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Pink Floyd: Uma canção chamada "Comfortably Numb"

Por Ronaldo Celoto
Postado em 11 de dezembro de 2020

I - Introdução

A canção "Comfortably Numb" é, talvez, a mais bela narrativa já composta por ROGER WATERS, não apenas no que se refere ao disco "The Wall", mas, em toda carreira do grupo PINK FLOYD. Arranjos musicais brilhantes, solos arrebatadores, vocais etéreos e uma letra introspectiva absolutamente urgida de teoremas "Jungianos" (referência ao genial psiquiatra sueco CARL JUNG) e "Grassianos" (menção ao exímio escritor alemão GÜNTER GRASS), ilustram o porquê, até os dias atuais, poucos músicos atingiram a genialidade criativa destes ingleses, especialmente no que se refere ao tema das questões conceituais unificadas em um só registro por meio de diferentes músicas que passam a contar histórias magníficas de dor, isolamento e crítica social.

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Dito isso, vamos tentar, humildemente, interpretar um pouco esta canção, tendo como ponto de partida não apenas o álbum "The Wall", mas também o filme que conta a história do mesmo? Peço licença aos fãs para essa licença poética, e, vamos a ela.

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II - O nascimento da libertação e o muro do isolamento que leva ao confronto com o médico do astro

Após a última pergunta de Pink ("Is There Anybody Out There?") ao final de "Bring The Boys Back Home", com batida de tambor espartano, a épica "Comfortably Numb" nasce perante uma representação musical do personagem "Pink" (criado ícone inserido na história do álbum e do filme) à deriva de sua própria consciência crítica e sua percepção nebulosa para além do muro mental mental e dentro de seu quarto de hotel.

Curiosamente, as letras começam com uma inversão da pergunta anterior do astro "Pink", com ROGER WATERS agindo sob a aparência de um médico que é trazido pelo gerente para colocar Pink "em tal estado fisiológico" que o permita ser capaz de comunicar-se consigo e com as pessoas que povoam sua mente, à medida que ele evolui (ou involui, se me permitem escrever isto) sob efeitos medicamentais.

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Nasce, aí, o confronto silencioso de "Pink" com seu médico, que beira a tensão entre o mundo exterior e os mundos internos que se reproduzem nele.

"Olá? Há alguém aí dentro?", pergunta o médico, justapondo as frases de "lá fora" (Is There Anybody Out There?) e, assim, destacando a separação entre a realidade do mundo exterior e o santuário interno de sonho de "Pink". Como se respondesse às perguntas repetidas de "Pink", a súbita aparição da voz do médico assegura ao ouvinte e a "Pink" que "sim, existe alguém lá fora", embora, como descobriremos no decorrer da letra, a "ajuda" que ele traz não é exatamente o tipo de salvação comunitária de Pink para com o muro, e, com isso, começa a brotar uma sensação de impotência e decepção mútuas em Pink, já nas primeiras palavras da canção.

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E então o médico prossegue, perguntando se há "alguém em casa?", ironicamente refletindo as próprias perguntas existenciais de Pink sobre sua própria sanidade, ocorridas na canção "Nobody Home", iniciando sua jornada para reavaliar suas "raízes de desvanecimento", jornada esta que acabou abruptamente interrompida pela intrusão do médico e outras forças externas, vindas do "Out There" ("lá fora") da fala que prenuncia a canção.

Embora o resto do primeiro verso não seja nada fora do comum para um exame inicial, os comentários do médico são atados com um determinado significado que chama a atenção para o conflito lírico pretendido por ROGER WATERS, no exato instante em que o astro "Pink" está "sentindo-se para baixo", recriando um eufemismo cômico e ao mesmo tempo sádico, com a garantia subseqüente proposta pelo médico nas frases "eu posso aliviar sua dor" e "te colocar em pé novamente", algo que traz de volta a simbiose do mesmo muro construído em sua mente - algo que "Pink" esculpiu para escapar do compromisso de viver em um mundo que não lhe trazia sensação alguma de felicidade.

