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Tedeschi Trucks Band: Um grande e grandioso álbum

Resenha - Let Me Get By - Tedeschi Trucks Band

Por André Espínola
Postado em 02 de fevereiro de 2016

Tedeschi Trucks Band é uma banda grande, de fato; a grandeza, porém, advém mais do número de integrantes do que necessariamente pelos seus feitos musicais: a banda, formada em 2010, em Jacksonville, na Flórida, que uniu as carreiras do casal Susan Tedeschi, cantora de blues e Derek Trucks, guitarrista de blues. Chegaram agora chega ao seu terceiro álbum de estúdio com o lançamento de Let Me Get By, é formada por doze membros fixos, já que o baixista de jazz Tim Lefebvre integrou permanentemente a banda (Tim foi o baixista da já icônica banda que gravou Blackstar, o último álbum de David Bowie). Os dois primeiros álbuns, Revelator, de 2011 e Made Up Mind, de 2013, foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público, que elogiaram bastante o som da banda, principalmente suas apresentações ao vivo, que mescla o rock com a riquíssima tradição da black music, ou roots music, como blues, gospel, soul e até mesmo funk. Em Let Me Get By, no entanto, lançado hoje, o casal Susan Tedeschi e Derek Trucks e seus demais dez companheiros levam a banda a outro patamar.

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O sucesso alcançado com Made Up Mind fez com que a banda fosse de vez pra estrada, apresentando-se mais de 200 vezes em 2014. Entre a correria dessa vida "on the road", eles se reuniram no Swamp Raga Studios, o estúdio caseiro do casal, e começaram gravar a banda tocando totalmente solta, improvisando em longas jams, cada um contribuindo com ideias, músicas, melodias, harmonias, etc. Iam novamente para a estrada e depois voltavam mais uma vez para o estúdio, tanto é que muitas das músicas de Let Me Get By foram tocadas em shows durante o ano de 2015, como mostra os vídeos do youtube. Bem, o resultado disso é o incrível Let Me Get By, um álbum extremamente colaborativo, o que pode ser facilmente notado na riqueza de cada uma das dez faixas presentes no disco. A maioria das músicas em Let Me Get By ultrapassa a barreira dos cinco minutos, fazendo com que os músicos tenham mais espaço para preencher e desenvolver suas ideias, cavando cada vez mais fundo na estrutura das músicas, de forma completamente confortável, confiante e relaxada. Conseguir a harmonia de uma banda de 12 membros não é coisa fácil. A voz de Susan Tedeschi é um brilho à parte, que somado aos corais estilo gospel, faz parecer que o sagrado e o secular são, na verdade, a mesma coisa.

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A faixa de abertura, "Anyhow", já trilha o caminho grandioso do restante do álbum, com Susan Tedeschi realizando uma das melhores performances vocais de todo álbum. A prova de que uma música de longa ligação realmente funciona, quando a banda realmente sabe o que fazer, é que após Susan dar seu show particular, os últimos minutos são destinados aos improvisos de solos de guitarra sensacionais de Derek Trucks. Liricamente, o álbum como um todo é bastante positivo, pra cima, o que casa muito bem com os ritmos dançantes da maioria das faixas. A faixa seguinte, "Laugh About It", aí se enquadra; diante das situações da vida, das pessoas querendo colocar você pra baixo, você escolhe escolher: chorar, cantar ou rir delas. Claro que nesses momentos de otimismo exacerbado, sobra espaço pra uns clichês aqui ou ali, como "life is what we made it". Tudo tranquilo, de boa. Afinal, esse som é para ser curtido mesmo. Em "Don’t Know What It Means", tem o ritmo mais funk, mas o que se destaca mesmo é o refrão irresistível, que faz você acompanhar batendo palmas e balançando a cabeça com os olhos fechados. A sessão de metais está sempre presente, preenchendo os espaços vazios e enriquecendo o universo sonoro, mas em alguns momentos se sobrepõe à guitarra de Derek e se soltam em solos empolgantes como no último minuto de "Don’t Know What It Means" e o solo de trompete no jazz de "Right On Time", que lembra um pouco Louis Armstrong. "Right On Time", inclusive, uma das melhores do disco, apresenta um dueto entre Mike Mattison e Susan Tedeshi muito bom, a voz meio que fraca, tensa e quase sombria de Mattison contrastando com a força e delicadeza da voz de Tedeschi.

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A faixa que dá título ao álbum, "Let Me Get By" é outro show à parte, quase como um culto religioso ao ar livre no meio de uma arena de rock. Gospel, blues, funk, soul e rock juntos e misturados. O teclado, que estava meio que apagado nas faixas anteriores, dá as caras agora. "Just As Strange" é mais simples e "limpa" que as outras, talvez por isso seja por elas totalmente eclipsada, mas ao menos mantém o ritmo fluindo. Já "Crying Over You / Swamp Raga For Hozapfel, Lefebvre, Flute And Harmonium", cantada por Mike Mattison, é outra mudança de direção, focada bem mais no soul; uma viagem quase épica e com uma melodia belíssima, além da variação musical que cada um dos músicos coloca aqui (principalmente o melhor solo de guitarra do álbum), o que faz valer os oito minutos de música, com os dois minutos finais cheios de sons orientais, tipo flautas e cítaras. Depois de deixar Mattison brincar um pouco, Susan Tedeschi volta com tudo na bela e melódica "Hear Me". O álbum caminha pro fim com o R&B de "I Want You", que parece feita sob encomenda para as pistas de dança, mas que do meio pro final vira numa jam-session estranha e sensacional. O desfecho vem com chave de ouro em "In Every Hear", mais um gospel-blues-soul incrível.

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Enfim, Let Me Get By consegue captar todo o potencial da grande banda Tedeschi Trucks Band, agora não somente grande apenas no número de integrantes, mas grande também pela música, recheada de maturidade, criatividade e profundidade. Um grande e grandioso álbum. Sem dúvida, "grande" é o adjetivo perfeito para Let Me Get By.

Let Me Get By:
1. Anyhow
2. Laugh About It
3. Don’t Know What It Means
4. Right On Time
5. Let Me Get By
6. Just As Strange*
7. Crying Over You
8. Hear Me*
9. I Want More*
10. In Every Heart

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Sobre André Espínola

André Espínola, recifense, estudante de História e apaixonado por música, quer levar um pouco de sua paixão para os outros, resenhando sobre novos lançamentos e pagando tributo aos clássicos e às nossas raízes musicais, sobretudo o Blues, Rock e Jazz, cuja missão básica é dizer aos quatro cantos: "a boa música nunca morrerá!". Possui o blog Filho do Blues, onde escreve e edita textos sobre as novidades musicais do mundo do rock, indie e blues.
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