Lucifer Was: a Noruega foi o berço de uma banda inovadora
Por Felipe de Alcântara Vieira
Postado em 21 de setembro de 2008
Apesar de não ser um celeiro de estrelas do rock, como os EUA e a Inglaterra, no início dos anos 70 a Noruega foi o berço de uma banda inovadora e com grande capacidade musical. Tudo começou quando o guitarrista Thore Engen e o baixista Einar Bruu, se conheceram ainda crianças e criaram fortes laços de amizade. Passaram por diversas bandas de pouca expressão tocando juntos, até que em torno de 1970, através de um amigo em comum, Knut Engan, conheceram três rapazes: Kai Frilseth, Tor Langbråten e Arild Larsen, que também tocavam juntos.
Logo, os seis se identificaram musicalmente e decidiram formar uma banda. Porém, havia um pequeno problema, tanto Einar quanto Arild eram baixistas, o que acabou inviabilizando a permanência de Arild na banda. Knut e Tor também desanimaram do projeto. Nesse momento, Thore Engen, Einar Bruu e Kai Frilseth (que era baterista) se uniram e estavam procurando alguém para compor os vocais. Foi quando conheceram Dag Stenseng, que além de vocalista era flautista. Os membros da banda acharam interessante mesclar o som clássico da flauta com os outros instrumentos e como Dag obviamente não podia cantar e tocar flauta ao mesmo tempo, Thore assumia os vocais em alguns momentos. Porém, para um melhor aproveitamento dos instrumentistas, foi adicionado mais um flautista à banda, Anders Sevaldson e de carona veio também Jan Ødegård no órgão.
Estava então formado o embrião do Lucifer Was, que na época tinha o nome de "Ezra West", um nome retirado da literatura inglesa, assim como Jetho Tull e Uriah Heep. Porém, esse nome se tornou um tanto quanto confuso, pois algumas pessoas achavam que a banda se chamava "Rett Vest", devido a pronuncia similar. Isso não agradou os membros do Ezra West, que decidiram escolher um nome diferente. A banda então passou a se chamar apenas Lucifer, o que também ocasionou problemas, pois muitas bandas nos EUA e na Alemanha já haviam adotado esse nome. Portanto, sem mais tempo para pesquisar um novo nome ou talvez por pura falta de criatividade, renomearam o grupo para Lucifer Was (ou seja, "Era Lucifer", ou "Éramos Lucifer").
Confusões à parte, a banda começou a se apresentar pela Noruega e fez relativo sucesso, inclusive participando de alguns festivais. O som dos rapazes era pesado, embora tivesse algo de progressivo. Uma definição interessante seria dizer que o Lucifer Was era uma mistura de Black Sabbath e Jethro Tull, o perfeito casamento entre flauta e guitarra é o ponto marcante nesse sentido.
Embora tivesse um futuro promissor, a carreira da banda se restringiu ao período de 1970 a 1974, quando por estarem tocando mais do que o que podiam agüentar, Jan Ødegård deixou a banda, o que culminou na separação de todos e no precoce fim do Lucifer Was, sem mesmo ter gravado um álbum.
Durante décadas o Lucifer Was ficou esquecido no tempo, até que em meados de 1995, Einar Bruu encontrou uma gravação de sua antiga banda feita em Oslo em 1974. Ao ouvir as canções, ele percebeu que eram muito boas, melhores do que ele havia imaginado, e resolveu contatar os velhos companheiros de estrada para reconstruir seu velho projeto. Todos, com a exceção de Jan Ødegård, concordaram e logo em seguida, com as músicas compostas na década de 70, começaram a tocar em bares, acertando todos os detalhes para finalmente em 1997 lançarem o seu primeiro álbum: "Underground & Beyond", que foi produzido pela própria banda e lançado tanto em CD quanto em LP. Um super-álbum, com riffs pegajosos e excelentes duelos de flauta/guitarra.
Felizes com o pequeno sucesso alcançado com o "Underground & Beyond", os (a essa altura do campeonato) jovens senhores se animaram e começaram a compor novas canções para seu próximo álbum. Chamaram um velho amigo Rolf Kjernet para a produção e em 2000 surgiu o segundo trabalho de estúdio da banda, o "In Anadi's Bower", que tinha músicas mais longas que o primeiro, além do uso de mellotrons tocados por dois músicos de estúdio: Knut Johannessen e Jon-Willy Rydningen. O vocalista Jon Ruder também foi inserido na banda, pois tinha uma voz mais alta e limpa. Essas novidades só contribuíram para uma evolução no som da banda e de forma alguma mudaram o estilo consagrado no primeiro álbum. A banda mandou fitas em busca de uma gravadora e conseguiu assinar com a sueca "Record Heaven". Depois do seu segundo trabalho nas prateleiras das lojas de música do mundo todo, o Lucifer Was começou a se tornar mais conhecido e tocou em vários festivais, principalmente na Suécia, onde se concentra a maioria de seus fãs. Inclusive, muitas pessoas acreditam que a banda é natural desse país. Apesar de estarem vivendo um bom momento, o flautista Anders Sevaldson abandonou a banda durante as gravações do "In Anadi's Bower", deixando a banda com apenas um flautista para a turnê de divulgação do álbum.
Em um show internacional realizado em Slottskogen in Gotemburgo na Suécia, a banda alavancou a venda de seus dois álbuns e anunciou a vinda de um terceiro. Seria o "Blues From Hellah", lançado no final de 2003. Nesse período houve mais uma baixa na banda, o flautista Dag Stenseng se afastou do Lucifer Was para se iniciar no ramo dos negócios. Para o seu lugar foi recrutado Morten Seyfarth.
Em 2007 saiu o mais novo trabalho da banda, o "The Divine Tree". Os dois últimos álbuns do Lúcifer Was são muito bons, porém mesmo seguindo a linha dos anteriores, não têm a mesma pegada dos dois primeiros.
Essa é uma história que nos ensina que nem mesmo o tempo pode acabar com o talento, nem com o gosto pelo bom e velho Rock n’Roll. Vida longa ao Lucifer Was!
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