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Fear Factory: Os 20 anos de "Demanufacture"

Resenha - Demanufacture - Fear Factory

Por David Torres
Postado em 23 de junho de 2015

Nesse ano, diversos trabalhos importantes da história da música pesada estão ficando mais velhos e dentro dessa leva de grandes registros, "Demanufacture", o segundo álbum de estúdio da banda californiana de Groove/Industrial Metal Fear Factory, completou o seu 20° aniversário.

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Como grande apreciador da banda e do álbum, não poderia deixar o aniversário dessa obra passar em branco. Produzido pelo experiente Colin Richardson, que já trabalhou com nomes como Machine Head, Sepultura, Kreator, Carcass e Napalm Death e lançado em 16 de junho de 1995, pela gravadora Roadrunner Records, "Demanufacture" é considerado por muitos como o ápice da carreira do grupo. A genialidade desse trabalho já começa em sua simples, porém bela e muito criativa arte de capa. É um álbum conceitual, inspirado no clássico longa metragem de ação e ficção científica "O Exterminador do Futuro" (1984) e as letras das composições possuem como tema principal a luta do homem contra um governo controlado pelas máquinas. Cada música representa um capítulo na vida do protagonista da história narrada pela banda, o que resulta numa experiência musical no mínimo interessante.

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O álbum abre com uma breve introdução sonora que em poucos segundos dá espaço para os pesadíssimos e "grooveados" "riffs" do talentoso guitarrista Dino Cazares. A faixa de abertura é nada mais, nada menos que a faixa título, "Demanufacture", e é uma tremenda forma de iniciar o disco, com seus "riffs" certeiros, linhas de baixo incisivas, bateria nervosa e os vocais perfeitamente agressivos de Burton C. Well, que agora canta menos urrado do que na época do excelente "Soul of a New Machine" (1992), contudo sempre mantendo um ótimo desempenho em seu posto. Bateria calibrada e palhetadas pesadíssimas marcam a entrada da segunda faixa, "Self Bias Resistor". Nessa segunda composição também não faltam "riffs" e mudanças de ritmo avassaladoras, intercaladas por grandes passagens vocais. O refrão é simplesmente hipnotizante.

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Sem perder a mão, a banda continua detonando na terceira música, "Zero Signal", que mais uma vez presenteia os nossos ouvidos com passagens instrumentais e vocais memoráveis. A composição se inicia com um "sample" extraído do filme "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final" (1991) e não demora para abrir caminho para os músicos implodirem as caixas de som. Burton transita os seus vocais com exímio, proporcionando alguns dos momentos mais interessantes da faixa. Aqui também contamos com a presença de um piano bem inserido no encerramento da canção. Uma curiosidade é que esse som também é trilha sonora de "Mortal Kombat", a primeira adaptação para o cinema do popular game desenvolvido pela Midway Games. O "groove" de "Replica" dá continuidade ao álbum. Não há muito que dizer sobre essa composição. É um dos maiores clássicos da trajetória da banda, possuindo o primeiro videoclipe promocional produzido pelo grupo, além de ser o primeiro "single" do disco. A banda incendeia e brinda a todos com um som potente, simples e extremamente eficiente. Destaque para o refrão, duro como uma rocha e incrivelmente grudento.

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Na sequência, temos "New Breed", mais uma porrada com "riffs" pesadíssimos, levadas mirabolantes de bateria e um vocal que casa perfeitamente com o som proposto. A próxima faixa, por sua vez, é uma releitura de uma canção da banda de Metal Experimental Head Of David, "Dog Day Sunrise". Esse também é segundo "single" do álbum, diga-se de passagem. O que temos aqui é um "cover" bem interessante e que consegue manter o clima do álbum facilmente, sem se distanciar da proposta musical da banda. Os músicos executaram um excelente trabalho e deram uma roupagem mais pesada para a canção, sem descaracterizá-la. Há também um fato inusitado envolvendo essa versão. O uso do órgão no "cover" foi inspirado por uma piada do vocalista Burton e do tecladista convidado Reynor Diego sobre o The Doors. Durante a pós-produção, Burton adicionou o órgão a música.

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"Riffs" balanceados, acompanhados por sons industriais ao fundo introduzem a ótima "Body Hammer", uma faixa que conta novamente com viradas incríveis de bateria e um peso descomunal. O refrão novamente se destaca e transmite o mesmo clima e atmosfera que os das músicas anteriores. Uma singela introdução sonora, acompanhada pela bateria de Raymond Herrera dá continuidade ao álbum com a oitava faixa, "Flashpoint". O "riffmaker" Dino Casares jamais decepciona e nos ensurdece com palhetadas insanas, acompanhadas por sons industriais bem encaixados. Outra pequena introdução se inicia e sem muita demora, os "riffs" portentosos de Casares entram em cena, apresentando "H-K (Hunter-Killer)". Mais uma grande faixa, dona de um "groove" absurdamente devastador.

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Igualmente deslumbrante, "Pisschrist" se inicia com outro "sample" retirado de "O Exterminador do Futuro 2". A faixa segue o mesmo molde das anteriores, porém os integrantes da banda executam tudo com precisão e "feeling". O clímax, de longe, é o final da faixa, com os versos que são repetidos com naturalidade por Burton. Aliás, um detalhe importante de ser mencionado é que o baixista Christian Olde Wolbers apenas entrou para a banda quando o disco já havia sido gravado, entretanto, segundo uma declaração dada por ele, teve uma pequena contribuição nessa música e na faixa título. Climática e completamente surreal, "A Therapy for Pain" é a décima primeira faixa do álbum e também a última. Curiosamente, a canção era inicialmente a abertura de "Echoes of Innocence", faixa presente na "demo" não realizada, "Concrete" (1991). É a faixa mais cadenciada e atmosférica de todo o disco, com interessantes e hipnotizantes passagens vocais e instrumentais. Uma maneira brilhante de encerrar esse grande trabalho de estúdio.

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Anos depois, "Demanufacture" foi relançado, ganhando artes de capas diferenciadas e faixas bônus, que incluem o ótimo "cover" de "Your Mistake", da banda de Hardcore / Crossover Thrash Agnotisc Front, a rápida e excelente "¡Resistancia!", a pesadíssima "Concreto", "Manic Cure", além de versões mixadas e alternativas de "New Breed" e "Flashpoint". Sucintamente, "Demanufacture" é dos muitos grandes álbuns gravados durante a tão criticada década de noventa, provando mais uma vez que o Metal concebeu excelentes e importantes obras nesse período. É uma obra simples, direta e sem firulas, recheada de "feeling" e criatividade em cada composição. Um trabalho que merece ser conferido por todos, sem qualquer preconceito.

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Escrito por David Torres

01. Demanufacture
02. Self Bias Resistor
03. Zero Signal
04. Replica
05. New Breed
06. Dog Day Sunrise ("Cover" de Head of David)
07. Body Hammer
08. Flashpoint
09. H-K (Hunter-Killer)
10. Pisschrist
11. A Therapy for Pain

Burton C. Bell (Vocal / Teclado)
Dino Cazares (Guitarra / Baixo)
Raymond Herrera (Bateria)

Músicos Convidados:
Reynor Diego (Teclado)
Rhys Fulber (Teclado)

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Sobre David Torres

Formado em Propaganda & Marketing, se autodenomina "Fanfarrão" graças ao seu senso de humor e modo de enxergar o mundo à sua volta. Apaixonado por filmes de terror, quadrinhos e bandas como D.R.I., Faith No More e Napalm Death, escreve também para o blog Blasting Noise Fanzine. Possui muitos sonhos, dentre eles dar início a um projeto de grindcore.
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