Krisiun: "Great Execution" é o "South Of Heaven" deles
Resenha - Great Execution - Krisiun
Por Marcos Garcia
Postado em 24 de novembro de 2011
Nota: 10
A necessidade de reinventar o próprio estilo de tempos em tempos tem se mostrado um desafio enorme para todas as bandas de Metal, uma vez que a maioria das mesmas não consegue atingir a fórmula da eterna juventude que grupos como AC/DC e MOTORHEAD, cuja evolução, de tão pontual, é quase imperceptível aos mais desatentos. Há bandas que já caíram no ridículo por conta desse desafio, usando de fórmulas turbulentas e elementos tão díspares à sua sonoridade característica que acabaram comprometendo carreiras promissoras ou já bem estabelecidas, por mais que o próprio músico diga o contrário; outras tiveram experiências extremamente confusas, pois o equilíbrio personalidade-evolução é algo extremamente difícil de ser atingido. Mas há bandas corajosas e enfrentam este trabalho digno de Hércules de frente, sem medo, e fazem trabalhos marcantes e diferenciados. E o KRISIUN, um dos grandes nomes do Metal nacional atualmente, soube vencer o dilema, e o resultado é um dos melhores CDs deste ano, ‘The Great Execution’.
Desde o CD ‘AssassiNation’, a banda já dava claros inícios que iriam dar uma guinada sonora a qualquer momento (ou seja, não se pode acusar a banda de "traição", como provavelmente alguns fãs mais conservadores da fase antiga poderão fazê-lo), e parafraseando meu velho amigo André Delacroix (IMAGO MORTIS, D.A.D. e METALMORPHOSE), "o KRISIUN gravou o ‘South of Heaven’ deles. Finalmente e realmente pisaram no freio", e esta frase é a melhor definição possível para o CD: o velho estilo da banda reciclado e revigorado, mas em um formato um pouco mais cadenciado, sem tantos ‘blast beats’, mas o peso e brutalidade tão característicos da banda desde seu primeiro Split CD de 1993 ainda estão presentes, e sua técnica está ainda mais apurada e visível.
Falando da parte gráfica do CD, ela está perfeita como sempre, bem esmerada e conceituada com a proposta musical do trabalho. A produção sonora é muito esmerada, de uma limpeza absurda, mas ao mesmo tempo não mutila a personalidade musical do trio, pois mantém o peso e vitalidade da sonoridade do KRISIUN intocados.
Quando o fecho de laser toca o disquinho, temos logo de cara a faixa ‘The Will to Potency’ (cujo título é uma referência ao livro ‘A Vontade da Potência’, do filósofo alemão F. W. Nietzsche), onde a abertura acústica é uma contribuição de Marcello Caminha, variada, ora rápida, ora mais cadenciada, uma mostra do que o CD inteiro será, com belos riffs e solos (a melodia destes está bem mais apurada que antes, diga-se de passagem), bateria extremamente bem variada, e até mesmo os vocais estão trabalhados de maneira mais eficiente; assim como na seguinte, ‘Blood of the Lions’, que possui riffs de guitarra massivos, em uma escola bem ‘slayeriana’. A faixa ‘The Great Execution’, grandiosa e pomposa (guardadas as proporções do estilo, por favor), é cheia de alternâncias de andamentos e com técnica apurada, especialmente pelo excelente trabalho de bateria, e apesar do solo lembrar momentos antigos, está muito bem colocado, sem ser mero barulho despropositado que esconde a falta de ‘know-how’ do próprio instrumento.
‘Descending Abomination’ é uma faixa que inicia mais lenta, pesada e que tem um clima opressivo surpreendente, que em certos momentos trás à mente algumas referências ao ‘Seasons in the Abyss’ do SLAYER, sem ser mera cópia, e que ganha uma leve acelerada a partir de sua metade, o que não quebra a simetria da faixa, com mais um belo solo de guitarra, e retorna à cadência próxima ao fim. ‘The Extremist’ começa com uma sessão de ‘blast beats’ e riffs velozes, à moda antiga, mas logo dá espaço a variações de velocidade, ora extremamente rápidas, ora mais refreadas, e com algumas guitarras (bases e solos) que remetem à velha escola dos anos 70. ‘The Sword of Orion’ é mais uma música grandiosa (em todos os sentidos, já que chega aos 8 minutos de duração), de início bem arrastado, azedo e pesado, para logo virar um pandemônio de velocidade, mas sem perder peso e técnica, e depois, como antes, cair na alternância de andamentos, impedindo que a música se encaixe na categoria conhecida por "ponto comum" e se torne enjoativa ao ouvinte, inclusive existindo incursões de violas flamencas (outra participação de Marcello Caminha) em meio à massa sonora bruta, sendo que os elementos principais desta são predominantes em ‘Violentia Gladiatore’, outra ótima música, outro espetáculo da cozinha rítmica, dos vocais bem postados e bem feitos, e das guitarras.
‘Rise and Confront’ é uma daquelas faixas cujo andamento fica no meio-termo entre velocidade e cadência um bom tempo, exceto por alguns ‘inserts’ aqui e ali de ‘blast beats’ e andamentos acelerados. Uma surpresa surge com ‘Extinção em Massa’, cantada em português e que, apesar da velocidade e brutalidade características do Death Metal, tem um jeitão bem Crossover à lá RDP, graças à participação especial de João Gordo.
Fechando com maestria o CD, temos ‘Shadows of Betrayal’, mais uma faixa longa (8:38 de duração), bem trampada em suas mudanças de andamento, inclusive com alguns momentos com guitarras ‘dobradas’ (técnica comum aos fãs de IRON MAIDEN, JUDAS PRIEST, HELLOWEEN e outras bandas de Metal Tradicional que possuem dois guitarristas em suas formações), a bateria abusando na técnica e no peso, o baixo bem presente e os vocais agressivos de sempre temperando tudo muito bem, inclusive com momentos quase que sussurrados, mas o que as guitarras fazem em bases e solos é de qualidade quase indescritível. E pasmem: todas as alternâncias no CD são tão bem colocadas que em nenhuma faixa deixa-se de perceber que a música do KRISIUN é extremamente compacta.
Um CD altamente recomendado para fãs de Metal mais extremado (ou seja, do Thrash Metal ao mais extremo possível que possam conceber) de uma banda que, pelo andar da carruagem, ainda tem muita lenha para queimar...
Tracklist:
01. The Will to Potency
02. Blood of Lions
03. The Great Execution
04. Descending Abominations
05. The Extremist
06. The Sword of Orion
07. Violentia Gladiatore
08. Rise and Confront
09. Extinção em Massa
10. Shadow of Betrayal
Line Up.
Alex Camargo – Baixo e vocais
Moysés Lolesne – Guitarras
Max Kolesne – Bateria
João Gordo – Vocais em ‘Extinção em Massa’
Marcell Caminha – Guitarras acústicas em ‘The Will to Potency’ e ‘The Sword of Orion’
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