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Guns N' Roses: o sucesso que a mídia forjou e destruiu - Parte 6

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 28 de novembro de 2013

23 de Novembro – data que marca o lançamento de álbuns como "The Spaghetti Incident?" e "Live Era 87-93" do GUNS N’ ROSES, além do primeiro álbum ao vivo do MÖTLEY CRÜE, "Live: Entertainment Or Death" e a orgia audiofônica do METALLICA, "Live Shit: Binge & Purge" – passamos, a partir dessa postagem, a abordar o difícil parto dos "Use Your Illusion" e a igualmente tortuosa renegociação contratual da banda [representada por Alan] com a gravadora do magnata DAVID GEFFEN.

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Michael: A resposta ao nosso último episódio tem sido muito boa, muitos elogios, ‘Hey, adoro a história que Alan tem dividido conosco’, e estão todos esperando pela continuação da história do Guns N’ Roses, então vamos simplesmente começar de onde terminamos, acho que foi quando eles estavam fazendo quatro shows em Pasadena, num Natal, você tinha mandado um fax para a MTV, e meio que naquele momento as portas começavam a se abrir para o Guns N’ Roses… manda ver!

Niven: Pra ser bem honesto, amigos, se temos algum propósito no que estamos fazendo hoje, talvez seja melhor evitar a cronologia dos fatos, e tentando discorrer sobre tudo que já foi dissecado à exaustão por aí, com inverdades, acho que se formos garimpar por relíquias desconhecidas, coias que eu acho que não tenham sido discutidas antes, ou que eu ache que ninguém viu, eu acho que isso pode ser mais divertido pra…

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Michael: OK, um dos assuntos que havíamos discutido foi a renegociação do contrato da banda com a gravadora Geffen…

Mitch: E claro, falando a respeito do próprio David Geffen, que tipo de pessoa ele era?

Niven: Eu não tenho certeza de que sou inteiramente abalizado para dar uma perspectiva definitiva sobre David, mas claro que tenho minha visão dele… e a renegociação em si foi interessante…

Michael: Quando foi que a renegociação ocorreu?

Niven: Começou em… ou foi em…foi no começo de 1991, em fevereiro.

Michael: E a renegociação com a Geffen foi porque o contrato original com a Geffen só previa um certo número de álbuns?

Niven: Não, foi a respeito de uma cláusula no contrato que estabelecia umas obrigações da banda para com a Geffen. Mas, claro, eles haviam assinado um contrato feito para um artista iniciante, e era um contrato bem decente, mas por definição, era um contrato de artista novo. E, por exemplo, a taxa de royalties deles para cada disco vendido era de, creio eu, 12%.

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E pela minha ótica…

Mitch: O que não é nada, a propósito.

Niven: Naquele tempo, 12% para um artista novo era decente. Mas desviando um pouco, eu acho que contratos são uma palhaçada, deveria haver um contrato padrão para todo mundo e acho que deveria ver uma progressão prevista ali. Se você vender muitos discos, sua taxa de royalties sobe muito. Se você não vender muito, sua taxa permanece baixa. E isso se basearia no desempenho de cada disco. E eu acho que isso poderia ser padronizado.

Mas, do meu ponto de vista, eu achava que era injusto que, tendo vendido muitos discos para David, que eles ainda estivessem confinados à taxa de royalties de um artista novo. Quando ficou provado que eles venderiam muitos discos no futuro, isso deveria ser reconhecido e honrado.

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Eu não conseguia ver o porquê de Don Henley ter uma taxa de royalties muito mais alta do que a do Guns N’ Roses, por mais que eu admire Don Henley por seu talento artístico, e o brilhantismo de seus discos, especialmente os últimos, o GN’R estava vendendo mais discos do que ele.

Mitch: Verdade, mas Don Henley já tinha uma carreira, era um artista estabelecido, naquela época, já fazia uns 15, 20 anos…

Niven: Você não me entendeu, Mitch…

Mitch: Eu sei.

Niven: O que defendo é que, dependendo de quantos discos você tenha vendido, a partir disso, sua taxa de royalties seria estabelecida. Não importa há quanto tempo você está no ramo, você podia estar no ramo faz 100 anos, e se você vendesse 700 mil cópias toda vez, beleza, e você podia estar fazia 10 minutos e vender 10 milhões, isso é o que precisa ser reconhecido.

