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João Rock: 20 anos do maior festival de Rock Brasileiro

Resenha - João Rock (Parque Permanente de Exposições, Ribeirão Preto, 03/06/2023)

Por Giuliano Augusto Trondoli Cunha
Postado em 02 de julho de 2023

Fotos: Carla Tanaka

Não é à toa que o João Rock é o maior festival de música 100% Brasileira que existe atualmente. O que se viu na comemoração de sua 20ª edição foi algo que com certeza ficará na mente de quem compareceu no Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto no dia três de Junho.

Antes de mais nada, é preciso entender que, apesar de ter "Rock" no nome, o festival tem a grandeza de se estender por outros estilos musicais que vão do Forró ao Rap. E - para os "roqueiros" mais cabeça fechada - isso não é demérito do festival, pelo contrário, é um grande sinal de excelência que a cada ano atrai mais espectadores tendo chegado a 75 mil nesta edição. Afinal, o público teve a chance de ver no mesmo dia apresentações de nomes consagrados do Rock Nacional como Os Mutantes, Pitty, Ira!, Capital Inicial, CPM22 além de gigantes da música Brasileira como Gilberto Gil, Zé Ramalho, Alceu Valença, Tom Zé e outros… Porém vamos começar falando do novo palco do festival, o Aquarela, que teve um line-up 100% feminino e ainda contou com homenagens a duas estrelas do Rock Nacional: Rita Lee e Cássia Eller.

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A primeira nos deixou recentemente após uma batalha contra um tumor cancerígeno apelidado por si própria de "Jair". No palco Rita foi representada pela cantora e ex-BBB Manu Gavassi. O show foi nos mesmos moldes do álbum "Acústico MTV: Manu Gavassi Canta Fruto Proibido", muito elogiado pela própria Rita.

Apesar da fama que recebeu com o BBB, Manu lançou seu primeiro álbum em 2010, uma década antes de participar do programa. A banda que se apresentou é interinamente feminina e formada por Alana Ananias na bateria que demonstrou muita precisão e técnica nas viradas, Ana Karina Sebastião no baixo com uma presença de palco sensacional, a excelente guitarrista Juliana Vieira mostrando o porquê de já ter tocado com grandes nomes como Paulo Miklos (Titãs) e Marcelo Falcão (O Rappa), Mônica Agena também nos violões e solando sem sequer abafar uma nota (Luiz Carlini sentiria orgulho ao vê-la tocando suas músicas). Luana Jones (backing vocal), Mari Jacintho (teclados), Michelle Abu (percussão), e Srta. Paola no backing vocal e dividindo o vocal principal durante a execução de Ovelha Negra.

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Além das músicas do Fruto Proibido, a banda também tocou "Bossa Nossa" - da carreira solo da Manu - que tem uma letra interessante que cita Rita Lee e Os Mutantes, e também "Lança Perfume", outro clássico de Rita Lee.

Já a segunda homenagem do palco ficou por conta de Ana Carolina cantando Cássia Eller. Ana dispensa apresentação, a sua carreira já está consolidada e seu alcance vocal se encaixou perfeitamente nas músicas de Cássia como All Star, Nós, Relicário, Partido Alto, E.C.T., Malandragem e Todas As Mulheres do Mundo. Durante a execução da última citada, foram mostradas no telão fotos de personalidades femininas símbolos de empoderamento como Frida Kahlo, Diana, Greta Thunberg, Marie Curie, Malaia Yousafzai além das Brasileiras Elza Soares, Leila Diniz, Elis Regina, Marta e, como não poderia faltar, as homenageadas Rita Lee e Cássia Eller. Apesar de alguns pedidos de ajustes técnicos no seu retorno durante o show, a apresentação ocorreu conforme esperado com a Ana indo de um lado pro outro do palco, o público cantando as músicas eternizadas na voz da Cássia e até um solo de pandeiro feito por Ana após Quando A Maré Encher (cover da Nação Zumbi).

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Faltou um pouco de interação com o público presente, mas ainda assim, já no final do show quando cantou "Garganta" e "Quem de Nós Dois" de sua carreira solo, fazendo lágrimas caírem dos olhos de quem estava na plateia.

Mas agora vamos para o Palco Principal do evento que teve a maioria dos shows de Rock. A primeira banda do estilo abordado aqui em nosso portal foi a veterana Capital Inicial. Logo no início já fez todo o público presente ficar com as mãos no ar com o tchurutchu – mas da música "O mundo", ainda não de Natasha – e em seguida já emendaram com um clássico "Independência", faixa título do álbum de 1987. E se teve alguém que não levantou as mãos na primeira música, com a segunda a banda já conquistou o público inteiro que cantou e pulou junto com vocalista Dinho Ouro Preto.