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Assim como "Pink" estava chegando a algum tipo de epifania em sua jornada para recuperar suas raízes, o mundo exterior irrompia e involuntariamente prometia abafar a dor com a qual ele estava tentando se conectar. De forma brilhante, e, para encerrar a ironia, o médico conclui o versículo pedindo a Pink para "me mostrar onde dói".

Para o astro "Pink", a verdade é que não dói em parte alguma o que ela está a sentir; ou seja, a dor não é física, não algo que possa ser apontado, cutucado e remediado. Ao invés disso, a dor está profundamente semeada dentro de sua mente, enterrada no cerne de seu ser e multiplicada no abismo de sua alma.

Em resposta ao médico, "Pink" ecoa: "Não há dor. Você está regredindo", em resposta às perguntas do médico, batendo em cima do fato de que seu estado atual é o produto do emocional - o existencial, mesmo - em vez de qualquer dor física. O resto do refrão reflete tanto, sua mente mudando de um lado para outro entre o presente e o passado, sua parede (e as drogas correndo pelo seu sistema, sem dúvida) mantendo todos os estímulos externos à distância, esvaecendo-se em ondas.

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III - A dor da realidade cruel e estigmatizada pela sociedade consumista

O mundo está apagado para o astro "Pink". Na sua perspectiva, tudo é como uma "fumaça de navio distante no horizonte", uma imagem tão enigmática como eloquente. Muitos tomam a linha sobre o navio como uma descrição do mundo exterior, alguns poderiam postular que a letra é também uma metáfora apta para sentimentos de isolamento e desamparo, como se ele fosse o navio à deriva no mar, galgado sob a sombra de um destino náufrago, mas, invisivelmente plano, mas igualmente fora de alcance. Na medida em que a água, tanto na literatura quanto no muro, simboliza a mente, especialmente as profundidades inexploradas do inconsciente, o navio se torna um símbolo do próprio "Pink", ou seja, aquela última dose de sanidade a que ele está se apegando, esmagadoramente isolado pelos oceanos insondáveis de sua própria existência e à guisa de um esperado, como dito, naufrágio.

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A meu ver, ROGER WATERS Waters mergulhou mais profundamente e não criou uma simples viagem existencial neste trecho. Penso eu que WATERS criou, neste trecho da letra, uma referência à memória de sua infância real, mesclando-a à de "Pink", e, diante de uma alusão ao aclamado livro de GÜNTER GRASS (O Tambor) - pois WATERS era exímio devorador de livros e livros - "Pink" teria decidido estabelecer sua imaginação entre o presente e o passado, recusando-se a evoluir, e, pior, sendo interrompido de sua regressão pelo médico, que acabou por piorar todas as suas metamorfoses internas.

E vou dizer o por quê eu acredito nisso, traçando uma ponte entre "The Wall" e "The Final Cut"...Na canção "Southhampton Dock" de "The Final Cut", ROGER WATERS usou imagens de navios para simbolizar o sacrifício de soldados ingleses durante a Segunda Guerra Mundial. Aplicando esta mesma ideia a "Comfortably Numb" e à história de "Pink", é fácil ver como o navio no horizonte poderia simbolizar a ausência do pai de "Pink", algo que tem constantemente pairado no horizonte da mente de seu filho, e, neste caso, Pink não seria ninguém menos do que o próprio ROGER WATERS, corroborando com a teoria que acredito, e, com a referência à obra de GÜNTER GRASS.

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Depois de um colossal mini-solo de guitarra, o médico retorna no segundo verso com uma dose de um coquetel de medicamentos que supostamente iria "trazer" o astro "Pink" de volta, revivê-lo, induzindo-o ao transe por meio de analgésicos e tentando mantê-lo em um estado onde seja possível "atravessar o show."

IV - Surge então uma dose de "pinprick" para amenizar a percepção de "Pink" diante do mundo do "show business"

Curiosos poderiam perguntar: - o que seria este "pinprick"?

