Jerry Lee Lewis: o retrato de um "matador"
Por Paulo Severo da Costa
Postado em 26 de outubro de 2016
"Não atire em mim - Sou apenas o pianista!"
ELTON JOHN (1973)
Nada é tão ambíguo quanto a fúria: enquanto expressão moral pode tanto simbolizar a rebelião inconsequente quanto justificar a insurgência gritante dos excluídos; simboliza tanto o ódio e a opressão de uma concepção totalitarista quanto o grito primal, o extravasamento, a antítese do estado de repressão. SHAKESPEARE a entendeu como matéria prima vital (ainda que em um grito agônico e cheio de ceticismo) quando professa em "Macbeth" que: "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum".
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Com ou sem sentido, a relação rocker entre som e fúria representou o contraponto, a quebra paradigmática com as gerações anteriores. Longe da passividade, a introdução do rock and roll fundiu pelves em chamas e o gigantismo rítmico em uma massa que ultrapassaria as barreiras de cor e casta social. Enquanto isso, achincalhava a condição consuetudinária, misturando filhos de patrões e empregados em uma canonização promíscua defronte aos descendentes de tudo aquilo que não era desejável para o tradicionalismo: CHUCK BERRY, LITTLE RICHARD, FATS DOMINO e outros representantes da senzala social dos anos cinquenta.
Entretanto, pior do que isso era ser traído por um dos seus. CARL PERKINS, ELVIS, JOHNNY CASH não apenas subverteram a lógica W.A.S.P. (nota: simbolismo para o modelo a época de elitismo , cujo acrônimo significa "branco, anglo saxão e protestante" e que, nos dias atuais carrega forte caráter pejorativo), mas acomodaram as influências dos "colored" (termo de forte conotação segregacionista para se referir aos negros em meados do século passado) em sua sonoridade e postura. Contudo, em termos de atitude "fuck off" nesse segmento ninguém ultrapassou o hedonismo indulgente de JERRY LEE LEWIS.
"Eu estou certo. Estou sempre certo. Uma vez eu pensei que eu estava errado - então descobri que eu estava certo." Provocador, arruaceiro, também fazia parte dos brancos sulistas que haviam transformado hinos pentecostais em variações profanas trazendo a frente o único instrumento que naquela época detinha o poder de fogo de amplificar o sacrilégio: o piano. ELVIS ao vê-lo tocar disse "Se eu tocasse piano daquela maneira, eu nunca mais cantaria". Antecipando HENDRIX em mais de uma década, LEWIS transformou o lúdico em um ato de carnalismo performático impublicável - suas intervenções ao vivo junto ao instrumento eram verdadeiras cópulas estilizadas.
JERRY fez o que quis: traduziu o êxtase sexual para a alternância em suas performances ao vivo (em interlúdios sussurados que explodiriam apoteoticamente), abusou de álcool e anfetaminas e cometeu todos os desvarios possíveis àquela altura. Porém, dotado de um sentimento de invulnerabilidade, tropeçou quando da ocorrência de uma afronta impensável até para seus fãs à época: a sociedade que se esfregava em seus shows também o condenou pelo seu relacionamento com sua prima de treze anos. Nos anos que se seguiram, sua carreira teve altos e baixos; sua vida pessoal, um desastre,: separou-se inúmeras vezes, perdeu dois filhos, entrou em estado comatoso por overdoses, atirou e quase matou o próprio baixista. "Se eu estou indo para o inferno, eu vou lá tocar piano", afirmou, quase assinando sua própria sentença.
O passar dos anos, contudo, não tiraram o brilho do "matador": alternando country e seus Standards, LEWIS recebeu a devida convocação na primeira lista para o Hall da Fama do Rock and Roll, gravou com muita gente, foi celebrado; é celebrado. A síntese de toda essa turbulência parte do próprio quando ministra seu catecismo particular: "Quando olharem para trás, eu quero que eles não se lembrem de mim por todas as minhas esposas que tive; não por mansões ou pelo dinheiro que ganhei; eu quero que simplesmente lembrem de mim pela minha música ".
Será lembrado JERRY.
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