Kraftwerk - Dois... pra começar
Por Roberto Almeida
Postado em 03 de dezembro de 2004
Autobahn e The Man-Machine mostram a passagem do minimalismo pro electro-pop que marcou a carreira do Kraftwerk e incendiou as caixas de som antes de qualquer DJ
A pré-história da música eletrônica começou quando Ralf Hütter e Florian Schneider decidiram colocar a chave na ignição e dar a partida num carro. Simples, não? E como ninguém pensou nisso antes? Em tempos de ópera-rock, rock progressivo, e a busca por uma complexidade infinita de arranjos, pelo jeito nenhum ser vivo imaginava que meia dúzia de sintetizadores pudesse marcar tanto a história da música. O resultado foi Autobahn (1974), considerado o melhor disco do Kraftwerk.
Depois de dada a partida, o carro começa a acelerar. E a batida começa a hipnotizar. Há quem recomende Autobahn - o disco - para viagens (de preferência numa autobahn de verdade, sem buracos legitimamente brasileiros). Mas dá para ficar parado num lugar só, viajando da mesma forma.
Autobahn, a faixa título, pensada em termos musicais, é minimalista e progressivo. E uma bela e longa progressão de 22 minutos. De começo simples, a coisa cresce, se reproduz e morre. "É como a vida!", você disse? Calma. Explicando: a música se estabelece sobre uma base única – buzinas, batida, e os mantras em alemão; depois, ela cresce com as variações da mesma base. Vale ter paciência. O caldo engrossa depois de 5 minutos. Daí por diante que a criatividade dos alemães vêm à tona, e por isso é bom pensar o álbum como um esquema de contrastes. A base inicial é substituída por outra (sempre remetendo à primeira), polarizando as partes da música. E nisso eles são bons.
Quatro anos depois do sucesso de Autobahn, o Kraftwerk tentou o electro-pop e se deu bem. Do tema da estrada, o grupo resolveu ver o progresso científico com os olhos da música eletrônica. Por primeiro, a robotização da indústria – ou de seus funcionários em The Robots; na seqüência, as viagens espaciais de Spacelab e o clima frenético da Metropolis.
Às diferenças entre Autobahn e The Man-Machine: o primeiro é "cantado" em alemão, o segundo é cantado – sem as aspas – em inglês. Parece um detalhe besta, mas não é. Isso quer dizer que, além de terem mudado o idioma, eles mudaram a concepção inicial do grupo para atingir o novo mercado. Por isso, The Man-Machine é muito mais pop. Basta ouvir The Model. A faixa, altamente dançante, é o mais perto que o Kraftwerk pôde chegar de Saturday Night Fever.
Outro ponto que o Kraftwerk contribuiu para a história da música foi, com The Man-Machine, ter dado base para o desenvolvimento da new wave nos anos 80. É um protótipo do que New Order, The Cure, Devo e outros fariam alguns anos depois.
Aí está. Se você quiser entender como tudo começou, procure por Autobahn. Agora, se quiser ver de onde a new wave surgiu, procure por The Man-Machine.
Esta matéria foi originalmente publicada na coluna Vitrolaz do Whiplash!. Informação para quem gosta de cultura. O Vitrolaz é uma revista eletrônica que fala de música, cinema e literatura. A proposta é apresentar sempre críticas, resenhas e entrevistas onde o que é novidade se mistura com o que fez história. O site, que tem uma equipe de jornalistas dividida entre Recife e Curitiba, também abre espaço para enquetes, comentários e promoções.
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