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Steve Harris: suas influências setentistas e oitentistas

Resenha - British Lion - Steve Harris

Por Gustavo J. S. Santos
Postado em 28 de setembro de 2012

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

Enfim foi lançado o tão aguardado por muitos British Lion, este o primeiro trabalho solo de Steve Harris – baixista, fundador, e líder do Iron Maiden. E é bem verdade que a notícia de que o músico lançaria um disco solo pegou muita gente, senão todo mundo, de surpresa e com a mesma pergunta na cabeça: "Mas o Iron Maiden não sempre foi o grande 'trabalho solo' de Steve Harris?". Ledo engano!

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Embora óbvio, o músico sempre disse que o trabalho não teria muitas sombras da donzela. No entanto, o que eu esperava, dada a tendência levemente progressiva de alguns trabalhos mais recentes do Maiden, é que teríamos um disco desta natureza saindo do forno, com todas as doses de progressivo que Steve Harris não pode incluir em sua banda principal - e não pode mesmo!

Peeenn!! Outro engano. Em entrevista, Steve disse que embora muitas pessoas esperassem por algo progressivo, estaríamos por ver um disco baseado em suas influências setentistas e oitentistas, rock mainstream em detrimento de heavy metal. Daí passamos a primeira audição do material e começa-se a perceber que na verdade não deveríamos ter esperado nada. Deveríamos deixar Steve Harris nos surpreender, porque foi isso o que aconteceu. O nome do músico, protegido e, por que não, sombreado pelo grande Iron Maiden nos faz esperar muito de um disco absolutamente descompromissado, mas igualmente bom!

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O som está mais bem trabalhado em estúdio do que eu imaginava, porque lá vinha eu esperando um disco mais cru, mas o fato é que ele passa a léguas de distância do rótulo Heavy Metal. E começamos com "This is My God", faixa de abertura, muito boa, e com o baixo pulsante de Steve. Isso sim era previsível e, confesso, agradável. As linhas são lindas. Mas o que de fato causou um primeiro impacto negativo foi o vocal de Richard Taylor, com baixa extensão e muito pouco marcante. Coisas de quem esperava um trabalho de voz mais condizente com a tendência de trabalhos dessa natureza, ríspido, agressivo, grande. Mas como disse, é um trabalho pra ser analisado sem compromissos com estilos e tendências. Por isso fiquei tão animado com o disco. Pela primeira vez em muito tempo estava diante de um material de que não fazia ideia do que esperar!

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Em "Lost Worlds" temos uma baixa, um som de certo modo insosso e de muita extensão, ela cansa. Os riffs do início têm mais peso, e de fato pediam por um vocal que entrasse em sintonia com eles. A música tem um bom refrão, mas a parte final acústica é muito extensa e repetitiva, e cansa.

A terceira faixa é a excelente "Karma Killer". Confesso que é a mais próxima do que eu esperava, com uma linha de baixo muito bem marcada, e com uma sequência melódica que cresce bem até o refrão e acerta. Aqui o trabalho do vocalista foi acertado, e o disco começa a definitivamente te convencer faixa a faixa de que vai ser ouvido muitas vezes. Mas se me permitem um comentário a parte, embora reforçando que a coisa quase toda funciona como se não existisse um Iron Maiden no mundo, essa música ficaria maravilhosa na voz de Bruce Dickinson!

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Quem erroneamente esperava qualquer proximidade com o som da donzela de ferro encontra um alívio em "Us Against the World". Algumas partes são de fato muito parecidas com o som da banda. A faixa é excelente, forte, e facilmente digerível para apresentações ao vivo em que todos cantam o refrão. Mas é nele, o refrão, que mais uma vez Richard Taylor decepciona, e ele segue nessa sequencia de bons acertos e alguns erros até o fim do disco, o que me leva a uma pergunta: Será que não era mesmo intencional não chamar vistas para o vocal, visto o trabalho ser de Steve? É só uma conspiração barata, mas que cabe bem em alguns momentos do disco.

