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Comitiva
Stamp

Foo Fighters

Postado em 06 de abril de 2006

Material cedido por: BMG Brasil

Macauley Culkin e Foo Fighters... O que os dois poderiam ter em comum? Ambos cresceram diante dos olhares impiedosos e insaciáveis do público. Para Dave Grohl e sua turma, as coisas sempre foram diferentes. Tudo indicava que a carreira do grupo seria tão excitante quanto a metade adulta da carreira de um astro-mirim. Mas o terceiro álbum está aqui, para nos lembrar que é legal tocar alto e afinado, que músicas sobre garotas podem ser muito bacanas... e que não é toda banda que precisa de uma droga de um DJ para mexer no seu som.

Recapitulando: depois do fim do Nirvana, Dave gravou uma fita demo que lhe valeu um contrato - a partir de seu próprio selo, Roswell Records. Tudo na fita tinha sido tocada pelo ex-baterista da banda de Kurt Cobain, ele precisava de músicos para dar forma a um novo grupo. Depois de assistir a um show da Sunny Day Real Estate, presenteou a famigerada demo para o baixista Nate Mendel e o baterista William Goldsmith e, em pouco tempo, os dois estavam arrebanhados. Pat Smear, ex-guitarrista dos Germs (mitológica formação punk californiana) e do Nirvana, também entrou na turma.

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Sem entrevistas, sem foto e sem clipe para o primeiro single, "This Is A Call", uma primeira turnê foi iniciada, com shows em pequenos lugares. Um ano e meio depois, impulsionada por energéticas performances ao vivo, um grande hit de rádio ("I'll Stick Around") e um prêmio de Clipe do Ano da MTV americana por "Big Me", o álbum de estréia dos Foo Fighters virava disco de platina.

Depois de aproximadamente cinco minutos de descanso, Dave fez a trilha do filme The Touch e começou a trabalhar no segundo álbum, The Colour And The Shape, com o produtor Gil Norton (Pixies). O baterista William Goldsmith saiu no meio das gravações, sendo substituído pelo próprio Dave Grohl, já titular dos vocais e guitarras. Para a turnê que veio depois, porém, assumiu as baquetas Taylor Hawkins, ex-titular da banda de Alanis Morissette, fã de Queen e de rock sinfônico. O novo integrante já deu as caras no clipe de "Monkeywrench", que marcou a estréia de Dave como diretor de vídeos.

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O segundo álbum, The Colour And The Shape, mostrou que os Fighters seriam uma das mais inspiradas fontes de rock da década. Além de "Monkeywrench", "My Hero" e "Everlong" fizeram rimar qualidade e popularidade nas rádios de todos os continentes. A terceira canção, aliás, ganhou um clipe historicamente bom, com o toque de neo-surrealismo magritteano do diretor francês Michel Gondry.

No entanto, mais problemas viriam: Pat Smear pediu as contas. Seu substituto, apresentado no MTV Video Music Awards de 1997, foi Franz Stahl, por coincidência, ex-colega de Pat na banda Scream, lenda do hardcore de Washington D.C. O novo guitarrista também não ficou por muito tempo, saindo do meio deste ano (além de completar a turnê de The Colour And The Shape, tocou em duas faixas que os Fighters gravaram para trilhas de filmes:"A320", incluída em Godzilla, e "Walking After You", de Arquivo X.

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There Is Nothing Left To Lose foi feito na casa de Dave, na Virgínia, sem nada daquilo comumente associado a discos de platina. Não havia intromissão da gravadora, não havia cronograma de trabalho, não havia ninguém de fora dando palpite, não havia pressão... Antes de convidar Nate e Taylor, mais o co-produtor Adam Kasper para passarem um tempo em sua propriedade, Dave instalou um estúdio com equipamentos dos anos 70 no porão da casa. As músicas foram compostas e gravadas na hora em que os músicos achavam que tinha de ser, mais ou menos como Bob Dylan e The Band trabalhavam na Big Pink (mas sem nenhum acidente de motocicleta...). Vários churrascos rolaram, uma boa quantidade de cervejas foi consumida. Dizem até que uma garrafa de Crown Royal foi "matada" certa noite. Nos intervalos dos trabalhos, Taylor ouvia Queen e Yes, expulsando do CD-player um velho disco do Lynyrd Skynyrd de Dave. Um bom jogo de basquete na TV era motivo para parar tudo por duas horas.

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Mas Nate correu todos os dias e manteve uma alimentação saudável. E o disco ficou pronto em pouco tempo, sem crises nem maiores problemas. O primeiro single, "Learn To Fly", reapresenta o som característico da banda: guitarra, maravilhoso instrumento que nada consegue substituir, e uma voz como veículo confessional sem disfarces e sem medo de irromper em gritos de vez em quando. Adam Kasper (que já trabalhou com Soundgarden e Pearl Jam) não impõe moldes rígidos do rock às canções. Ele as deixa respirar, como fica bem explícito em "Gimme Stitches", que caminha fanfarrona como um rock dos anos 70 até topar com um muro de guitarras. A primeira faixa, "Stacked Actors", é uma invasão ao território do rock pesado do novo milênio. Um refrão à la Alan Parsons mostra o quanto de carne os músicos andavam ingerindo (à exceção de Nate, vegetariano) na ocasião. "Breakout" é uma música que joga no lixo o velho rótulo "pós-punk": direta, pura e com Dave gritando feito um garotinho que deixou seu sorvete de casquinha cair no chão. "Aurora" é um canção para bailes de formatura ginasial, uma ode a virgindade americana perdida com "hell, yeah" no refrão. Peter Frampton ainda está vivo em "Generator", um rock que revive o velho efeito talk box, rapidamente impulsionado pelo bumbo de Hawkins. "MIA" traz um crescendo impressionante, feito uma represa prestes a estourar. "Ain't It The Life", com um balanço honky-tonk, longe de enveredar pelos cercados de Garth Brooks, é apenas uma amostra do que os Foo Fighters podem fazer com ajuda de uma bela guitarra pedal steel e aquela angústia presente nos bons rocks. Em outra direção, os anos 80, "Headwires" é quase uma homenagem aos Cars, com a guitarra conduzindo a uma mudança rítmica explosiva que atesta o domínio dos truques dinâmicos que toda grande banda precisa conhecer.

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Foo Fighters. Não há mais nada a perder. Mesmo.

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