Coldplay: É preciso paciência para este álbum sonolento
Resenha - Ghost Stories - Coldplay
Por Victor de Andrade Lopes
Fonte: Sinfonia de Ideias
Postado em 22 de maio de 2014
Nota: 5
Três anos após o sucesso de crítica e vendas Mylo Xyloto, o Coldplay lança Ghost Stories, álbum conceitual que narra a história de um homem em crise que vive diversas emoções diferentes até finalmente aceitar a situação em que se encontra - um enredo parcialmente inspirado pela relação conturbada do vocalista, pianista e violonista Chris Martin com a atriz Gwyneth Paltrow. É uma proposta ambiciosa, que a banda conseguiu entregar à sua maneira - mas o fã do quarteto precisa estar com o ouvido preparado para uma forte guinada no som do grupo.
Lembram daquele Coldplay marcado por pianos, cordas, sintetizadores e altas doses de emoção em sua música, produzindo faixas que iam da melancolia ao estado de êxtase em menos de cinco minutos? Bem, ficou no passado. Essencialmente, o disco é sonolento de tão leve. O fã precisa ser fã mesmo, de carteirinha, para apreciar isto. Porque, de Coldplay, este disco não tem quase nada, exceto o descomprometimento com estilos musicais. A única faixa que não dá sono e que recupera a energia positiva das músicas típicas da fase anterior do quarteto é "A Sky Full of Stars", na qual a banda se entrega de vez ao dance.
Aliás, que banda? Estou até agora procurando sinais da bateria de Will Champion - ou ele realmente se resume a essas batidas eletrônicas que qualquer software básico sintetiza com alguns cliques? O guitarrista Jonny Buckland, então, nem parece ter colocado os pés no estúdio. Mal se ouve o piano de Chris Martin, marca registrada do quarteto. Os membros sequer levam os créditos por seus instrumentos - são todos identificados como "produtores" no encarte do disco, como num trabalho de música pop/eletrônica. Admitem, assim, que seus instrumentos foram todos diluídos em uma insossa massa eletrônica.
Que fique bem claro: não é errado uma banda mudar de direção e explorar novos sons. Muito pelo contrário, é saudável, e sempre foi o caminho do Colplay. O problema é quando se deixa até a própria identidade para fazê-lo. O Coldplay, seja no Parachutes, seja no Mylo Xyloto, nunca deixou de fazer músicas densas e emotivas o suficiente para a alma ser tocada e o corpo se arrepiar. Esta tradição foi quebrada em Ghost Stories. Ou deveríamos chamá-lo de Bedtime Stories?
Todos os pontos ganhos com o conceito inteligente do álbum são perdidos na sonolência e aparente falta de empenho instrumental (e até vocal). Nem vale a pena entrar no mérito de o Coldplay ser ou não uma banda de rock - se eles largaram o estilo, isto não os desmerece. A questão é: até que ponto uma banda consegue ir sem deixar parte dos fãs para trás?
Abaixo, o vídeo de "Midnight":
Track-list:
1. "Always in My Head"
2. "Magic"
3. "Ink"
4. "True Love"
5. "Midnight"
6. "Another's Arms"
7. "Oceans"
8. "A Sky Full of Stars"
9. "O"
Outras resenhas de Ghost Stories - Coldplay
Siga e receba novidades do Whiplash.Net:
Novidades por WhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps