Serú Girán: os 35 anos de uma obra-prima do rock argentino
Resenha - Bicicleta - Serú Girán
Por Malcom Fernandes
Postado em 11 de novembro de 2015
Em 1980, o rock argentino se mostrava em picos máximos de criatividade e popularidade. Bandas como Spinetta Jade, V8, Riff, Pastoral e Almendra (em reunião naqueles tempos depois de 10 anos separados) mostravam que estavam com tudo e colocando canções de visões inovadoras que mostravam duras críticas ao regime militar, iniciado em março de 1976 e que só acabaria três anos depois.
O Serú Girán, banda formada em fins de 1977 pelo gênio Charly García na voz, teclados e pianos, o ex-Pescado Rabioso e guitarrista David Lebón, o jovem baixista Pedro Aznar e o veterano baterista Oscar Moro com dois discos, o primeiro – que levava o nome da banda (1978) – com muitas críticas negativas e o segundo, intitulado "Grasa de Las Capitales" (1979) já aproximando mais a banda do público e já caindo no agrado com canções como a faixa-título, "Perro Andaluz", "Paranoia Y Soledad" com a voz de Aznar e "Canción de Hollywood" recheadas de referências que iam do progressivo ao jazz-fusion e também com uma pegada de rock experimental mais um pouco de referências à sonoridade pop.
Em junho 1980, a banda apresentaram no estádio Obras Sanitarias o show "Bicicleta", com um cenário inovador concebido por Renata Schusseim aonde bicicletas pairavam sobre nuvens e alguns elementos naturais complementavam o palco, o show veio a apresentar também o repertório do álbum, lançado há 35 anos em novembro.
Como no segundo disco, a banda era responsável pelos arranjos e também pela produção. Naquele ano, a banda deixava a Music Hall e formava com o empresário Daniel Grinberk o selo SG Discos, que valia o contrato deles até 1985, ano em que o selo se dissolveu após parceria com a Interdisc, hoje detentora dos direitos da SG. Sendo eles os pioneiros do mercado independente no rock argentino, García mais o baterista Moro, junto de Aznar e Lebón conceberam o disco de junho a outubro, a primeira fase teve no recém-aberto Del Cielito, cuja banda foi a primeira a ter gravado lá e depois foi trabalhado nos clássicos estúdios ION.
A capa conta com duas fotos de Jorge Fisbein, uma delas é a capa original do LP quanto a outra foi usada nas edições posteriores em CD. O encarte fica por conta de Schusseim e ilustrações que também fizeram parte do folder oficial dos shows do disco, um destes shows foi em La Rural, na capital Buenos Aires.
Faixa-a-faixa:
A Los Jóvenes de Ayer: com nove minutos e vinte e oito de duração, segundo Charly, "uma homenagem a (Astor) Piazzolla, o eterno jovem de ontem" e que pode ser dividido em quatro partes, as duas primeiras instrumentais com sequências de jazz-fusion e progressivo e uma parte totalmente cantada pelo próprio García relembrando a época de ouro da música argentina, citando a empresa SADAIC (empresa de direitos autorais, o ECAD dos argentinos) e o final têm uma sequência que já encerra de vez a canção.
Cuánto Tiempo Más Llevará: uma espécie de hit comercial do álbum, diga-se de passagem, esta balada pop com um pouco de fusion e de progressivo, tendo também um dos melhores momentos de Lebón na guitarra e na voz. A letra tem uma pegada bem suave, chega a nos trazer uma energia mais devagar e boa, por sinal. Nunca faltou no repertório dos shows solos do guitarrista atualmente, junto de "Seminare", "Parado En El Medio de la Vida" e .
Canción de Alicia En El País: "Foi o tema de verdade", relembrava Charly a respeito da música feita como crítica em cima do governo militar argentino e o próprio ainda teve como inspiração a capa do disco "Nursery Crime" (1971) da banda britânica de progressivo Genesis. A canção parece nos emocionar pelos versos, e se procurar melhor ler cada verso, tem um significado no que diz respeito as torturas e os crimes cometidos e buscando respostas sobre mortos e desaparecidos, que foi utilizado pelas mães da Praça de Maio. Foi a primeira música gravada nos lendários estúdios Del Cielito, inaugurado na época, de propriedade de Gustavo Gavury, técnico de som e que veio a fundar o selo que leva o nome do estúdio.
La Luna de Marzo: esta instrumental é a única faixa sem toda a banda fazendo o trabalho, já que foi composta e tocada pelo baixista Pedro Aznar e gravada em seu próprio estúdio caseiro. Carrega uma atmosfera viajante e tranquila ao mesmo tempo, movida a sintetizadores, baixo e um solo de guitarra que são um destaque por completo da música.
Mientras Miro Las Nuevas Olas: uma homenagem a uma geração que viveu na década de 1960, o famoso "Club del Clan" os primeiros anos do rock and roll, já de pegada bem pop rock, uma linha sonora bem da época. O vocalista relembra "falava sobre a Nueva Ola, que naquele tempo era a new-wave com as mesmas referências sonoras, só que com outros visuais, outras formas de fazer música". O final da música é pra ser digno: com o que sobrava, dava pra Lebón fazer um solo de guitarra impressionante e Moro acabar com as baquetas a partir de um minuto para terminar a música, deixando a gente sem reação mesmo.
Desarma Y Sangra: um dos melhores momentos do álbum e uma das melhores letras de Charly, com apenas piano e sintetizadores que nos fazem lembrar algumas canções doces demais. Poesia profunda, "Desarma Y Sangra" é algo que nos aproxima mais a música clássica pelas harmonias, dá pra dizer que é de emocionar.
Tema de Nayla: "Fiz a música pra minha filha na época", relembra o guitarrista Lebón. Com uma pegada mais profunda e já voltado para uma onda de progressivo e pop em certos momentos, a canção ainda acabou sofrendo um baque nas gravações: Charly não gravou a música, por não ter aceito a ideia do solo de piano elétrico Rhodes que encerrava a música e desta vez foi Diego Rapoport (1948-2011), então tecladista da Spinetta Jade que encerrou a canção com chave de ouro.
Encuentro Con El Diablo: muitos dizem que foi feita após um encontro de jovens com o presidente Videla, o que jamais ocorreu, pra falar a verdade. "Ela foi composta em 1978, em Búzios", relembra Lebón sobre uma das faixas que ficaram de fora do primeiro LP (1978). Já aproximando mais com uma pegada pop rock e de blues até, a canção ainda carrega naipe de metais e soando uma canção radial para aqueles tempos, o que não soa ruim, e encerrando de vez este clássico do Serú
Lista de faixas:
1 – A Los Jóvenes de Ayer (Charly García)
2 – Cuánto Tiempo Más Llevará (David Lebón)
3 – Canción de Alicia En El País (Charly García)
4 – La Luna de Marzo (Pedro Aznar)*
5 – Mientras Miro Las Nuevas Olas (Charly García)
6 – Desarma Y Sangra (Charly García)
7 – Tema de Nayla (David Lebón)
8 - Encuentro Con El Diablo (David Lebón/Charly García)
* música instrumental
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