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Anos 90: Antes da Internet as Fitas K7 eram a Salvação no Rock

Por André Garcia
Fonte: Camarada Garcia no Medium
Postado em 30 de junho de 2017

Eu sou um senhor de 31 anos de idade que descobriu e se apaixonou por rock no começo dos anos 90, uma época muito distante onde não havia Youtube ou Spotify. Imagino que esses tempos sejam difíceis de imaginar para quem nasceu de meados daquela década para cá, mas eu ainda lembro bem. Eram tempos difíceis, mas bons tempos…

Em 1992 meu irmão conseguiu uma fita K7 do Guns N’ Roses e simplesmente pirou. Ele começou a ouvir o tempo todo e mostrar para os garotos da rua, que logo passaram a curtir e querer mais daquele tipo de música, que parecia ter vindo de outro mundo. Só que no mundo classe média baixa, em Cabo Frio, nos anos 90, discos de vinil eram pouco acessíveis, afinal, o preço era alto (ou o poder de compra que era baixo, não sei) e só tinha umas duas lojas na cidade (onde dificilmente havia algo que não fosse sucesso do momento). Tirando meu irmão, que conseguiu alguns (basicamente Guns ‘n Roses e Titãs), só um garoto na rua tinha discos. Ele se chamava André, era um filho único da família classe média que considerávamos rico pelo fato de ter um baixo e uma coleção de LPs de bandas como Metallica, Black Sabbath e Ozzy. LPs esses que ele nunca emprestaria, mas que precisávamos ouvir. Precisávamos de mais daquela música, que parecia ter surgido do nada e que, para a gente, era a coisa mais nova e empolgante do mundo.

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E é aí que entrava em cena o K7 para salvar o dia (ou melhor, a década). André tinha temperamento difícil e era muito fechado, quase não saía de casa. Quando saía, nem olhava para a cara de ninguém. Mas mesmo assim meu irmão conseguiu que ele gravasse algum disco, acho que Tribute, do Ozzy, numa fita para ele. Essa fita rodou de mão em mão pela rua explodindo cabeças até, literalmente, arrebentar. Posteriormente, meu irmão conseguiu fazer que ele gravasse acho que Master of the Puppets, do Metallica, também, mas depois disso o cara se mudou para outra cidade.

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Como não dava para ter discos e nem depender da boa vontade das poucas pessoas que tinham, era necessário recorrer às ondas do rádio. A única rádio que tocava rock em Cabo Frio era a Rádio Cidade, que a gente ouvia o dia inteiro para poder ouvir Nirvana, Faith no More, Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers, Ramones e Silverchair, entre outros. Eventualmente, no quadro Jurassic Rock, do programa A hora do Rock (eu acho), podia rolar até Led Zeppelin ou Deep Purple! E é aí que as fitas K7 entram, pela terceira, de forma circunstancial nessa história: ela permitiu aquilo que era o mais próximo de compartilhamento de música que havia 10 anos anos do Napster e 20 anos antes do Spotify.

Meu irmão tinha um micro system que ficava sempre ligado na rádio com uma fita preparada e os botões Rec e Pause apertados. Se anunciasse que ia tocar alguma daquelas músicas fodas, a gente corria desesperadamente para soltar o botão Pause e gravar a música. Quando a gente conseguia, era uma sensação de euforia, como deve ser para a garotada de hoje capturar um Pikachu no Pokemon Go. Quando era uma música que quase não tocava em rádio (Pokemon raro), então, era uma coisa de pular e vibrar por minutos. Poder ouvir sua música preferida na hora que você quisesse naquela época era algo que não dá para explicar para quem não viveu aqueles dias. Ainda mais para aqueles que tinham condições de ter um Walkman e podiam ouvir as fitas a qualquer hora e em qualquer lugar.

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Depois disso veio o plano real, que deu um BOOM no poder aquisitivo dos brasileiros e permitiu que mesmo o pessoal classe média baixa de Cabo Frio comprasse CDs, que ainda eram grande novidade. Assim o acesso a músicas e álbuns se tornou muito mais fácil, principalmente depois que CDs começaram a ser pirateados, mas mesmo assim o K7 ainda foi um bom recurso para fazer coletâneas e compartilhar músicas. Até que chegou a virada da década, computador, internet e gravador de CD se tornaram populares e a partir daí as fitas passaram a ficar esquecidas, soterradas no fundo da gaveta ou ser jogadas no lixo. Um destino cruel para algo que teve tanta importância por tanto tempo.

Mas fica aqui essa singela homenagem às fitas K7 de alguém que não se esqueceu e nem vai se esquecer delas (e que está ficando saudosista depois de velho).

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Comente: Você também viveu a época das fitas K7?

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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