U2: O primeiro trabalho a ter uma sonoridade coesa
Resenha - Unforgettable Fire - U2
Por Guilherme Mattar
Postado em 05 de fevereiro de 2012
O ano de 1983 foi muito bom para Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. O sucesso de War (primeiro álbum da banda a ser disco de ouro nos EUA e nº 1 no Reino Unido), lançado em fevereiro, possibilitou ao U2 um fato novo até então: aliar performances memoráveis ao vivo – marca registrada dos irlandeses – com boas vendagens. Mais tarde, em julho, o lançamento do álbum ao vivo Under a Blood Red Sky, gravado no anfiteatro Red Rocks, em Colorado (EUA), reiteraria a maré comercial boa, confirmando que o quarteto estava no caminho certo.
Seguir a trilha deixada pela batida seca e guitarra crua de War parecia ser a melhor opção. Mas o U2 ansiava por novos ares. Em 1984, com inédito respaldo financeiro, a banda resolveu experimentar. A intenção era deixar a aspereza anterior de lado e dar vazão a um som mais abstrato, vago. Para auxiliar na produção, foram chamados dois especialistas na área do som etéreo: Brian Eno e Daniel Lanois. Nascia assim um dos trabalhos mais interessantes de Bono e sua trupe: The Unforgettable Fire.
Gravado entre maio e agosto, com sessões realizadas em Slane Castle, Irlanda (onde a banda viveu por um tempo para encontrar inspiração), e lançado em outubro de 1984, The Unforgettable representou, na época, a mudança de direção musical mais drástica a qual o U2 se submeteu. O título da obra veio de uma exposição de arte japonesa a qual a banda foi ver em Chicago, sobre o bombardeamento de Hiroshima na 2ª Guerra Mundial.
O álbum começa com A Sort of Homecoming, onde a diferença em relação a War já é visível. A guitarra de Edge é atmosférica e não ocupa um primeiro plano, enquanto a "cozinha" de Adam e Larry mostra-se mais suave e balanceada, dando o tom do que está por vir.
Na seqüência, vem Pride (In The Name of Love). Claramente a canção mais radiofônica do album, Pride é uma homenagem à luta de Martim Luther King pelos direitos civis dos negros. Tornou-se o maior sucesso do U2 até então.
Em Wire, aparece pela primeira vez a temática do vício em heroína, retratado por Bono na letra. Com um riff de introdução repleto de harmônicos e delay (particularmente meu riff predileto feito pelo Edge), Wire é fortemente influenciada pela obra do Talking Heads. Contribuição de Brian Eno, que também os produzia.
Passada Wire, temos a faixa-título. Caracterizada por um belo arranjo de cordas providenciado por Noel Kelehan, a canção evoca imagens da exposição de Hiroshima na letra. Detalhe interessante é o emprego do e-bow por parte de Edge.
Na seqüência, Promenade. Aqui o destaque fica no jogo de palavras empregado por Bono, onde a sonoridade predomina em relação ao sentido. A influência de Van Morrison é rapidamente notada.
4th of July é a faixa instrumental de The Unforgettable Fire, e surgiu de forma não-planejada. Adam Clayton improvisava uma linha de baixo em um intervalo de gravação, e The Edge resolveu acompanhá-lo com algumas linhas de guitarra. Brian Eno gostou do som e resolveu gravar, sem os músicos perceberem. Em seguida, inseriu sequenciadores e pronto. Surgia uma nova canção.
O uso de seqüenciadores é marca registrada em Bad. Em um dos seus riffs mais conhecidos, The Edge brinca com o delay e preenche os espaços de forma impressionante. Destaque para o vício em heroína novamente retratado por Bono na letra e pelo impecável trabalho de Larry Mullen Jr na percussão.
Em Indian Summer Sky, o baixo de Adam rouba a cena. Outro ponto interessante está nos backing vocals a lá Talking Heads, em outra contribuição notável de Eno.
Elvis Presley and America remete à queda de Elvis no cenário musical. Basicamente, a canção se formou da desaceleração da faixa-base de A Sort of Homecoming, com Bono gravando os vocais em take único, logo na primeira tentativa.
Para fechar os trabalhos, aparece a segunda homenagem à Martim Luther King. MLK, minimalista, conta apenas com a voz de Bono evocando King em metáforas sonhadoras e sintetizadores preenchendo os espaços.
The Unforgettable Fire foi bem aceito no cenário musical. Entretanto, sofreu várias críticas pela natureza "inacabada" das canções. As letras eram vistas como esboços (o que o próprio Bono admite ser verdade, já que, até The Joshua Tree, o cantor tinha o costume de improvisar palavras ao microfone na hora de gravar). Apesar disso, The Unforgettable Fire foi visto como o primeiro trabalho do U2 a ter uma sonoridade coesa.
Muitas das canções, não tão bem aceitas nas versões de estúdio, viriam a se tornar estandartes nos shows. Bad, por exemplo, é a preferida de vários fãs ao vivo. Em 1985, no Live Aid, ela seria uma das responsáveis pela afirmação de Bono, The Edge, Adam e Larry na cena do rock. A performance do U2 (principalmente a de Bono, que desceu do palco e dançou com uma fã) no evento catapultou o quarteto ao sucesso, que seria confirmado com chave de ouro em 1987, com o lançamento da obra-prima The Joshua Tree.
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