O Concreto Já Rachou... E a chama segue mais viva que nunca!
Resenha - Plebe Rude (Toca, Sorocaba, 05/04/2025)
Por Flávia Pais da Silva
Postado em 29 de abril de 2025
Entusiasta do rock 'n' roll desde que me entendo por gente, escrevo com o coração ainda pulsando forte após uma noite que ficará eternizada na memória de todos que compareceram a A Toca, em Sorocaba/SP, no último sábado, 5 de abril de 2025. O motivo? A Plebe Rude subiu ao palco para celebrar quatro décadas do álbum "O Concreto Já Rachou" — e, mais do que um show, entregou uma verdadeira aula de resistência sonora e paixão por aquilo que realmente importa.
UMA NOITE PARA CONTAR AOS NETOS
Atualmente formada por Philippe Seabra (voz e guitarra), Clemente Nascimento (voz e guitarra), André X (baixo) e Marcelo Capucci (bateria), a banda mostrou logo nos primeiros acordes que não estava ali apenas para tocar — estava ali para marcar época.

A abertura com "Sua História" já deu o recado: seria uma viagem musical intensa, com direito a gritos, sorrisos e olhos marejados. Na sequência, "Anos de Luta" e "Censura" incendiaram o público, que respondeu com cantos em uníssono e energia contagiante. Difícil saber quem cantava mais alto: os músicos no palco ou a multidão colada nas grades.

CAMADAS DE REBELDIA E POESIA URBANA
"Este Ano" trouxe uma carga emocional poderosa, com sua melodia envolvente ecoando como uma prece urbana. Já em "A Ida", foi possível perceber o quanto a banda sabe equilibrar intensidade e melancolia.

O ponto alto da metade inicial ficou por conta de "Seu Jogo" e "Um Outro Lugar", que mergulham em dilemas existenciais e afetivos, sem nunca abandonar a pegada combativa que é marca registrada do grupo.
"Pêndulo", com sua sonoridade soturna, abriu espaço para um momento mais introspectivo, enquanto "Dead Heart" — cantada com firmeza por Seabra — reforçou que a Plebe nunca se limitou a discursos fáceis. Eles escancaram feridas, mas também apontam saídas.
A PLEBE NÃO PERDE A PRESSÃO
A virada do set veio com a sequência avassaladora de "Pressão Social", "Johnny Vai à Guerra" e "Medo", três músicas que poderiam muito bem ter sido escritas ontem, tamanha a atualidade das letras. A iluminação dramática, com tons vermelhos e som abafado nas intros, criava a atmosfera perfeita para a reflexão crítica que essas faixas propõem.

"Minha Renda" e "Sexo e Karatê" trouxeram momentos de ironia afiada, com ritmo mais dançante e toques de deboche que provocaram sorrisos e pulos na plateia. A química entre Clemente e Seabra nos vocais funcionou como um motor duplo, impulsionando cada verso com emoção verdadeira.
UM FINAL DE ARREPIAR ATÉ O ÚLTIMO ACORDE
A reta final do show foi um espetáculo à parte. "Proteção" soou como um grito coletivo por cuidado e empatia em meio ao caos, enquanto "Mais Tempo Que Dinheiro" foi recebida como um hino pessoal por muitos na plateia — uma espécie de desabafo cantado com orgulho por cada garganta presente.
"Bravo Mundo Novo", com sua letra distópica e energia vibrante, fez a ponte perfeita para "Brasília", onde o retrato da capital como símbolo de alienação e poder ganha nova roupagem a cada nova geração.

E então, como se todo o show tivesse sido um grande ritual de preparação para aquele momento, "Até Quando Esperar" veio como o ápice. Todos os celulares desligados. Todos os punhos erguidos. Cada palavra gritada com o peso de quem não quer — e não vai — se calar!
PARA O FÃ DE ONTEM, PARA O QUE CHEGOU HOJE E QUE AINDA CHEGARÁ
A Plebe Rude provou que continua relevante, viva e fundamental. Em tempos em que a arte muitas vezes é domesticada, eles seguem fazendo barulho com propósito. Quem esteve em A Toca viveu algo raro: uma explosão de memória, crítica e afeto, moldada por riffs marcantes e letras que ainda cutucam feridas abertas.
Se você ainda não mergulhou no universo deles, este é o momento. Porque o concreto pode ter rachado em 1985, mas a revolta — e o amor — seguem firmes. E enquanto houver quem cante com o peito aberto, nunca será tarde para ser parte da Plebe. Vida longa aos Mestres!

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