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Rush: Dê uma chance a "Snakes & Arrows"

Resenha - Snakes & Arrows - Rush

Por Giales Pontes
Postado em 26 de novembro de 2014

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

‘Snakes & Arrows’ (2007), álbum do Rush ao qual coube a ingrata missão de desfazer a impressão ruim deixada por ‘Vapor Trails’(2002), como tal, acabou sendo mais um item na discografia da banda a ser injustamente achincalhado pela crítica e por muitos fãs. Ainda que tenha logrado êxito ao atingir a 3º posição no Top 200 da Billboard, nem isso serviu como argumento para mudar a opinião de alguns, que não conseguiram digerir a veia mais folk apresentada pelo power-trio canadense.

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À você que ainda não ouviu esse álbum, mas conhece boa parte da discografia da banda: esqueça álbuns como ‘Hemispheres’, ‘Fly By Night’, ‘2112’ ou ‘A Farewell To Kings’. Estes álbuns são clássicos eternos e definitivos, e seria uma tremenda injustiça querer comparar ‘Snakes & Arrows’ com eles. Por isso, não tentemos "dar murros em ponta de faca" aqui. Tenha em mente que está ouvindo um álbum moderno e que tenta, ainda que sem tanto êxito, dar um sopro de ar fresco no já mofado rock progressivo. Feito isso, sua mente estará limpa para curtir esse trabalho.

A primeira música ‘Far Cry’ começa com um riff interessante, e a seguir Geddy se destaca com o baixão quase solando antes de entrar cantando os primeiros versos. O cara já não é mais garoto, o que torna compreensível o fato de sua voz hoje em dia soar bem mais grave do que antigamente. Pois se um dia Geddy já teve o seu gogó comparado a um violino, digamos que hoje ele está mais próximo de um violoncelo. E isso não é demérito nenhum! ‘Armor & Sword’ tem uma ótima introdução melódica, lembrando de leve aquela atmosfera que a banda criou em ‘Counterparts’(1993). As guitarras são muito boas nessa música, embora soem um pouco confusas em certos momentos.

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O início de ‘Workin’ Them Angels’ tambem é bastante agradável, e a exemplo de muitas das músicas desse álbum, aqui a banda se utiliza bastante dos violões. O solo de Alex usando um mandolin, lembra bastante o que ele já havia feito em ‘Half The World’ do álbum ‘Test For Echo’(1996). Mas apesar das nuances folk, aqui são as guitarras graves que predominam. ‘The Larger Bowl’ é uma das minhas favoritas, e eu nem sei explicar muito bem o porque. Pois embora eu curta muito mais as guitarras pesadas, esta música é mais uma das faixas recheadas de violões.

A faixa seguinte, ‘Spindrift’, não me emocionou muito na época em que comprei o álbum, mas após um tempo pude compreender melhor seus pormenores sonoros, concluindo tratar-se de uma grande canção. O baixo fala alto, e às vezes soterra um pouco a clareza das guitarras. A parte mais interessante é o solo "atmosférico" com o qual Alex nos brinda lá pela metade da música.

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‘The Main Monkey Business’ é uma interessante instrumental, bastante climática, misturando guitarras distorcidas e violões. As levadas da batera de Peart são bastante técnicas nessa música. E Alex Lifeson "quebra tudo" com riffs majestosos e um belo solo melódico, daqueles que a gente escuta e já sabe que se trata de Alex Lifeson tocando.

‘The Way The Wind Blows’ inicia com Peart rufando seus tambores ao fundo. Alex manda um belíssimo solo blues, para depois cair em um riff avassalador. O mais interessante é o contraste entre o refrão (bem melodioso e acústico) com a parte inicial da música (bem mais roqueira). Em tempo, mais para o final, Alex detona novamente seu solo "estradeiro", carimbando a canção com o selo Rush de qualidade.

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A instrumental ‘Hope’, tocada apenas com violão e viola, é para mim a única coisa realmente dispensável nesse CD. Musiquinha enfadonha, sem nenhum atrativo melódico, pouco inspirada, e que mais parece uma daquelas modas de viola caipira tocadas por algum violeiro amador muito ruim.

O que não é o caso de ‘Faithless’! Alex invade as caixas de som com riffs magníficos! A banda vai na cola dele, com Geddy cantando maravilhosamente "I've got my own moral compass to steer by. A guiding star beats a spirit in the sky", uma linha melódica emocionante. A letra fala sobre seguir sua própria consciência e ter o amor como única crença real para a vida. Muito provavelmente esta é uma das letras que Peart compôs baseado em sua tragédia pessoal, quando no fim dos anos 90, enfrentou a morte de sua filha e de sua esposa num espaço de menos de um ano.

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‘Bravest Face’ foi a que conquistou meu coração. Ela inicia com Alex palhetando a guitarra de forma simples, mas produzindo um som quase soturno, uma passagem breve que logo encontra o resto da banda junto com o primeiro verso entoado por Geddy. Em seguida Alex está de volta, porem com uma passagem completamente maluca ao violão, seguindo uma progressão estranhíssima, mas ainda assim muito cativante. No lindíssimo refrão, Geddy canta "Por isso você deve se levantar e assumir sua face corajosa. Assuma sua face corajosa."

‘Good News First’ também tem boas guitarras melódicas, refrão muito bom e um solo de guitarra belíssimo, sem falar na letra, que também é muito interessante.

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E mais uma instrumental (a terceira do álbum!) surge com ‘Malignant Narcissism’. Aqui as guitarras de Alex falam alto. Na bateria Peart barbariza, tal e qual como faz em ‘The Main Monkey Business’. Interessante notar que ao contrário desta última, em ‘Malignant’ Alex Lifeson optou por não incluir um solo. Portanto aqui quem manda são os riffs pesados e distorcidos, devidamente apoiados pelo peso grave do baixo "Geddyliano", que vez ou outra rouba a cena, como acontece muito nos álbuns do Rush. ‘We Hold On’ é um simpático rock and roll, meio pop/alternativo, mas muito legal. E cumpre muito bem o seu papel de encerramento do álbum.

Então, caro leitor, dê uma chance a ‘Snakes & Arrows’. Aliás, dê muitas, pois ele não é um álbum de fácil assimilação. E não é meeesmo! Mas se você conseguir abster-se dos pré-conceitos seguindo minha sugestão lá do início do texto, vai descobrir um Rush maduro, investindo na música em si, esquecendo um pouco da soberba técnica progressiva, e com isso, produzindo músicas interessantíssimas, cheias de detalhes que vão conquistando o ouvinte aos poucos. That’s rush, baby!

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Line-up:

Geddy Lee (Vocal/Baixo/Sintetizadores/Mellotron)
Alex Lifeson (Guitarras/Violões/Mandolin/Bouzuki)
Neil Peart (Bateria/Percussão)

Track-list:

1 . Far Cry
2 . Armor And Sword
3 . Workin’ Them Angels
4 . The Larger Bowl
5 . Spindrift
6 . The Main Monkey Business
7 . The Way The Wind Blows
8 . Hope
9 . Faithless
10. Bravest Face
11. Good News First
12. Malignant Narcissism
13. We Hold On

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