Jerry Lee Lewis: o primeiro (e último) rockeiro
Por Claudinei José de Oliveira
Postado em 23 de janeiro de 2016
É do senso comum que Elvis Presley seja considerado o "rei do rock". E o rei do rock teve sua imagem pública marcada por um comportamento, no mínimo, condescendente com os valores éticos e morais aceitos pela sociedade de sua época. Por mais que, por fim, segredos fossem revelados por trás de algumas máscaras, a intenção conta muito. E a intenção era preservar uma "boa imagem". A imagem pública do "rei do rock" era a imagem do bom moço.
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O rock'n'roll, desde muito cedo, teve sua imagem associada à delinquência, à criminalidade, à baderna e ao desrespeito aos padrões vigentes numa "sociedade saudável". A convocação de Elvis Presley é entendida por muita gente como estratégia de uma cruzada contra o rock'n'roll, a qual já havia sido iniciada nas apresentações cada vez mais domesticadas do "rei" no programa de Ed Sullivan e teve continuidade na perseguição, de conotações raciais, a qual resultou na prisão de Chuck Berry. O fato é que a mídia, no início dos anos 1960, não apresentava artistas que oferecessem alguma espécie de desafio ou perigo aos espectadores.
Porém, apesar de, por essa época, já ter sido extirpado dos holofotes midiáticos, na turma de Elvis surgiu o artista com a postura que, posteriormente, seria a perfeita definição para o adjetivo "rockeiro": o pianista e vocalista Jerry Lee Lewis.
Dono de um temperamento extremamente explosivo, "O Matador" (The Killer, seu apelido), desde criança se acostumou a fazer as coisas do seu jeito, não se importando com as consequências. Aos 23 anos, prestes a se tornar, com a já referida convocação de Elvis, o substituto natural em seu reinado, Jerry Lee se casou (pela terceira vez!) com uma prima (embora de terceiro grau) de treze anos de idade. Como se não bastasse, mesmo alertado do perigo, a levou para uma turnê inglesa que internacionalizaria seu nome. Foi o primeiro de uma quantidade infindável de tombos, dos quais ele se levantaria mais intransigente ainda.
No mundo do rock, Jerry Lee Lewis foi o fundador do comportamento autodestrutivo levado a cabo publicamente, o qual acabou sendo romantizado pelas gerações de rockeiros posteriores. Porém, paradoxalmente, enquanto o seus estilo de vida ceifou muitas "personalidades", aos 80 anos, ele ainda se mantém em pé.
Com uma personalidade forte, nunca se deixou abater, sobrevivendo às mortes dos pais e de alguns filhos, a muitos casamentos fracassados, a doses cavalares de drogas lícitas e ilícitas (as quais abriram sete úlceras em seu estômago), brigas dentro e fora do palco, perseguições de namorados e maridos ciumentos e do imposto de renda e, além de tudo, o singelo hábito de apreciar o manuseio de armas de fogo, chegando ao ponto de, em certos shows, antes de tocar a primeira nota, aconchegar seu berro sobre o tampo do piano.
Dez anos antes de Pete Towshend e Jimi Hendrix, já havia posto fogo num piano em pleno palco e continuou tocando enquanto as labaredas grassavam. Socava as teclas numa velocidade tão absurda que suas mãos se tornavam invisíveis, quando não as atacava com o salto de sua bota de cowboy ou com a bunda, sem sair do ritmo e do tom e sem depauperar a qualidade altíssima de suas performances. Enquanto as novidades entravam e saiam de moda, O Matador se mantinha irredutível à música que o formou, ou seja, àquela mistura arrasadora de elementos sonoros brancos e negros.
Quando foi queimado pela mídia como possível sucessor de Elvis, encontrou refúgio na música country, para a qual seu contemporâneo Johnny Cash já havia migrado. Porém, mesmo ali o espírito rockeiro se manteve incólume. Bob Dylan que, por essa época também flertava com o gênero, já havia conquistado a simpatia de Cash e, certo dia, passando por um estúdio, ouviu O Matador dedilhando um piano e não se conteve, convidando Jerry para fazerem alguma coisa juntos. Jerry Lee Lewis o fulminou com o olhar, fechou a tampa do piano numa batida e respondeu a proposta com um lacônico NÃO, segundo uma das biografias do próprio Dylan. O Matador não abria concessões.
As história desse legítimo "vida loka" do rock, contadas pelo próprio, apesar de filtradas pelo jornalista Billy Bragg, estão no livro "Jeryy Lee Lewis - Sua Própria História", publicado no Brasil em 2015 pela editora Ideal. Os exageros egocêntricos do primeiro músico a referir-se a si mesmo, na terceira pessoa do singular, como personagem das letras de suas músicas, fatalmente, poderão ferir suscetibilidades nesse medíocre politicamente correto onde estamos atolados. Mas se tem alguém que pode contar vantagem do alto vertiginoso de uma alucinante trajetória, esse alguém é Jerry Lee Lewis, o último rockeiro vivo.
"THE KING IS DEAD? LONG LIVE THE KILLER!"
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