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Mas eu tinha uns bons amigos na Geffen, e um deles me puxou pro canto um dia e disse, "Eu tenho uma informação na qual você pode estar interessado". E eu, "Mesmo? O que é?", e ele respondeu, "Tim Collins tem grudado em David [Geffen] e Eddie [Rosenblatt] pedindo pra que a taxa de royalties do Aerosmith seja aumentada".

E eu disse, "Ah, que beleza", e David tinha rido na cara deles e mandado eles irem se foder.

E eu emendei, "Bem, isso não me surpreende, conhecendo a David como eu conheço". E daí me disseram, "Tem outra coisa da qual você também deveria saber" – porque eles sabiam minha opinião a respeito desse tema. Eles disseram que Howard Kaufman, o empresário do Whitesnake, também tinha aparecido e pedido que o contrato do Whitesnake também fosse renegociado, e David não cedera nesse caso tampouco. Vamos levar em conta que esses dois artistas tinham acabado de vender cinco milhões de cópias somente nos EUA, o que é uma quantidade tremenda de discos pra se vender.

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Michael: Só pra que as pessoas entendam melhor isso tudo, o quão comum era que um artista pudesse chegar e pedir pra que seu contrato fosse renegociado, antes que esse contrato se encerrasse?

Niven: Dependia da gravadora. Por exemplo, a Capitol Records ofereceu fazer uma renegociação com o Great White, mas naquele momento, a banda estava prestes a cumprir todas suas obrigações contratuais com a Capitol, o quid pro quo seria que eles pediriam muito mais discos, e eu não tinha certeza, naquela altura do campeonato, se aquela seria a decisão certa a se tomar, dado o número de vezes em que aquela empresa havia mudado de presidente.

Mas voltando à Geffen, soube de como Alan Kaufman tinha voltado ao escritório de David Geffen trazendo David Coverdale com ele, achando que a presença de Coverdale iria forçar David a dizer, "Claro, David, você vendeu muitos discos pra mim, deixa que eu suba sua taxa".

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Acabou que Geffen foi bastante obtuso e mandou os dois saírem da sala dele.

Então o que eu aprendi com isso?

Mitch: Não leva o Axl?

Niven: Não, Mitch, o que aprendi foi que se você for pedir a David, não vai funcionar.

Michael: Você comunica a David…

Niven: A única maneira que eu tinha de aumentar a taxa de royalties do Guns, que eles mereciam completamente, seria achando uma maneira de comunicar diretamente a ele. E nisso, eu dei uma festa de aniversário no começo de fevereiro, um jantar privado num restaurante que eu gostava em Melrose, e entre os convidados, estavam Eddie Rosenblatt e sua esposa. E eu me sentei ao lado de Eddie e contei quantas taças de vinho Chardonnay ele havia tomado. Quando achei que já tinha subido pra cabeça, eu me inclinei pra ele e sussurrei a seu ouvido, "Olha, não fica bravo comigo, só estou passando o recado adiante. Mas você precisa ir até David e dizer que, caso ele queira que os ‘Use Your Illusion’ fiquem prontos, ele tem que renegociar. E tem mais: se ele não renegociar, eu vou começar a vender shows de uma turnê, e vamos sair em turnê e a banda vai se divertir muito, e eles vão ganhar rios de dinheiro pra eles, e David vai ficar sentado lá sem um disco."

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Eu também tinha conhecimento de que David estava tentando vender a Geffen naquela época, e estava procurando pela melhor oferta que pudesse receber. E eu conseguia ver, que, pelo ponto de vista dele, que ele realmente queria que o disco do Guns saísse antes da venda, pra ele lucrar com aquilo, e daí então vender a empresa.