"The Chosen Ones" é um rock n' roll de primeira, dessa vez com um vocalista perfeitamente integrado ao som. A música é agradável e leve, assim como começa a seguinte "A World Without Heaven", que abre com a mesma boa sensação de estar ouvindo uma música do Journey. Aqui temos mais um pouquinho, só um pouquinho mesmo, de Iron Maiden quando depois dos 4:00 seguimos por uma atmosfera bem similar ao que encontramos depois dos 2:50 de "Bring Your Daughter to the Slaughter". Depois ela segue pra um solo de fato bonito que desemboca no final da faixa, que apesar de demorar pra acabar, agrada.

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A sétima faixa é "Judas", minha preferida. Qualquer coração heavy metal tem um momento de satisfação ao ouvir a faixa, que tem um refrão muito bonito pra ser cantado bem alto! A faixa segue excelente quando ela te surpreende aos 2:30. De fato pensei que tinha dado problema no som depois da passagem abrupta e sem rodeios para uma segunda parte acústica, bonita, e destoante da primeira. Daí ela cresce de novo termina com o mesmo belo refrão, com direito a headbanging. Palmas!

"Eyes of the Young" é uma música do Van Halen British Lion, que apresenta um hardão muito agradável. Mais uma que, assim como "The Chosen Ones", traz um Richard Taylor trabalhando muito bem. É bom ouvir o disco com atenção pra depois tecer comentários sobre o vocal. Ele acerta gloriosamente em muitos pontos. Ocorre apenas que em outros ele parece Brian May cantando "Starfleet" (um de seus trabalhos sem o Queen). Bom, mas sem a expressividade necessária.

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Em "These are the Hands", temos uma música que não acrescenta muito ao trabalho. Não é ruim, mas também não agrada, cômoda e com cara de que foi feita pra encher o disco. Depois da terceira audição é pulada sem dó pra próxima faixa.

O disco é encerrado com a balada "The Lesson". Eu dificilmente encerraria um disco com uma balada, mas apesar disso é boa, mas só boa, e visto a quase ausência de boas baladas no Maiden também, talvez esse definitivamente não seja o forte de Steve.

British Lion é um disco que deixa um saldo muito positivo para quem procura por boa música para apreciar, sem pretensões de classifica-lo em qualquer rótulo, e sem esperar uma epopeia do mestre Steve Harris. Novamente, é um disco sem compromisso que agrada na maior parte dos seus momentos, com uma banda absolutamente competente.

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Por fim, apesar de vermos neste disco um corajoso Steve Harris se arriscando num mundo musical sem a proteção do nome Iron Maiden, e em sons não antes vistos em sua carreira, finalizo aqui apenas com um questionamento em aberto: British Lion é uma banda pré-existente à entrada de Steve, e este inicialmente pegou o material para produzi-los e acabou por entrar definitivamente no grupo compondo, arranjando e produzindo. No entanto, o próprio baixista disse em entrevista que, num disco de dez faixas, seis foram compostas por outros membros que não ele. Assim, apesar de Steve compor um grupo consistente musicalmente, me passa pela cabeça uma dúvida. O fato de este disco de chamar STEVE HARRIS BRITISH LION não seria mais uma oportunidade de aproveitar o apelo e o reconhecimento do nome de Steve Harris no meio musical, do que efetivamente tratar-se de um disco dele? Sendo ou não, o disco é muito bom!

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Track List:
01- This Is My God
02- Lost Worlds
03- Karma Killer
04- Us Against The World
05- The Chosen Ones
06- A World Without Heaven
07- Judas
08- Eyes Of The Young
09- These Are The Hands
10- The Lesson

Line Up:
Steve Harris – Baixo
Richard Taylor – Vocal
David Hawkins – Guitarra
Graham Leslie – Guitarra
Simon Dawson - Bateria

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