Ao avaliar a história de ROGER WATERS e do grupo naquela época, e, as alusões às fugas pessoais remontadas por êle por meio de diferentes explorações alucinógenas, este "pinprick" poderia fazer referência a: Noxolone, um remédio usado para contrariar os efeitos de uma possível overdose da heroína; Thorazine, medicamento usado para romper o efeito de viagens causadas por LSD; ou, ainda e por último, uma mistura de anfetaminas (para aumentar a vigília) e corticosteróides (para auxiliar na resposta ao estresse).

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A curiosidade, caro leitor, não está em adivinhar o medicamento ou a combinação destes, mas, sim, que os efeitos desencadeados por ele, ao invés de ajudarem "Pink" em sua jornada interior de autoconsciência, martelam-no ainda mais, transformando-o em uma marionete, criando um muro ainda maior ao seu redor, com a diferença de que, desta vez, ele se expõe à mercê da manipulação social, daí a expressão usada "atravessar o show", como uma inserção sarcástica de WATERS dentro da odisseia do personagem por ele criado (que refere-se a ele próprio) para fazer referência aos empresários, promotores e executivos das gravadoras, que manipulam seus músicos feito marionetes com intuito único: obter lucro.

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Como ROGER WATERS muito bem disse em uma entrevista no ano de 1979 à imprensa inglesa, "eles [os empresários e produtores] não estão interessados em nenhum de nossos. Todos eles estão interessados em quantas pessoas existem e quantos ingressos foram vendidos, e, que o show deve continuar, a qualquer custo, para qualquer um, mesmo que isso sacrifique a própria existência daqueles que sobem ao palco".

Com isso, a descoberta do músico/astro "Pink" urgiu de forma cruel e avassaladora para sua alma, pois revelou ao seu coração que existem pessoas lá fora, mas, com o único intuito de criar muros ainda mais tenebrosos sobre ele, a ponto de manipulá-lo.

V - O divisor de águas: a volta ao passado sombrio

Nasce aí, a raiz tênue e extremamente forte da canção "Comfortably Numb". Ela não é mais uma canção apenas de busca interior, de autoflagelamento por meio de coquetéis de medicamentos ou de recusa a envelhecer ou a viver em um mundo frio e corrosivo. Ela também critica o aparato pelo qual a música e o show business se sustentam. O menino frágil exibido no filme "The Wall" durante esta canção, esconde, também, uma fúria de WATERS para com o mainstream que gerava as contas do PINK FLOYD, e, denunciava a própria pré-ruptura de WATERS com a banda, porque sua alma estava a ponto de perder o elo de sanidade que mantinha, ainda que de maneira frágil, sua ligação para com o mundo real.

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Em "Comfortably Numb", WATERS denunciou a sua própria dor, não apenas de recusa ao mundo, mas, de escravidão do mercado fonográfico e do sucesso. O conceito do "show", iniciado nos primeiros acordes da canção "In The Flesh" (primeira do disco), se estendia, então, não somente como referência à vida, mas à escravidão conceitual de WATERS e de toda banda em relação ao mundo que eles criticavam, e, que, em resposta, pagava para receber esta crítica. Todo sonho da "revolução" idealizado por WATERS, naufragou no seu próprio sucesso, e, na própria idolatria pela qual o PINK FLOYD foi submetido em todo planeta.

Mas, voltemos à análise da canção. O desdobramento crítico ao show business mesclado ao mundo paralelo criado pelo personagem "Pink" (como já dito neste texto, sendo o alter-ego de ROGER WATERS) descobra-se para além do "pinprick". Novamente, eu convido o leitor deste texto a buscar pistas dentro do disco. E para isso, voltemos, uma vez mais, à primeira linha da canção "In the Flesh?". A dose, o "pinprick", realmente o ressuscita do estupor induzido pela droga ou pelo próprio "anestesiamento" mental (pois o personagem Pink pode sentir-se amortecido tanto por comprimidos quanto pela própria dor que ele induz a si mesmo e se obriga a criar o "muro" - The Wall - ao redor de si), que por sua vez o reconecta com o mundo físico e o faz lembrar dos tempos de criança, em que a febre o induzia a sentir suas mãos amortecidas (mesma sensação ocasionada pelos medicamentos ou pela auto-aplicação narcótica em suas veias).

