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Wilco: dom de massagear a alma no ponto certo

Resenha - Sky Blue Sky - Wilco

Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 25 de setembro de 2007

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Sabe aquela "coisa" que acontece quando você ouve álbuns das décadas de 60 e 70, principalmente? Aquele "elemento" estranho que, mesmo com opções técnicas muito inferiores e gravações às vezes até toscas, trazem um certo clima especial que torna a audição uma experiência muito mais viva e interessante que boa parte da produção atual?

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Pois é. O Wilco tem muito disso. A intenção, no caso, não é celebrar a nostalgia, glorificar uma sonoridade "datada", subestimar o que é feito atualmente ou coisa do gênero. Não sou do tipo. Quem diz que a música – seja "pop", "rock", "eletrônica" ou o que for – morreu, no mínimo é surdo, burro, incompetente ou idiota. Talvez todas as opções anteriores e um pouco mais.

Problema que verificamos em 95% das produções de hoje, no entanto, é fazer aquela coisa estalada, plástica, no maior volume possível, como se tudo fosse urgente, ultrasônico e precisasse ocupar cada camada disponível no CD. "Sky Blue Sky", ao contrário, sussurra no seu ouvido: vai te conquistando, uma melodia aqui, uma textura irresistível de guitarra acolá, um vocal que dialoga contigo.

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Jeff Tweedy. Aliás. Jeff Tweedy. Um dos principais responsáveis por isso. Os termos "orgânico" e "fluído" deveriam ser usados com muito mais cuidado do que são. Por mim, inclusive. Tweedy cria novos parâmetros para eles. Suas letras, extremamente íntimas e passionais, sempre se entrelaçam em perfeita harmonia com o instrumental. Nada sobra, está fora do lugar ou é colocado apenas para ocupar espaço. O lirismo é parte fundamental da experiência oferecida. E isso acontece porque, além de viver e sentir, efetivamente, o que escreve, Tweedy consegue passar isso com uma interpretação absolutamente única e irresistível. Descontado os aspectos técnicos, ele é uma espécie da continuação do legado de Jeff Buckley. O tipo raro de vocalista que, mais do que simplesmente abrir a boca, só o faz com extrema consciência do que está fazendo, e tem a capacidade de achar a construção pop perfeita, suscitando o sentimento que quiser no ouvinte.

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"Sky Blue Sky" é, de longe, um dos lançamentos mais tocantes e sublimes do ano – a começar pela capa, premiada fotografia de Manuel Presti. Sim, ela é real! E, fácil, a mais bela do Wilco.

A riqueza das construções melódicas e harmônicas do grupo são absurdas. Contudo, não apostam numa demasiada diversidade e muito experimentalismo. O que se torna ainda mais impressionante. Fazem o "simples" com intensa competência e acuro musical. As canções respiram, conversam, absorvendo-o para dentro delas. Este é um disco para se ouvir de olhos fechados e fone de ouvido, saboreando cada vibração.

Na metade de "Either Way", com os instrumentos em crescendo, já estarás totalmente anestesiado. E ainda virão "You Are My Face", "Impossible Germany", "Side With The Seeds", "Hate It Here" e "On And On And On", todas de uma beleza inefável. As texturas ganharam novos tons, formas, gostos e características. A já citada, e absolutamente estupenda "Impossible Germany", por exemplo, seria impossível sem a entrada de Neils Cline (de um bem vindo acento jazzístico) e Pat Sansone, que adicionam uma dimensão extra às composições e à guitarra de Tweedy.

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A predominância da melancolia e sutileza não impede que eles explorem um sem número de camadas permeáveis à sua música, que está mais contida e equilibrada, sem dúvida, e justo por isso profundamente marcante e memorável. Os solos, deliciosos, adentram diretamente na corrente sanguínea.

Sendo muito exigente, ainda não dá pra dizer que o Wilco fez o seu disco perfeito. Como qualquer um é capaz de observar, "Sky Blue Sky" traz características intrínsecas a tudo que eles já apresentaram. Mas exprime uma inspiração e sensibilidade sem par atualmente. O considero, desde já, o melhor introdutor para alguém que desconhece o universo da banda. Como também o mais consistente e admirável em sua completude – e olhe que eu sou um profundo entusiasta de experimentalismos e explorações.

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Quanto à nota aí acima, não dê muito valor a ela, é apenas um adendo ao ofício. O que está expresso nos 51 minutos desta bolachinha supera, em muito, o que eu ou qualquer outro poderia dizer a você.

No fundo, o álbum tem o dom de massagear a alma: ora com intensidade, outras com delicadeza, mas sempre no ponto certo.

Deguste por conta própria. E agradeça.

Site Oficial: http://www.wilcoworld.net/

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Sobre Maurício Gomes Angelo

Jornalista. Escreve sobre cultura pop (e não pop), política, economia, literatura e artigos em várias áreas desde 2003. Fundador da Revista Movin' Up (www.revistamovinup.com) e da revrbr (www.revrbr.com), agência de comunicação digital. Começou a escrever para o Whiplash! em 2004 e passou também pela revista Roadie Crew.
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