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Love: invocação thrash nos anos 60?

Por Paulo Severo da Costa
Postado em 09 de setembro de 2016

Enquanto muitos renegam paternidades por aí, no campo das artes a situação é diametralmente oposta. As longas e acaloradas discussões sobre a "primeira banda metal", "primeira faixa punk" fazem parte do espectro folclorístico que alimenta a infindável curiosidade humana. Enquanto muitos se dizem avessos a rótulos em público, nos bastidores a egomania muitas das vezes corre solto como destilam as biografias disponíveis sobre o tema.

Um dos debates mais instigantes e axiomáticos trata das canções seminais. Quando se trata do exame de DNA de faixas, sobeja a alegria dos beligerantes: BEATLES e STEPPENWOLF "brigando" na boca dos fãs pela gênese do metal, MC5 e STOOGES pelo início do punk. Assim como no debate que povoa as mesas redondas futebolísticas, nos especializamos cada vez mais na visão privilegiada de quem teve o transcorrer do tempo ao seu favor e, tal qual os analistas de domingo a noite, preferimos discutir a partir com o sabor enviesado de uma vitória de Pirro.

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Falando em radicalismo a beira da insanidade, o thrash, objeto de culto banger, não poderia deixar de ter sua guerra particular ao aspecto referentes ao tópico "quem começou o que". Tratando-se originariamente de um híbrido entre o speed e o hardcore, o estilo formatado nos anos 80 possui fortes raizes na década anterior, onde QUEEN ("Keep Yourself Alive" e "Stone Cold Crazy"), Judas ("Exciter" e "Dissidente Agressor"), SABBATH ("Children of The Grave" e "Sympton of the Universe") e até o velho ZEP ("Immigrant Song"), HAWKIND ("Master of The Universe") e o BUDGIE ("Breadfan") seguem citados como precursores de algo que não tem uma delimitação precisa. Afinal, o que caracteriza um estilo?

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"No início dos anos 80, o speed metal se tornou a forma mais popular de heavy metal no underground americano. Acelerando a New Wave of British Heavy Metal, o speed era extremamente rápido, abrasivo, e tecnicamente exigente - as bandas tocavam rápido, mas seu ataque era preciso e limpo. Nesse sentido, speed metal sempre se manteve fiel às suas raízes de metal. Mas tomando de empréstimo o hardcore - rápido, desafiador e detentor de uma atitude "faça voce mesmo"- criou-se uma imagem atraente para legiões de jovens suburbanos. Liderados por METALLICA, MEGADETH, ANTHRAX e SLAYER, esta nova onda de bandas de metal estava em contraste direto com o metal pop que dominou as paradas durante os anos 80, criando-se dessa fusão um estilo menos refinado que o speed metal, mas tão agressivo quanto o hardcore: o thrash metal". A definiçao da ALLMUSIC apesar de pedagógica é falha ao nao precisar alguns elementos que davam as caras- ao menos naquele início: riffs cromáticos, trítonos, pensamento mais modal do que tonal, bateria mais áspera do que o metal tradicional, temática ampla (abrangendo da preocupação a nuclear até os delírios satanistas do SLAYER dos dois primeiros álbuns), vocais rueiros (opondo-se ao virtuosismo de JUDAS e IRON por exemplo) e baixo roufenho ao melhor estilo LEMMY de ser .

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Alimentado pelo espírito arqueológico - e pela tônica da discussao sem fim- fui atiçado pela curiosidade quando me deparei em um fórum estrangeiro pela mençao de um registro no mínimo inusitado: a citação da banda LOVE – um ícone da lisergia sessentista - como uma pretensa lançadora do alicerce do estilo. Gravada em 1966 e lançada como compacto, "7 and 7 is" - mencionada como alimentante do estilo - foi muitas vezes catalogada como protopunk e regravada por um exército que vai dos RAMONES ao RUSH. Em um ensaio fractal, a faixa, de fato, apresenta uma certa estridência próxima ao estilo: bateria urgente, vocais que lembram mais uma discussão do que exercícios de auto indulgência, um micro solo de guitarra que beira o atonal e o som de uma hecatombe em uma "falso" final- quase uma versão turbo do THE WHO. Contrariando o comentarista gringo, não- não é thrash nem a pau. Mas parece indiscutível que a semente do inconformismo que mataria a fome cultural de milhões duas décadas depois, já contaminava o mundo na era do Flower Power.

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Sobre Paulo Severo da Costa

Paulo Severo da Costa é ensaísta, professor universitário e doente por rock n'roll. Adora críticas, mas não dá a mínima pra elas. Email para contato: [email protected].
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