Daí Eddie e eu calculamos que as vendas mundiais do "Use Your Illusion", só no primeiro mês, movimentariam algo na casa dos 100 milhões de dólares. Eddie havia me perguntado um dia quantos discos eu achava que o "Use Your Illusion" venderia, e já que eu tinha convencido Axl a fazer dois discos, ao invés de um disco duplo, eu achava que, sem problema algum, venderíamos quatro milhões de cópias de cada um, o que acabou sendo uma estimativa bastante precisa das vendas iniciais. Mas, infelizmente, eu obriguei Eddie a ir até David e dizer que não haveria disco a menos que ele renegociasse. E eu não ouvi nada por dez dias, e eu estava de olhos bem atentos no calendário, porque queríamos estar em turnê no verão, e a despeito do que o Sr. Rose possa dizer hoje em dia, TODO MUNDO queria sair em turnê, e ser a banda principal, no verão de 1991. Enquanto comento isso, faço questão de dizer que houve uma reunião no [estúdio onde boa parte dos ‘Illusion’ foram gravados] The Record Plant onde eu sentei Axl e disse, "Olha só, o que eu gostaria de sugerir é que começássemos na Austrália e na Ásia, Japão, e daí voltamos pros EUA. Isso nos dá tempo para nos acostumarmos com a condição de banda principal, nos dá tempo para criar uma sensação de euforia expectativa e implica em podermos ser a banda principal sem estar sob o foco da imprensa dos EUA, durante toda a turnê pela Austrália, e depois pelo Japão, estamos bem distantes da imprensa dos EUA e o Japão é um público bastante leniente. Poderíamos estar na ponta dos cascos quando chegássemos aos EUA."

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E ele adorou a ideia. Esses shows acabaram não se realizando porque não terminamos o disco a tempo.

Michael: Alan, naquela época, enquanto você tinha esse tipo de conversa com a banda, Axl estava assumindo o papel de líder da banda, ele está tomando decisões pelo resto da banda, ou todo mundo opinava, ou era Axl e Slash, qual era a dinâmica?

Niven: Não, com certeza ele não estava se impondo no papel de líder. Poder sentar e conversar com algo a respeito de qualquer coisa de modo objetivo geralmente era algo difícil de se fazer, de qualquer modo. Conversas sérias geralmente eram mais fáceis de travar com Izzy, com Slash, com Duff, e acredite, já tinha passado muito do momento que deveríamos ter esse disco pronto, tivemos que passar pelo processo de trocar de baterista pra terminar o álbum, todo mundo estava ansioso pra voltar à ativa. Quando Axl vai à imprensa e diz que ninguém se importava com ‘sua segurança e bem-estar’, eu não sei do que diabos ele está falando…

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Mitch: Espere, eu queria mesmo te perguntar sobre isso. Axl e o ‘novo’ Guns N’ Roses estão em turnê na Austrália nesse momento, e ele deu uma entrevista pra um jornal de lá, e ele disse, bem diretamente, que, na opinião dele, Alan Niven e Slash queriam dinheiro, e queriam sair em turnê, e não se importavam com a situação dele, tampouco com sua saúde, tipo ‘a segurança e o bem-estar dele não estava na preocupação deles’. Você não estava preocupado com Axl e qual era a situação dele?

Michael: Sim, qual era o lance da segurança e bem-estar que ele estava preocupado?

Mitch: Ele tinha alguma doença da qual não sabíamos?

Niven: Mais uma vez, vocês tem que sentar e tentar analisar isso sob a elaboração da mente de Axl.

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Se eu alguma vez tive alguma preocupação com segurança e bem-estar, foi quando lidava com os vícios de Slash, Izzy tinha conseguido controlar o dele, e estava sóbrio e funcional, Steven já estava fora da banda, nós o perdemos. Nós o perdemos. Tentamos a todo custo mantê-lo na banda, não quero falar sobre isso, porque já se discutiu isso milhares de vezes, e todo mundo sabe disso.

Mitch: Com certeza.

Niven: Mas do que o Axl está falando, eu não faço ideia. Ele estava saudável, ele estava malhando, Quais eram as questões de segurança dele, ou as questões de bem estar dele, só deus sabe. E dizer que eu só queria dinheiro é escancaradamente ridículo. Se eu só queria saber de grana, eu teria abdicado se ser pago pelo primeiro ano em que trabalhei pro GN’R? Porque eles precisavam de dinheiro mais do que eu precisava. E eu tinha acabado de ser pai naquela época, teria feito bom uso do dinheiro. Se eu só quisesse dinheiro, como o Great White ficou me devendo mais de um milhão de dólares quando rompemos nosso contrato? Não, eu não faço isso por dinheiro. Se eu tivesse nessa pelo dinheiro, eu teria ficado broxado com a perspectiva de trabalhar com o Bon Jovi, que foi algo que David Geffen tentou armar quando eu deixei de trabalhar com o GN’R? Eu, particularmente, não queria trabalhar com o Bon Jovi, teria sido lucrativo, mas [aumentando o tom de voz] ele não é um artista! Ele é um galãzinho, mas vamos voltar a falar da renegociação…

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Continua…

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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