Smiths: um dos grandes representantes da década de 80?
Resenha - Queen Is Dead - Smiths
Por Elias Rodigues Emidio.
Postado em 11 de setembro de 2010
Os anos 60 foram indubitavelmente dominados pelos Beatles. Nos anos 70 Pink Floyd e Led Zeppelin disputavam as primeiras posições nas paradas de sucesso. É inquestionável a importância destas décadas para o Rock e até hoje elas se mostraram os períodos mais frutíferos em termos de qualidade musical. Mas e a década de 80? Quem poderia ser considerada o grande representante deste importante período histórico?
Para muitas pessoas a década de 80 representou um período de pastiche para o Rock, no qual novas bandas surgidas apenas se contentavam em reciclar a sonoridade musical das duas décadas anteriores. Entretanto, as pessoas que afirmam isto provavelmente se esquecem de que neste período surgiram artistas de muito sucesso que realmente reciclavam o Rock das décadas passadas, mas mantinham um estilo único, de modo que o Rock da década de 80 possui um conjunto de características particulares intrínsecas àquele período. Nessa década tivemos muitas figuras ilustres no cenário do Rock como: The Police, The Specials, New Order, Joy Division, Sonic Youth, U2 (na época sem todo esse messianismo de hoje em dia e com inspiração de sobra), o descomunal Echo & The Bunnymen, entre vários outros.
O objeto desta resenha é o disco que muitos consideram como sendo o melhor trabalho do grupo que é considerado o maior representante do Rock oitentista. "The Queen Is Dead" é o terceiro álbum da inglesa The Smiths lançado no ano de 1986.
"The Queen Is Dead" marca um amadurecimento musical dos Smiths em relação aos álbuns anteriores os não menos clássicos "The Smiths" de 1984 e "Meat Is Murder" de 1985. O vocalista Morrissey estava em uma fase muito inspirada como compositor e compôs letras maravilhosas (vale muito a pena dar uma conferida nas letras deste disco). Além disso, o guitarrista Johnny Mars deu uma grande elevada na sonoridade do grupo ao realizar um trabalho mais elaborado nas guitarras, abandonando definitivamente os arranjos mais simples dos primeiros discos da banda.
Não devemos também desmerecer a cozinha do The Smiths, a saber, o baixista Andrew Rourk e o baterista Mike Joyce, que realizaram um trabalho magnífico que embora apareça bem pouco durante a audição do disco formam a cama perfeita para as incríveis atuações de Morrissey e Mars.
O disco abre magistralmente com a faixa homônima que dá titulo ao álbum "The Queen Is Dead" de longe uma das grandes composições do disco como que um aviso ao ouvinte, "A rainha está morta" uma clara referência à decadência social da aristocracia britânica. A canção faz ferrenhas criticas a sociedade inglesa de seu período e possui uma introdução fantástica com um clima bem festivo que se torna mais sombrio à medida que os instrumentos e os vocais vão sendo "acrescentados" à canção. Em resumo: Um dos maiores clássicos do grupo.
Na sequência uma canção que mostra um lado mais desconhecido dos Smiths "Frankly Mr. Shankly" tem uma letra bem humorada e ao que parece autobiográfica, com criticas aos donos de gravadoras que faziam forte pressão sobre a banda pelo fato de Morrissey não gostar da produção de videoclipes musicais para a então recente emissora MTV. Uma canção que merece ser ouvida, apesar de não ser tão famosa quanto outras músicas do disco.
"I Knows It’s Over" possui uma melodia extremamente simples, o que dá maior ênfase a uma incrível interpretação de Morrissey. A canção ainda tem uma letra belíssima (na realidade uma de pedida de alguém para sua mãe) capaz de comover qualquer bom apreciador de boa música. Sem dúvidas, uma das maiores canções do disco.
"Never Had No One Ever" possui uma melodia mais lenta em relação a faixa anterior com um excelente trabalho nas guitarras e uma letra bem interessante nos contando a história de uma personagem que sofre com a questão da timidez, mais uma canção de cunho intimista escrita por Morrissey.
"Cemetry Gates" narra a história de amigos que para se divertir reúnem-se em cemitérios para discutir literatura, escrever poemas e ler livros. A letra da canção tem ainda fortes referências às acusações feitas por algumas pessoas de que Morrissey copiaria certos trechos das letras de suas músicas de outros artistas em mais uma composição bem humorada acompanhada por uma batida pop irresistível.
Aqui temos que dar uma pequena pausa pois na sequência do disco temos uma sucessão de clássicos eternizados pela banda que entra em qualquer coletânea dos anos 80 que se preze.
"Bigmouth Strikes Again" é na minha humilde opinião a melhor canção feita pelos Smiths. Com um trabalho primoroso da cozinha dos Smiths e um excepcional dueto de guitarras protagonizado por Mars e pelo músico de estúdio Craig Gannon. Além de uma das melhores composições de Morrissey que faz interessantes referências a histórica figura de Joana D’Arc e possui um sentido dúbio que dá vazão a várias interpretações (há dúvidas se o desbocado do qual a música se trata é o próprio Morrisey ou a então primeira ministra inglesa Margaret Thatcher) .
"The Boy With The Thorn In His Side" é outra composição inspiradíssima de Morrissey com um lirismo impressionante que nos convida a cantar a respeito da descrença das pessoas em relação aos sentimentos uma das outras. Com uma forte batida pop bem cara anos 80 é, sem duvidas, uma das melhores canções já feitas na história do Rock.
"Vicar In A Tutu" faz uma forte crítica à igreja ao descrever a hilária figura do padre que se veste com saiotes de bailarinas. É outra composição bem humorada de Morrissey com melodia igualmente descontraída e menos famosa que outras canções do disco, mas nem por isso menos essencial.
Dando sequência ao disco aquela que em minha humilde opinião é a segunda melhor canção já feita pelos Smiths. "There’s A Light Who Never Goes Out" tem uma letra magnífica escrita por Morrissey digna de gênio com um lirismo cativante e uma melodia igualmente emocionante tamanha a excelência alcançada pelos demais membros da banda.
Para fechar com chave de ouro "Some Girls Are Bigger Than Others" que possui a letra mais simples do disco, dando origem as mais diversas interpretações pessoais, e tem uma melodia incrivelmente pop, contrastando com a melancolia absoluta exalada pela canção anterior.
"The Queen Is Dead" é uma marco na história do Rock e influenciou praticamente tudo o que surgiu depois dele.
Morrissey estava em seu ápice como compositor e criou canções únicas que transmitem aos ouvintes as mais diversas sensações possíveis: seja a agonia profunda em canções como "There’s A Light Who Never Goes Out" e "I Knows It’s Over", ou a fina ironia de composições como "Cemetry Gates" e "Vicar In A Tutu".
A sonoridade deste disco é também um marco na história do Rock, pois em uma época em que o rock se encaminhava por caminhos eletrônicos, o quarteto inglês inovou ao pautar toda a sua sonoridade apenas no incomparável talento de seus integrantes.
Este álbum marcou o ápice da carreira do The Smiths e alçou a banda definitivamente ao olimpo do Rock.
Entretanto com a crescente fama do grupo cresceu também as disputas dos super egos de Morrissey e Mars o que culminaria com o lamentável fim do grupo no ano de 1987.
Disco essencial em uma coleção de Rock, de audição obrigatória para quem se diz fã de Rock & Roll.
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