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Sim, meus amigos e amigas. A regressão metafísica iniciada em "In The Flesh?", customizada em "Vera", aquecida superficialmente pelo subproduto materno em "Mother" e potencializada em "Nobody’s Home", de repente leva "Pink" à constatação de que é preciso fechar-se, uma vez mais, no comodismo causado pelos medicamentos oferecidos pelo médico, e, tornar-se frio, como que um homem "auto-fascista", ditador de si mesmo contra as leis da sensibilidade e da criatividade, tudo em nome do "show business". Atenção: eu usei o termo "auto-fascista", mas, peço ao leitor que não faça alusões ao fascismo como regime político e tente inseri-lo aqui, dentro do contexto, pois é apenas uma metáfora escondida dentro da canção e materializada no filme com imagens de "Pink" na condição de "ditador" perante uma plateia, basta lembrar-se de "In The Flesh?" e de outros trechos onde ele aparece vestido desta forma, com o símbolo dos dois martelos sobre sua vestimenta esverdeada.

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É preciso uma pausa, antes de continuar com a análise da canção. Para quem acredita que "Comfortably Numb" é apenas uma canção sobre entorpecentes e sobre um médico que surge como um vilão para trazer o menino de volta à cruel realidade, eu sugiro que liberte ainda mais sua compreensão para a genialidade acima de toda e qualquer teoria, concebida por ROGER WATERS neste álbum. Ela está além do que pode ser traduzido numa simples letra, e, como eu já afirmei, associa elementos da obra de GÜNTER GRASS com, repita-se, o "Jungianismo" psicanalítico e o existencialismo para além do "Confucionismo".

Não é, podem acreditar no que eu digo, apenas uma canção de um disco épico. É uma odisseia monumental.

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VI - Nenhum remédio é capaz de curar a febre da alma de "Pink"

Pois vem. Voltamos à análise. Após a "fumaça de um navio distante sobre o horizonte" (a distant ship smoke on the horizon) e a febre infante que trazia a sensação de que as mãos do pequeno personagem eram dois balões (When I was a child I had a fever/My hands felt just like two balloons), "Pink" retoma a morada infante em seu coração, um vislumbre fugaz através do canto dos seus olhos (When I was a child/I caught a fleeting glimps/Out of the corner of my eye). Muitos podem pensar que o vislumbre fugaz é algo que pode ser interpretado de maneira reta, sem metáforas, mas, novamente, não. A linha é tão ambígua e surreal, que não há como delinear se este vislumbre era algo benéfico ou trágico de uma forma que modificaria totalmente a vida de "Pink", induzindo-o a traumas e cataclismas emocionais incuráveis. Afinal, quando ele afirma, em seguida, "eu me virei para olhar, mas se foi. / Não posso tocá-la agora/A criança se foi/O sonho se foi" (I turned to look but it was gone/I cannot put my finger on it now/The child is grown/The dream is gone), a dor e a sensação de impotência emergem como um vulcão em erupção, a arrastar "Pink" para o concerto da modernidade, a sociedade vil e mascarada pelas garras do trabalho e do mercantilismo que escraviza mentes e glamouriza expectativas fúteis de consumismo e comodismo diante das massas e da indústria midiática.

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À luz de sua melancolia impulsionada já na própria infância, seja pela dor da perda do pai, seja pela sensação de que a humanidade é subversiva e corrosiva, seja pela confirmação de que a liberdade está para além da existência terrena, e, ou mergulhamos no próprio fim de nossas vidas, ou criamos um muro imaginário para nos distanciarmos da realidade, o fato é que o estado de "confortavelmente anestesiado" (And I Have become/Comfortably numb) é nada menos do que a certeza de que só vivemos nove meses, pois, a partir do momento em que nascemos, morremos todos os dias obrigados a enfrentar a crua verdade: a de que somos escravos do que criamos, e, somos produtos de uma sociedade canibalesca, que devora tudo e a todos como se fossem produtos estocados em uma prateleira de supermercado.

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VII - Todas as canções do álbum e do filme estão interligadas a "Comfortably Numb"

Parece curioso afirmar isso no subtítulo acima, mas é real. No filme, existe uma fidelidade absoluta a esta verdadeira psicanálise traduzida na canção, posto que as imagens alternam passado e presente, e, trazem à tona figuras como o empresário de "Pink", os empregados do hotel onde ele passava a maioria do seu tempo em estado de melancolia e fuga, preso ao muro que criou para si – o sucesso e a própria negação da realidade, e, claro, o médico, na cena em que o mesmo invade a sala e encontra "Pink" em coma induzido por analgésicos e outras substâncias. Novamente, vemos uma magistral correlação entre todas as canções, quase que uma diáclase ateniense umbilical criada por ROGER WATERS, pois, se no filme, durante o executar de "Comfortably Numb", existe uma cena em que as recordações de infância se mesclam a uma corrida de Pink pelos campos de rugby e o disparo de um tiro que paralisa sua continuidade, esta mesma associação está contida em "When The Tigers Broke Free" e "Goodbye Cruel World", e, fogem para além do rito e da corrida pelos campos, para a imagem de uma criança amordaçada pela comoção, tentando segurar com as mãos um rato ferido sobre a grama, mostrando-o à sua mãe, e, sendo imediatamente advertido por ela, mas, não desistindo de dar luz à sua comoção, tanto que, já naquele instante, o "muro" criado por Pink mostrava seus primeiros tijolos (antes do choque existencial completo durante a execução de "Comfortably Numb"), pois "Pink" não desistiu de oferecer ao rato ferido um leito para repouso, colocando-o sobre uma cama de palha improvisada e envolvendo um pedaço do seu cachecol ao redor da criatura ferida.

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A título de curiosidade, há uma tomada rápida de cena, no filme sobre o disco "The Wall", que demonstra também o interlapso memorial de "Pink", quando mostra a imagem de sua mãe para além daquela figura que o advertiu, mas, sobreposta à paisagem estéril, tornando-se uma figura maior do que a vida, quase divina, como se ROGER WATERS quisesse entender o porquê das advertências de infância e das repressões, e, perdoasse sua genitora, elevando-a à custódia angelical, compreendendo, enfim, o papel de uma mãe solteira, viúva de um soldado de guerra, ante uma sociedade britânica julgadora e déspota, imbecilizada por preconceitos.

Uma vez mais, percebe-se mais uma relação umbilical para com outras canções. Em "Mother", o astro "Pink" era examinado por um médico. A febre e os sentimentos desorientadores ainda não lhe davam consciência suficiente para elevar-se a condição de um arquiteto do seu próprio muro, o seu próprio isolamento para com o resto da humanidade, muro este concebido pelo sucesso, pelas viagens musicais e pela própria dificuldade de "Pink" (o próprio ROGER WATERS, como já dito aqui) de ligar-se ao mundo como parte dele, pois "Pink" (WATERS) o via como monstruoso. E essa confirmação da monstruosidade ecoou de forma soberba em "Comfortably Numb", surgindo como um divisor de águas tanto no disco quanto no filme sobre o disco. Teríamos, em "Pink", tanto a imagem de um personagem amarrado ao sócio-intervencionismo "Vygotskiano" (para quem não conhece o trabalho de VYGOTSKI, sugiro ler antes de continuar), como também a um herói prestes a eclodir e a tirar de si a própria vida, por não suportar o peso de sua própria missão.

