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Pensadores e autores que inspiraram o Heavy Metal: Friedrich Nietzsche

Por Tadeu Salgado
Postado em 16 de outubro de 2009

É inegável que a literatura e a música, possuem uma conexão e uma correspondência que tem se conservado durante séculos. Segundo o texto "Goethe e o romantismo musical: uma abordagem pedagógica" (FLUC, História da Música), do professor Doutor José Maria Pedrosa Cardoso, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a relação entre poesia e música é um fato quase natural documentado pelo menos desde a Grécia dos aedos (artistas que cantavam as epopéias, composições gregas religiosas ou épicas, acompanhando-se de um instrumento musical de cordas chamado cítara) até à poética contemporânea.

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O heavy metal é um estilo musical nas quais inúmeras bandas se inspiram em conteúdos culturais para a composição de suas músicas, seja no campo da literatura, das artes plásticas, do cinema, da história ou da mitologia, o que faz com que compositores deste estilo musical possam ser considerados aedos contemporâneos.

Neste artigo, dividido em três capítulos, será apresentada a contribuição de três notórios pensadores para o heavy metal: o alemão Friedrich Nietzsche, que influenciou, sobretudo, as bandas do subgênero black metal; o inglês Aleister Crowley, mago e pensador que tem suas idéias referenciadas em letras de inúmeras bandas de metal; e o norte-americano Howard Lovecraft, escritor do gênero fantástico que serviu de inspiração tanto para as letras quanto para a arte-gráfica da capa de discos de várias bandas.

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Friedrich Nietzsche

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) inspirou muitos outros pensadores e, irrefragavelmente, músicos do gênero musical heavy metal (este termo será abordado no capítulo 3, termo este que originou na Inglaterra no fim da década de 1960). Muitos músicos, particularmente os de black metal, subgênero do heavy metal, consideram-no um iluminador esclarecido por suas idéias niilistas, misantrópicas e anti-cristãs.

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Nietzsche era considerado no seu tempo um profundo descrente religioso. Um de seus conhecidos enunciados é: "Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo". Esta expressão de conteúdo niilista indica que a crença em Deus é oposta aos princípios de realidade e da vida de Nietzsche, quando se verifica a idéia de que se você é um super-homem, não precisa da idéia Deus.

Outro exemplo que reforça esta idéia é o fragmento abaixo, retirado da obra "Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém" (1883-85).

O Homem Superior
(Tradução: Pietro Nassetti)
Quando pela primeira vez estive com os
homens cometi a loucura do solitário, a
grande loucura: fui para a praça pública.
E como falava a todos, não falava a
ninguém. E de noite tinha por
companheiros volatins e cadáveres; eu
próprio era quase um cadáver!
A nova manhã trouxe-me uma nova
verdade; aprendi então a dizer: "Que me
importam a praça pública e a populaça e
as orelhas compridas da populaça?"
Homens superiores, aprendei isto
comigo, na praça pública ninguém
acredita no homem superior. E se
teimais em falar lá, a populaça diz:
"Todos somos iguais".
"Homens superiores – assim diz a
populaça. – Não há homens superiores;
todos somo iguais; perante Deus um
homem não é mais do que outro; todos
somos iguais!"
Perante Deus! Mas agora esse Deus
morreu; e perante a população nós não
queremos ser iguais. Homens
superiores, fugi da praça pública!

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Segundo Nietzsche, foi por causa dos preceitos do Cristianismo que a elite européia se enfraqueceu ideologicamente, pois tirou desta sociedade a capacidade de retaliação e retórica, deixando-a passiva em termos de reflexão. O pensador alemão considerava ainda o cristianismo uma religião de homens privados da liberdade de pensamento que louvavam a pobreza, a modéstia e o medo, opondo-se à ética dos fortes, signo da política implementada pelos senhores romanos. A bondade, humildade, piedade e amor ao próximo, constituem valores inferiores para Nietzsche. Um super-homem é um forte, um aristocrata (no sentido de personalidade), um grande egocêntrico que cria suas próprias leis e regras e que não segue as de outras ideologias. Em seguida, apresentamos as ressonâncias do pensamento de Nietzsche conduzidas por músicos, pensadores abaixo citados:

A banda black metal norueguesa Gorgoroth, indubitavelmente é uma das mais influenciadas pelas idéias nietzschianas. Os álbuns intitulados "Antichrist" (1996), "Twilight of the Idols" (2003) e a música instrumental "Will to Power" representam forte presença da filosofia Nietzschiana.

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"Antichrist":
Tradução: "Anticristo". Titulo original: "O Anticristo - Praga contra o Cristianismo" ("Der Antichrist. Fluch auf das Christentum", 1888) – Nesta obra, Nietzsche conduz suas críticas mais agudas a Paulo de Tarso, o codificador do cristianismo e fundador da Igreja, acusando-o de deturpar o ensinamento de seu mestre.

"Twilight of the Idols":
Tradução: "Crepúsculo dos Ídolos". Título original: "Götzen-Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer philosophiert". Obra escrita em 1888 onde difama as crenças, os ídolos (ideais ou autores do cânone filosófico), e analisa toda a gênese da culpa no ser humano.

"Will to Power":
Tradução: "A vontade de poder". Obra nietzschiana póstuma onde apresenta as considerações mais ontológicas a respeito das doutrinas de vontade de poder e de eterno retorno e sua capacidade de interpretar a realidade. Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Em uma entrevista concedida ao sítio virtual Metal Crypt, em abril de 2005, o músico norueguês Roger Tiegs que tem o pseudônimo de Infernus, da banda Gorgoroth, afirma que Nietzsche é a sua principal influência como autor. "Definitivamente, as obras Crepúsculo, O Anticristo e Ecce Homo estão entre os meus 5 livros favoritos." Na entrevista, Infernus exalta Nietzsche e Satã. "Salve Nietzsche = Salve Satan!"

