Resenha - Devil's Ground - Primal Fear
Por Clóvis Eduardo
Postado em 20 de maio de 2004
Beleza, o novo disco do Primal Fear! Toda a expectativa do fã de carteirinha é um barato, e eu passei por isso. Na hora de curtir o CD a história pode ser outra, às vezes a expectativa acaba sendo melhor do que o próprio trabalho. Mas com Devil's Ground isso não acontece, afinal, o Primal Fear não é mais apenas uma banda em ascensão que conta com o ex-vocalista do Gamma Ray, Ralf Scheepers, e o chefão Mat Sinner, baixista e líder do grupo que leva seu sobrenome. O Primal Fear é banda grande e boa. Se destaca pelo potencial de manter sua linha musical e, mais ainda, trabalhar o já muito trabalhado heavy metal tradicional de maneira impressionante.
Seria necessário dizer que todo o conteúdo das letras e arranjos são creditados a Mat Sinner? Sim, o cara manda. E o melhor é que manda bem! As participações de Scheepers e dos guitarristas Stefan Leibing e Tom Naumann são creditadas nas composições, mas não restam dúvidas de que o manda-chuva é o baixista. Em matéria de sonoridade, o novo álbum está entre o peso agressivo de Nuclear Fire e a técnica desconcertante de Black Sun. Ou seja, um CD que não perde e nem ganha de nenhum dos melhores discos já lançados pelo grupo alemão, mesmo tendo a volta de Naumann à outra guitarra e a estréia de Randy Black (ex-Annihilator) nas baquetas, em substituição a Klaus Sperling.
"Metal is forever... Forever... Forever...". É assim que começa o álbum, representado em sua excelência pela música de trabalho. Heavy metal de alto nível, mesmo que soe igual a tantas outras coisas. Suicide and Mania vem a seguir, quase na mesma velocidade da primeira faixa. Tudo bem, o Primal Fear consegue se repetir em suas próprias composições, mas a canção se destaca por ter um solo muito legal. Visions of Fate tem batida semelhante às duas primeiras, mas seu andamento torna-se mais cadenciado. De uma coisa não se pode reclamar. Os bumbos estão bem presentes e tão nítidos quanto a caixa.
Sea of Flames é a quarta música, mais veloz do que Metal is Forever e com um riff desconcertante. A partir daí você começa a dar créditos a Scheepers, que tem uma das vozes mais inimitáveis do mundo. Um tom um pouco mais alto no vocal desse cara seria o suficiente para nos esgoelarmos. Cadenciada e bonita, The Healer começa com um clima triste. A presença de teclados realça toda a música, uma das melhores pelo conjunto da obra. A calmaria tem fim com o início arrasador de Sacred Illusion. Fica aquela pontinha de "já ouvi isso antes", mas não faz mal. O refrão é mais matador ainda!
Pena que nós, simples mortais, não possamos acompanhar o desempenho de Scheepers. As passagens se tornam diferenciadas justamente pela qualidade do experiente vocalista. In Metal é a faixa que todo fã vai adorar. Vocal agressivo, riffs e acordes no mais puro heavy metal e um refrão simples - "In metal, in metal..." - que fica martelando na cabeça. Sabe o lance da repetição? Você esquece com a maravilhosa Soulchaser, em que a banda colocou tudo o que tem de bom. Peso e limpidez, passagens nervosas e calmas, um solo inspirado mas curto e uma quebradeira que pode impressionar até os mais thrashers. Inovadora no CD e até mesmo na discografia do grupo, ela é para maltratar o pescoço.
Colony 13 tem andamento idêntico ao das duas primeiras canções de Devil's Ground. É uma daquelas músicas que passam desapercebidas na audição. Wings of Desire tem o mesmo estilo de The Healer, mas apesar de ser calma não se compara a uma balada. Nela Scheepers mostra ser um dos melhores vocalistas da atualidade. Sinner, por sua vez, não tem lá grandes dificuldades nas quatro cordas, afinal é o produtor do CD e o principal compositor, conhecendo cada segundo da obra. No mais, as viradas de Black não estão muito inspiradas. É um ótimo batera, mas teve seu potencial limitado no disco.
Boa música e um dos merecidos destaques, Heart of a Brave encerra o trabalho com dignidade e respeito pela fidelidade ao bom e velho heavy metal tradicional. Bom, na verdade, a última faixa é Devil's Ground, mas trata-se apenas de uma citação em voz grave que Sinner considerou longa demais para servir de introdução. Ela fala do inferno, um mau lugar para se estar. É preferível ficar em casa mesmo, ouvindo o CD. No conjunto, o Primal Fear funciona direitinho, o problema que é tão certinho que acaba soando déjà vu algumas vezes. No fim das contas, Devil's Ground é muito bom. Poderia ser melhor, mas deixa sua marca diante da expectativa do fã. "Metal is forever"!
(Nuclear Blast - nacional)
Nota: 9
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