Guitarras: o que o modelo da guitarra tem a ver com o som do guitarrista?
Por Ivison Poleto dos Santos
Postado em 02 de setembro de 2018
Escolha qualquer guitarrista do primeiro time. As chances de ele estar fortemente relacionado com algum modelo específico de guitarra é muito grande. A intenção aqui não é escrever uma tese de doutorado, somente algumas considerações sobre o assunto, porém se você tiver a intenção, a gente sempre pode conversar.
Esta história foi inspirada pelo artigo da Ultimate Guitar chamado "Top 5 Rockers That Have Relied On Strats" (traduzido aqui por mim como "Guitarras: cinco gênios da Fender Stratocaster"). Leia aqui o artigo original.
Este artigo me fez pensar bastante sobre o assunto e sobre a grande quantidade de guitarristas do primeiro time que são relacionados com modelos específicos de guitarras. Creio que muitos de vocês já pensaram sobre isso. Desde os jazzistas até os bluesmen, dos roqueiros até os de Metal extremo, todos têm um modelo preferido, ou modelos. Eles até podem ter tido algum relance de infidelidade em algum momento de suas carreiras, porém permaneceram fiéis ao seu modelo preferido. Até Hendrix já apareceu com uma outra guitarra. Veja a prova:
Mas por que isso acontece?
Existem muitas razões, mas podemos simplesmente reduzi-las a duas: as relacionadas às guitarras e as relacionadas aos guitarristas. Existe uma terceira opção que é a relacionada ao equipamento, que eu até considero importante para muitos guitarristas, entretanto para simplificar as coisas, vamos deixar essa por enquanto fora.
Guitarristas do primeiro time são aqueles que deixam uma marca indelével do seu som. São aqueles que você reconhece ao ouvi-los em uma música. Escute "We're Stars" do Hear n' Aid para perceber o que eu estou querendo dizer. Os solos de Yngwie Malmsteen, Brad Gillis e Vivian Campbell são facilmente reconhecíveis entre os solos dos outros guitarristas. Mesmo não os conhecendo, você vai perceber que seus solos são diferentes de alguma maneira.
Razões relacionadas com a guitarra
É sutil, mas cada modelo de guitarra tem a sua sonoridade própria. Isso se dá por várias razões. Brevemente, cada peça da guitarra pode influenciar na sua sonoridade final: braço, corpo (se ele é sólido ou não, o verniz utilizado, a madeira), ponte, captadores, alavanca e por aí vai. É claro que hoje em dia existem equipamentos que prometem emular a sonoridade de qualquer modelo. Eu, na verdade, não acredito muito nisso, mas é outra história.
Os modelos de alta qualidade como as SG, Stratocaster, Les Paul e outros têm a sua sonoridade própria. Para sermos completamente francos, elas não diferem muito da outra em termos de qualidade. É um detalhe aqui, outro detalhe lá, mas são todas guitarras de alta qualidade. As razões relacionadas aos guitarristas é que vão desempatar o jogo. Vamos a elas.
Razões relacionadas aos guitarristas
Em suma, elas são relacionadas ao gosto pessoal do guitarrista. Um gosta de um som mais encorpado, outro prefere um instrumento mais leve, um outro gosta do modelo do corpo da guitarra e por aí vai. Não há como negar que os modelos de guitarra são uma escolha pessoal. É claro que o tipo de música que o guitarrista toca interfere no modelo de guitarra que ele vai tocar diminuindo ou aumentando as opções. Mas não é bem isso o ponto. O guitarrista quer que o som da guitarra bata com o seu gosto pessoal. Existem outras razões como a memória afetiva: ele quer usar o mesmo modelo do seu ídolo (Malsmteen e Blackmore), a guitarra foi um presente de algum parente (Brian May), foi a guitarra que ele pôde comprar e outras. Ou foi um golpe do destino que determinou o modelo. Tony Iommi costumava usar uma Fender Stratocaster pintada a mão por ele e seu pai. Nas gravações do álbum de estreia do Sabbath, e aqui está o golpe do destino, o captador do braço deu defeito e ele teve de trocá-la pela sua guitarra reserva, a famosa Gibson SG.
A verdade é que existem dois tipos de guitarristas (isso pode ser estendido a todos os músicos) ou ele se preocupa em ter a sua própria sonoridade ou ele se preocupa em copiar seu ídolo. O primeiro caso produz guitarristas do primeiro time; o outro, bem, também pode dar certo. Digo isso porque desde o início o primeiro tipo vai procurar uma forma de se destacar dos demais e estar relacionado com um modelo de guitarra ajuda bastante. Malcom Young fez o diabo na sua Gretsch G6131-MY para fazê-la soar do jeito que ele queria. Um guitarrista que quer ser do primeiro time vai trabalhar duro para conseguir a sua sonoridade própria. Não importa como. O segundo tipo também vai trabalhar duro para soar como seu ídolo. Não importa como.
Um outro fator importante é a afinação. Muitos guitarristas do primeiro time usam uma afinação alternativa que não a A padrão. Alguns vão além como Joe Bonamassa que, por exemplo, afina a sua Telecaster em F porque ele acha que funciona melhor na música ‘Slow Train’ quando usa um monte de bendis. Keith Richards afina em G. Isso explica porque é tão difícil soar exatamente como os Rolling Stones. Afinações alternativas se dão por duas razões: uma é técnica como a do Bonamassa, a outra tem a ver com o gosto pessoal. Eu me lembro que meu professor de guitarra falava que afinava sua guitarra de acordo com o desgaste das cordas: quando eram novas, uma afinação; quando estavam velhas, outra afinação. Nunca tive o ouvido para isso, mas deixe para lá.
Agora respondendo a pergunta inicial, sob o meu ponto de vista, o modelo da guitarra interfere bastante na sonoridade pessoal do guitarrista. Entretanto, isso não é uma regra fixa. É claro que existem guitarristas do primeiro time que não estão relacionados com nenhum modelo de guitarras. Billy Gibbons, por exemplo, é um deles. Mas que ajuda bastante, isso ajuda.
P.S.: Grato pela foto da coleção de guitarras da página Playing With Chaos.
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