Pink Floyd: Uma peça breve e direta de arte
Resenha - A Momentary Lapse Of Reason - Pink Floyd
Por Bruno Laporta
Postado em 18 de junho de 2012
Críticas de música são sempre relativas, depende de muita coisa, principalmente o período da história em que ela foi concebida, que o diga Bizet. Entretanto, falando de arte, esta sim é passível de discussão, sem dar ouvidos ao senso comum que proclama "gosto não se discute". O conceito de beleza e qualidade são mutáveis, assim como nossos critérios, baseados em novas ideias e evolução, ou revolução "A la Beatles".
Gosto muito de Pink Floyd, só que de uns tempos pra cá depois de inúmeras audições de todos os discos, somente um ainda me soa interessante e atual, "A Momentary Lapse Of Reason". Sempre fui fã de discos bastardos, lançados em meio problemas, bandas desmembradas, músicos brigados, e disputas judiciais ferrenhas, principalmente aqueles finais, que encerram uma era, esse também é o caso do "Momentary". Gosto dessas características porque maturidade vem junto com conflitos, e a arte se expressa melhor no caós e na tristeza do que na utopia.
O Pink Floyd ainda lançou mais um disco nos anos 90, The Division Bell, muito mais elogiado que o Momentary. Mas, a sonoridade deste é um pouco obsoleta, datada. Digo isso porque a bateria por exemplo, tem um som bem mais seco, que lembra os discos dos anos 70. Os solos também, soam como Wish you Were Here, o saxofone e os corais femininos parecem um lado B do Dark Side Of The Moon. As músicas Wearing The Inside Out e Keep Talking lembram esse disco. Se no Division Bell o Pink Floyd estava tentando resgatar essa sonoridade, no Momentary toda a tecnologia estava voltada para composição, fazer algo novo, que mesmo depois de anos ainda soaria assim, pois é uma evolução. O Pink Floyd não é uma banda de Rock Progressivo, que tem bases na matemática, fugas e madrigais da música clássica, e sim, uma banda essencialmente psicodélica, que, com o passar dos anos, e sua evidente maturação, seguiram nesse disco para um som atmosférico, sintético, grandioso, artificial e gelado.
Eu diria ainda que há nesse disco uma tendencia "Ethereal" que é um sub genero do Rock gótico, com composições que usam paisagens sonoras, grandes espaços vazios de eco, aonde guitarras e vozes "não necessariamente corais" se misturam formando uma neblina densa, que não é confusa, é branca ou azulada, sem muita poluição visual ou sonora. Diferentemente do Division Bell, esse disco não possui construções musicais óbvias, as músicas não seguem um padrão de solo, teclados, voz, refrão e fim. Tudo caminha de forma explosiva, e termina com vazios inesperados. O "climão" oitentista serviu para a volta das camadas e camadas de som atmosférico que é a maior característica do Floyd. Modernizada pelos elementos eletrônicos.
Some tudo isso a voz suave "de travesseiro" do David Gilmour, e as diversas nuances e camadas típicas de Richard Wright, que também canta embargadamente nos corais. Esse disco possui ainda renomados colaboradores, como o baixista Tony Levin, vindo da "essa sim" banda de Rock progressívo King Crimson. Bob Ezrin, produção e alguns teclados, trabalhou com Peter Gabriel, Lou Reed, Roberta Flack, Berlin, Aerosmith, Alice Cooper, Kansas. Patrick Leonard, um ícone dos sintetizadores, parceiro de Madonna, Bryan Ferry, Elton Jhon, Peter Cetera e Roger Waters. Jim Keltner, percursões, que trabalhou com John Lennon em seus álbuns solo... E John Helliwell, um dos saxofonistas, que era músico do Supertramp. E Jon Carin, também teclado, que trabalhou com The Who... E tem mais gente de peso. Ficaria bem maior a lista aqui. A ficha técnica pode ser encontrada na Wikipedia.
Para quem não conhece a banda, esse disco não conta com a participação de Roger Waters, baixista original, que estava em disputa com os outros membros do Floyd, problemas judiciais. E isso deixa esse disco ainda mais interessante, pois é o trabalho aonde a grande influencia das composições de Waters não constam como norte. O disco não parece tão conceitual por isso, e versa sobre o homem e seus sentimentos, de culpa a solidão.
Para terminar, gostaria de dizer que esse não é um disco Pop, apesar da banda o ser, e usar o single "Learn To Fly" nas rádios. O disco só tem 51 minutos, contra 66 de seu sucessor. O que faz dele uma peça breve e direta de arte. E não um amontoado de músicas para consumo emergêncial.
Ps: Como curiosidade, esse disco foi composto e primariamente gravado no barco de David Gilmour, Astoria.
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