Resenha - Tamo Aí Na Atividade - Charlie Brown Jr.
Por Maurício de Almeida (Maquinário)
Postado em 25 de julho de 2005
Que o Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., já se meteu em algumas encrencas não é segredo para ninguém. A última delas foi em um aeroporto no Rio de janeiro, quando ele discutiu e trocou algumas pancadas com Marcelo Camelo, guitarrista e vocalista do Los Hermanos. A causa da pancadaria foi, segundo consta, uma crítica feita por Camelo quanto ao fato de Chorão & Cia terem feito um comercial para a Coca-Cola. E este fato, de certa maneira, expõe uma contradição no que a banda diz em seus discos e o que ela faz com sua carreira.
Durante o ano de 2004 foi vinculado um comercial da Coca-Cola no qual o Charlie Brown Jr, ao melhor estilo Jota Quest, demonstrava suas qualidades de garotos propaganda. No tal comercial a banda distribuía garrafas para as pessoas da platéia que não possuíam uma, e ao final todos estavam igualmente felizes com sua Coca-Cola na mão. Fato é que, após algum tempo, um grande debate sobre postura do Charlie Brown Jr. tomou conta do mundo da música, acirrando o embate entre os fãs e não fãs da banda. Se por um lado a banda cantava a plenos pulmões "Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério/O jovem no Brasil nunca é levado a sério" no refrão da música "Não é sério", por outro, estava na própria televisão, no mínimo, não levando o jovem à sério.
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É claro, não cabe a ninguém julgar os meios pelos quais as pessoas ganham seu dinheiro, por isso nenhum tipo de crítica deveria ser feita a banda sem antes olharmos para o próprio umbigo. Entretanto, a coisa não funciona assim. O lado positivo é que, no ciclo normal da mídia, depois de render capa de jornais e revistas, o assunto foi substituído por outro, e o Charlie Brown Jr. lançou, como de costume, mais alguns discos. Mas somente após o lançamento deste "Tamo aí na atividade" percebemos que nem todos superaram aquele fato.
Mesmo rebatendo todas as críticas dirigidas a ele, Chorão mostra ter sido assombrado durante noites e mais noites de sono, e acabou sendo vítima de uma crise de personalidade, amplamente encontrada neste novo trabalho da banda. Vale dizer: este não é o principal problema deste sétimo disco do Charlie Brown. Posterior a um improvável acústico MTV, "Tamo aí na atividade" acaba tropeçando nas mesmas pedras que encontram pelo caminho bandas com longa carreira ou muitos discos lançados: a repetição.
A arte de se reinventar é para poucos. Portanto, por mais que o Charlie Brown Jr. cada vez mais se pareça uma cópia de si mesmo, não podemos condená-los por este pecado. A culpa da falta de criatividade é amenizada devido ao fato de as gravadoras exigirem não apenas um disco por ano, mas um disco de sucesso por ano. Então, aquela velha máxima que diz que 'em time que está ganhando não se mexe' acaba entrando em campo, ou melhor, em estúdio, restando a nós ouvintes a sensação de já termos ouvido aquela música em algum lugar. Não por acaso, músicas como "Eu Vim De Santos, Sou Charlie Brown", "Longe de você" e "Lixo e o luxo" deste novo disco entrariam facilmente no acústico lançado ano passado, assim como "Champanhe e água benta" ou "Todos iguais" estariam em qualquer outro disco do grupo de Santos.
Ou seja, musicalmente o Charlie Brown Jr. pode até agradar, mas não surpreender. Tudo o que a banda já produziu até hoje está neste trabalho, sem muita experimentação e/ou novidade. Nas letras percebemos a tal crise de Chorão, dada a grande - e até chata - repetição de adjetivos autodepreciativos, afirmando a condição de malandro do vocalista. A balada "Vivendo nesse absurdo" pode ser encarada como uma exceção em meio as quinze músicas que compõe o álbum - sendo que destas, quatro são vinhetas, artifícios bem utilizados pela banda em seu disco de estréia "Transpiração Contínua Prolongada", de 1997. Fora ela, ao longo deste trabalho, mesmo nas vinhetas, palavras como "Sk8" - abreviação para Skate -, "malokero" (sic), "pobre", "vagabundo", "quebrada" e algum tipo de ataque contra os "playboys" são usadas a exaustão. Até o Spike Lee acaba entrando nesta.
Quer dizer, a necessidade de se impor como pobre e fudido de Chorão, ao que parece, está alcançado patamares preocupantes. Quase uma obsessão, na verdade. Faixas como "Tamo aí na atividade", "O errado que deu certo" e "Malokero Sk8 Board" são provas cabais apenas por seus títulos. Talvez para se desvincular da imagem deixada pela tal propaganda, talvez um mero desabafo: não há como saber o que está se passando pela cabeça do vocalista do Charlie Brown Jr. Como não sou psicólogo ou coisa do gênero, apenas torço para que Chorão consiga se resolver consigo mesmo. E para que a banda consiga encontrar um novo caminho e fugir da mesmice que começa a atrapalhar, é claro.
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