum e começa com um riff para relembrar toda a melancolia, frieza e magia da obra das grandes bandas norueguesas de black metal. Obviamente estou falando de MAYHEM, EMPEROR, DARKTHRONE, IMMORTAL, etc. É uma música carregada de tensão, com momentos mais acelerados e outros mais calmos. Na minha opinião, a segunda melhor do álbum. Épica.
A música que fecha o álbum é "Burial Rite". Mais um rockão. Muitas partes praticamente faladas por Satyr. Boa música, mas sem grande destaque.
Ao chegarmos ao fim da audição do álbum, percebemos uma série de características que o SATYRICON explorou ao máximo em "Deep Calleth Upon Deep": muitas mudanças de andamento, uma variedade enorme de riffs, músicas mais vibrantes e menos introspectivas. Deu certo. A banda está mais madura e mesmo fazendo um som bem diferente do black metal ríspido e frio do início, continua extremamente relevante e inspirada.
Antes do lançamento, o vocalista Satyr disse que o álbum seria muito obscuro, muito espiritual e cheio de confiança e energia. Definição perfeita. Um dos grandes álbuns de 2017! Vida longa ao SATYRICON!
Website:
http://www.satyricon.no
Origem: Noruega
Lançamento: 22 de setembro de 2017
Selo: Napalm Records
Gênero: Black Metal
Formação:
Satyr - Vocais, guitarras, letras
Frost - Bateria
Tracklist:
1. Midnight Serpent
2. Blood Cracks Open the Ground
3. To Your Brethren in the Dark
4. Deep Calleth upon Deep
5. The Ghost of Rome
6. Dissonant
7. Black Wings and Withering Gloom
8. Burial Rite
Outras resenhas de Deep Calleth Upon Deep - Satyricon
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps