Serj Tankian: além do System Of A Down
Resenha - Elect The Dead - Serj Tankian
Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 18 de março de 2008
Nota: 8
Quem acompanha meus textos há algum tempo sabe que considero o System of a Down uma banda inclassificável. Chamá-los de "new metal" (ou nu metal, whatever) é de uma injustiça sem tamanho, porque isso é muito pouco para caracterizar a insana mistura de guitarras thrash, batuques tribais, música folk, sonoridades étnicas, elementos eletrônicos e industriais, letras de forte cunho político-social - além, é claro, dos vocais únicos de Serj Tankian, cujo timbre e interpretação característicos funcionam como um apimentado tempero especial. Depois que o SOAD anunciou uma "pausa" (que soa mais como o fim definitivo da banda, mas tudo bem), o engajado Serj não parou. Continuou escrevendo suas poesias, continuou o trabalho na ONG Axis of Justice ao lado de Tom Morello (Rage Against The Machine)... e lançou seu primeiro disco-solo. "Elect The Dead" soa como System of a Down? Sim. Mas Serj vai um pouco mais além, carregando o legado com dignidade mas com a coragem de continuar ousando.
O primeiro single, "Empty Walls", abre a bolacha dando a dica de parte do que o ouvinte vai encontrar pela frente – uma canção com ecos fortes do System of a Down, mas com uma diferença considerável: as guitarras. Como foi o próprio Tankian quem executou as seis cordas, é nitída a diferença entre o seu estilo roqueiro, porém mais melódico, e as porradarias sujas de seu antigo colega de banda, Daron Malakian. Nada disso, no entanto, tira o peso desta faixa ou mesmo de similares como "The Unthinking Majority" (que deixa claro e sem rodeios que uma sociedade entorpecida por anti-depressivos não consegue enxergar a verdade), "Betthoveen’s Cunt" ou o então do refrão de "Money", que se transforma em pura violência.
No entanto, Serj acerta de verdade quando usa seu estilo quase messiânico de cantar de maneira mais sutil, o que acaba ampliando a contundência de sua performance e, por conseqüência, a força das letras do sujeito. Na pungente e quase épica "Saving Us", o cantor deixa os gritos de lado para adotar um jeito introspectivo e quase sussurado de cantar. Junte a isso um riff de guitarra totalmente envolvente e você tem uma daquelas canções que tocam você lá no fundo, de maneira certeira. A mesma sensação arrepiante fica presente em "Sky is Over", que soa como continuação direta de "Saving Us" – ou mesmo no refrão de "Feed Us", ao qual o vocalista se entrega sem reservas enquanto canta "you cheat us when you feed us with the lie / stars look out".
Com um título absolutamente sintomático, "Praise The Lord And Pass The Amunition" tem ares de canção religiosa, como que numa celebração às avessas que fala diretamente a respeito dos conflitos religiosos que explodem milhares de inocentes em nome de um "Deus" batizado de diferentes formas. E os elementos típicos de sua herança armênia estão cada vez mais visíveis e extrapolados em "Lie Lie Lie", que acaba sendo uma canção esquisita, é verdade, mas cheia de personalidade e desta mesma dose de intensidade e emoção que permeiam os melhores momentos deste trabalho.
Ao final, Serj Tankian encerra com a breve faixa-título, "Elect The Dead", cantando solitário com um quê de tristeza e melancolia ao piano. Apresentando uma delicadeza penetrante, ele mostra que sua força vem do coração, não dos pulmões. E também que ainda tem muita lenha para queimar, ajudando a aplacar (ainda que temporariamente) as saudades dos fanáticos pelo SOAD.
Participações:
John Dolmayan (System of a Down) – Bateria
Brian "Brain" Mantia (Primus, Guns ‘n’ Roses) – Bateria
Dan Monti – Guitarra/Baixo
Andi Maldijian - Vocal
Tracklist:
1. Empty Walls
2. The Unthinking Majority
3. Money
4. Feed Us
5. Saving Us
6. Sky Is Over
7. Baby
8. Honking Antelope
9. Lie Lie Lie
10. Praise the Lord And Pass the Ammunition
11. Beethoven's Cunt
12. Elect the Dead
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