No documentário "Metal, A Headbanger’s Journey", o vocalista Kristian Espedal da já referenciada banda Gorgoroth afirma que "o satanismo é a liberdade que permite que o indivíduo cresça e se torne o super-homem. Todo homem que nasce para ser rei, se torna rei. Todo homem que nasce para ser escravo não conhece Satã."

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Rolf Rasmussen, pastor da Igreja de Asane, em Bergen, ilustra de modo subseqüente a presença de uma hierarquia de um comportamentos de uma elite ao afirmar que o black metal "é na verdade uma religião elitista. Somente para os melhores, os mais fortes e os mais bem-sucedidos. Não é para o íntimo e para o fraco. E, seguindo somente esta linha, não existirá muitos seguidores".

A banda inglesa de black Metal Anaal Nathrakh também apresenta forte influência de Friedrich Nietzsche. Pelos títulos de suas músicas "Human, All Too Fucking Human" e "Revaluation of All Values" percebemos a referência direta das primeiras passagens do livro "Assim falou Zaratrusta". Esta última música refere-se à sugestão de Nietzsche sobre a moralidade anti-cristã para o futuro.

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"Human, All Too Fucking Human":
Refere-se a obra nietzchiana chamada "Humano, Demasiado Humano", um Livro para Espíritos Livres (Menschliches, Allzumenschliches, Ein Buch für freie Geister, publicada em 1886).

"Revaluation of All Values":
Em 1888, Nietzsche escreveu o que pretendia ser o prefácio do primeiro volume de sua "Transvaloração de todos os valores", "talvez o mais orgulhoso prefácio já escrito". "Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu Zaratustra: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? - Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos".

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Outro bom exemplo de influências nietzschianas no metal é o álbum da banda de black e viking metal (novas formas de gênero do metal) Bathory intitulado "Twilight of the Gods", lançado em 1991, que traz na contra-capa o seguinte trecho de Friedrich Nietzsche, escrito em 1871:

"O, what harm do we not bring upon our self in search of the utter freedom in this modern age of madness. Man will need to ask herself: -"now that we seek to record all our origin, We have also proven that god is not. Who will now tell us so that we will listen, when we have broken the last of the laws of nature when we shouted "freedom. Liberty" and held nothing against the elimination of the first?" one may indeed fear this era, for it is not only the moment of truth and of repentance. For it is also truly...........The twilight of the gods!"

Tradução por Tadeu Salgado: "Ó, aquilo que não nos trazem danos em busca da completa liberdade nesta idade moderna de loucura. O homem precisará perguntar para ele mesmo: agora que nós buscamos registrar toda nossa origem, nós temos provado que Deus não existe. Que agora irá dizer-nos que nos dêem ouvidos, quando temos quebrado a última das leis da natureza, quando gritou 'liberdade'. Liberdade e realizou nada contra a eliminação da primeira? Pode, de fato, ter medo desta era, para ele não é apenas o momento da verdade e do arrependimento. Por isso também é verdadeiramente ........... O crepúsculo dos deuses!"

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Este fragmento se torna a forma de um emblema da era moderna em que, segundo Nietzsche, as pessoas irão perceber que Deus não existe e que nada poderá salvá-las. Será o período da "Decadência dos deuses", tradução do título do álbum.

Na obra de Friedrich Nietzsche nomeada "A Gaia Ciência" (1882), conhecida também como "Alegre Sabedoria", ou "Ciência Gaiata", encontramos no terceiro capítulo a famosa frase nietzschiana: "Deus está morto. Deus continua morto. E fomos nós que o matamos", pronunciado pelo Homem Louco em meio aos mercadores hereges. (A Gaia ciência, §125)

Esta citação inspirou vários músicos de bandas de metal. Como exemplo, podemos citar a música chamada "Totengott" ("Deus morto", em alemão), da banda suíça de metal Celtic Frost.

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A banda de metal californiana Machine Head compôs uma música intitulada "I’m Your God Now", também inspirada na frase de Nietzsche. A seguir, um pequeno trecho editado e traduzido da música:

Sua vida não é sua, você é somente meu escravo
Eu sou seu Messias da dor
Não há tempo para rezar
Porque sou seu Deus agora

Outra obra nietzschiana que influenciou bandas de metal foi "Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro", de 1886. Neste livro são expostos os conceitos de vontade de poder, a natureza da realidade considerada de dentro dela mesma, sem apelar a ilusórias instâncias transcendentes, perspectivismo e outras noções importantes do pensador. Critica as filosofias metafísicas em todas as suas formas, e fala da criação de valores como prerrogativa nobre que deve ser posta em prática por uma nova espécie de filósofos (Wikipedia). Para Nietzsche, esta é a obra mais importante, pois abrange grande parte de seus temas. At The Gates e Dismember, duas importantes bandas suecas de metal têm duas músicas intituladas "Beyond Good And Evil".

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Na Grã-Betanha, 31 anos depois do nascimento de Nietzsche, surge outro pensador que influenciou de modo impreguinante as bandas de metal: Aleister Crowley onde iremos apresentar na próxima parte sua contribuição intelectual para os músicos de Metal.

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Sobre Tadeu Salgado

Natural de Varginha, reside em Niterói, onde graduou-se em Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense. Já trabalhou com importantes diretores de cinema, tv e teatro como Domingos Oliveira, Marcos Paulo, Paulo Betti e Suzana Krugger. É editor da Agenda do Headbanger, agenda cultural online com informacões dos principais shows de rock e metal no Brasil.
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