Redemption: Metal Progressivo de primeira
Resenha - Redemption - Origins of Ruin
Por MATHEUS BERNARDES FERREIRA
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The Suffocating Silence é uma esplêndida faixa de abertura. Riffs matadores e vocal perfeito são o cartão de visita da banda, que possui refrão grudento daqueles que não saem da cabeça. A música toda é cheia de efeitos de teclado, inclusive um suntuoso solo logo após o primeiro refrão. Os versos são ótimos, principalmente a espetacular ponte para o segundo refrão. No final da música temos uma exibição instrumental de pura técnica e virtuosismo. A música tem uma evolução perfeita, uma aula de como compor um intenso e arrebatador metal progressivo.
O ritmo dá uma freada em Bleed Me Dry, onde a inspirada linha de baixo a rouba os holofotes. Demasiadamente cadenciada, ela chega a ser irritante de tão amarrada. A música não engrena, os refrões não empolgam, o vocal lamuriante se torna enjoativo e a música toda sofre por sua contaminação letárgica. Salva-se apenas a boa passagem instrumental após o segundo refrão, o que é muito pouco comparado ao que ouvimos na abertura.
Death Of The Faith And Reason é uma música sombria, rápida e a mais pesada do álbum, com riffs que muito lembram o thrash metal dos suecos do Nevermore. Felizmente é a agressiva voz de Ray Alder que se apresenta e não o da sueca loira cabeluda. Gostei muito do trabalho de bateria aqui, que assume o papel de adicionar diversos efeitos a cada mudança de riff, papel esse comumente assumido pelos teclados. A música é intensa do começo ao fim e evolui muito pouco. É pra quem gosta de thrash sem firula.
Mesmo para quem não tem predileção para músicas muito cadenciadas, Memory é obrigatória. Não subestime sua lenta introdução, essa faixa esconde uma das melhores composições de contrabaixo ouvidas em um álbum de metal. Os vocais estão perfeitos e, juntos com os teclados e piano, proporcionam sensação de inigualável melancolia e beleza. Os estranhos riffs de guitarra e a batida errada da bateria fazem uma sinistra contraposição à melodia. Durante os trechos que se ouve apenas a bateria e o contrabaixo, ouve-se umas ‘raspadas’ nas cordas do baixo, ou quiçá como é feito aquilo, que produzem um efeito assustadoramente hipnótico. É música para se ouvir dez vezes seguida sem se desprender dela.
Depois da melhor música do álbum vem a pior da discografia, The Origins Of Ruin. O que esses caras tinham na cabeça ao comporem essa nulidade sorumbática em formato de versos de piano e voz? Para Ray Alder interpretar uma ode ao sofrimento e agonia, certamente deve ter ocorrido algum acontecimento nefasto na história que o álbum conta, portanto, vale somente pela ambientação da história. É gratificante o fato da música ser curta e que pouco atrapalha o andamento do disco.
Man of Glass é uma música simples e eficiente, com pegada rápida, riffs com boa desenvoltura e ótima presença do contrabaixo. Os pontos baixos da música são os dois primeiros refrões que quebram o ritmo da música e o solo de guitarra que parece vago e simples demais para o padrão Van Dyk.
Blind My Eyes começa muito lenta e sugere uma reprise da faixa The Origins of Ruin, o que é um péssimo sinal. Então entra uma guitarra discreta e um teclado bombástico para comporem um refrão exageradamente emotivo. Daí pra frente a música pega e a energia da banda volta com força máxima. O segundo refrão soa mais emotivo ainda, mas agora contextualizado na progressão. Então Van Dyk surpreende com o melhor solo de guitarra do álbum, simples e profundo. Espetacular. Segue ótimas passagens instrumentais com uma parada no ritmo para apresentação de um solo de teclado com sonoridade a lá Andromeda, e então a música fecha com outro refrão de pura energia.
Pouco mais de um minuto de pegada enérgica com direito a solos de guitarra, teclado e contrabaixo abrem Use To Be. A música acalma para um drum n’ bass que será a base de uma impetuosa progressão. O vocal de Alder está acima da média aqui. O refrão tem um riff vibrante e ficou primoroso com a sobreposição do teclado. Mais primoroso ainda é o primeiro solo de Van Dyk, ao melhor de seu estilo. A passagem instrumental que segue tem uma batida toda errada, um solo de guitarra hipnótico e ótima pegada no contrabaixo, tudo novamente fazendo referência a banda Andromeda, mais especificamente a música Extension of the Wish. Excelente música.
A longa Fall On You abre com dedilhados acústicos e versos sonolentos, mas não tarda a acordar. A batida errada soma-se a um riff não muito inspirado, e as melodias soam bastante repetitivas. Temos boas passagens instrumentais, mas nada sobrenatural. Depois de tantas boas música, Fall on you não faz justiça ao fazer o fechamento desse excelente álbum.
O amadurecimento da banda é evidente, tanto em termos de performances individuais quanto coletivas. A fórmula de composição das músicas é clara da primeira à última faixa: instrumental complexo com o vocal servindo de porto seguro. Basicamente Nick Van Dyke compôs um álbum onde suas guitarras e teclados são exageradamente dominantes, com méritos, e que beirariam a cacofonia se não fosse pela segurança que o vocal de Ray Alder transmite. Pelo histórico de Ray Alder no Fate’s Warning, era de se esperar altos agudos e efeitos de voz diversos, mas isso não está presente aqui. Ray Alder soa acomodado, domado, não sai do tom e o resultado final valeu pelo sacrifício. O contrabaixo de Sean Andrews contribui na composição muito mais do que atrapalha, e poderia ter tido maior destaque na mixagem. Chris Quirarte tem seus momentos, principalmente em Memory, mas, de modo geral, tem participação um tanto discreta.
O álbum tem seus altos e baixos, inclusive variações dentro das próprias músicas. Algumas faixas que a princípio se demonstram sonolentas nos surpreendem com passagens espetaculares (4, 7, 8). Também estão presentes músicas mais diretas e acessíveis que devem agradar à primeira ouvida (1,3,6). The Origins of Ruin é um prog metal difícil de entrar, mas ainda mais difícil de se largar. Uma vez dentro dele, o álbum te contagia, característica típica das músicas do gênero. Recomendado para os fãs de prog metal que admiram álbuns que aliam técnica virtuosa sem abrir mão de belas melodias e uma incrível pegada enérgica.
Redemption
The Origins of Ruin, 2007
Prog Metal (EUA)
Lista de músicas:
The Suffocating Silence (6:37)
Bleed Me Dry (6:55)
The Death of Faith & Reason (4:51)
Memory (9:30)
The Origins of Ruin (2:47)
Man of Glass (5:05)
Blind My Eyes (5:55)
Used to Be (6:08)
Fall on You (9:24)
Tempo total: 57:12
Músicos:
Ray Alder / vocal
Nick van Dyk / guitarras, teclados
Bernie Versailles / guitarras
Sean Andrews / contrabaixo
Chris Quirarte /bateria