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VIII - Um muro que cai e se solidifica e ao mesmo tempo uma menção a SYD BARRETT

Em resposta às dolorosas lembranças da perda do pai, da procissão alucinatória dos tijolos vivos que "Pink" construiu para viver em um deserto mental, ele próprio decide permanecer ali, envolto à parede. Notem que, no filme, durante a cena em que os membros da equipe o levam pelo corredor, parte do braço de "Pink" parece emaranhar-se e transformar-se em um imenso casulo de carne, espalhando-se por seu peito e rosto, encapsulando por todo seu corpo. Ora, isto novamente traz a referência ao isolamento, que acabou por eclodir similarmente a um "Big Bang", daí novamente, a afirmação de "Comfortably Numb" ser um divisor de águas do disco e do filme.

Existe aí, e, peço licença ao leitor para colocar novamente opiniões minhas para além desta simples análise, uma alusão a SYD BARRETT também. Para quem não sabe, BARRETT misturava quaaludes ao seu creme de cabelo, antes de adentar no palco, e, utilizava doses e doses de LSD diariamente. À medida que o show da banda progredia, as substâncias lentamente se infiltravam na pele de BARRETT e o creme se derreteria sobre sua cabeça, fazendo com que ele se parecesse com "uma vela repleta", como um dia ROGER WATERS descreveu a um tablóide inglês, em meados de 1977.

É notória a homenagem, aí, a BARRETT, ao menos na minha opinião. A cena em que a crisálida surge, e, no banco detrás do carro, "Pink" rasga a própria carne do seu rosto derretido (rosto similar ao das crianças durante a exibição da canção "Another Brick in The Wall, Part 2"), reverencia e critica o sucesso absoluto do próprio grupo, e, serve como uma espécie de artéria aorta para o coração de "Comfortably Numb", ligando a canção, novamente, às insatisfações e à certeza de que a reconstrução física e mental de "Pink", a partir dos choques de sua infância, se fez com parte das pessoas que povoaram sua vida, a maioria delas, levando-o à decepção e ao isolamento. A perda do genitor, o olho vigilante e cuidador de sua mãe, a estenose de seu professor sádico e cruel, a infidelidade de sua esposa, o vampirismo ignorante dos fãs que queriam consumir seus discos mas não entendiam nada do que ele dizia, enfim, tudo isto moldou sobre o rosto de Pink uma máscara de coerência para com a mídia, mas, ampliou os tijolos e o muro que ele esquematizou e edificou para si.

IX - A solução final: o último adeus

A solução? Não há solução alguma, a não ser a de destruição do muro, e, consequentemente, da própria vida enquanto foi concebida. E esta solução viria com as canções posteriores, até o lamento de "Goodbye Cruel World" (Adeus, mundo cruel), e, o epitáfio definitivo, que fez de "The Wall" uma das maiores obras do século XX.

Muitos poderão perguntar sobre a análise do solo de DAVID GILMOUR, e, do por quê eu não a inseri de forma definitiva neste contexto. A resposta é simples: - Como analisar a perfeição? Como defini-la? Como traduzi-la?

"Comfortably Numb" termina como deveria terminar: sem palavras, sem letras, apenas a corrente elétrica tempestuosa e maravilhosamente sublime dos acordes de um dos mais harmoniosos e dantescos testemunhos líricos de uma guitarra dentro de uma canção. Não é preciso analisar, a partir do início do solo final, qualquer imagem que não seja a da mais pura e absoluta sublimação.

No mais, meus parabéns a ROGER WATERS e DAVID GILMOUR, e, a toda banda, por nos presentearem com esta canção que, na minha humilde opinião, é um raro exemplo de genialidade.

Fonte: The Wall Analysis
https://www.thewallanalysis.com/comfortably-numb/

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Sobre Ronaldo Celoto

Natural do Estado de São Paulo, é escritor, professor, poeta e consultor em direito, política e gestão pública. Bacharel em Direito, com Mestrado em Ciência Política, atualmente cursa Doutorado em Direito, Justiça e Cidadania pela Universidade de Coimbra. Além destas atividades, dedica diariamente parte de seu tempo à pesquisa e produção de artigos científicos, contos, romances, matérias jornalísticas, biografias e resenhas. Seus interesses pessoais são: cinema, política, jornalismo, literatura, sociologia das resistências, ética, direitos humanos e música.
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