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Na primeira pausa do show, Dinho relembrou que nesses 20 anos de João rock, o Capital se apresentou pela primeira vez no festival na segunda edição ocorrida em 2003 e enalteceu o fato de serem bandas Brasileiras se apresentando.

O show continuou com a balada "Depois da meia noite", "Todas as noites", "Tudo que vai" e "Olhos vermelhos".

Antes de começarem a tocar "Primeiros erros (Só chove)", Dinho diz que ela deveria ser oficialmente o hino de Ribeirão Preto, não somente pelo fato Kiko Zambianchi (compositor dela) ser natural de Ribeirão, mas também pelo verso "viraria Sol" já que durante a apresentação o calor e céu aberto característico da região estavam bem fortes como de costume nas tardes do festival.

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Dinho é um verdadeiro showman, mesmo com a público cantando em alto em bom som a música, ele parou a música para pedir que as pessoas de cada parte do público levantasse a mão e gritasse. E quando ele pediu para ver as mais de 120 mil mãos levantadas para cima, as notas do violão voltaram a tocar o refrão da música. Um mar de pessoas iluminadas pela luz do Pôr-do-Sol cantando em clima de paz e alívio, cena emocionante de se ver principalmente nesses tempos pós-pandêmicos.

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E só hits vieram depois com todos sendo acompanhados pelo público, "Não olhe pra trás", "Música Urbana" e "O Passageiro".

Em seguida Dinho lembra que a próxima música, considerada por ele um das mais legais do Rock n’ Roll Brasileiro, foi feita pelo baixista Flávio Lemos junto com Renato Russo na adolescência de ambos quando ainda integravam a lendária banda Aborto Elétrico. Deste modo, os primeiros acordes de "Fátima" aparecem e, como não poderia deixar de ser, o público canta a música com banda que emenda em seguida "Veraneio Vascaína", outra música da época do Aborto Elétrico.

As duas últimas músicas não são somente as músicas mais conhecidas da banda - "Natasha" e "À sua maneira" - mas são também provas de como os integrantes mantêm relevância. Yves Passarell - que junto com André Mattos foi guitarrista fundador da banda de metal Viper – e Fabiano Carelli formam a dupla de guitarra que sempre estavam na parte da frente do palco chamando o público pra curtir as músicas. Como de costume, os irmãos Flávio e Fê Lemos fazem a cozinha simples, mas muito bem executada e sincronizada com o restante da banda. E nem precisamos lembrar que o Dinho possui um carisma e uma energia que muitos dinossauros do Rock mundial deixaram de ter há décadas, sabe ir ganhando o público a cada música e ao final do show faz bater aquela sensação de quero mais no público presente (Ok, isso também se deve ao fato dos shows no festival durarem de 55 a 60 minutos).

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Ao anoitecer, na parte de cima de uma escada no meio do palco decorado nas cores preta e roxa e iluminado em azul, aparece ninguém menos que a cantora Pitty com a sua guitarra e já mandando a música "Teto de vidro". Assim foi dada a largada na noite do palco principal do festival.

E mesmo com o som alto das guitarras vimos que o público estava em total sintonia com a cantora (até mesmo quando ela se enganou com o início de um verso e com um certo humor nem deu importância pro erro. Mas tudo bem, o som das vozes da plateia era tão alto que poucos perceberam).

Na segunda música já tivemos "Admirável Chip Novo" que, além de ser faixa-título de seu álbum de estreia. também dá nome a atual turnê em comemoração aos seus 20 anos.

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E no início próxima canção, surge uma gravação de uma reunião ambientada na época antes do lançamento do álbum onde a Pitty fala que a música que deveria ser lançada como primeiro single do álbum enquanto uma voz masculina diz que o "pessoal da reunião acha que o single deveria ser se uma música mais calma, mais comportada pra chegar devagar" e após Pitty responder "E eu lá vim da Bahia pra chegar devagar? Vamos nessa, rapaz", começa a música "Máscara".

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E com essa trinca de músicas com letras fortes e presentes, além das guitarras pesadas flertando com o Heavy Metal, Pitty mostrou que mulheres também sabem fazer rock (e muito bem, diga-se de passagem).

Na sequência tivemos um pequeno solo "à la Little Wing" do guitarrista e aniversariante do dia Martin Mendoça que já emendou com as primeiras notas de "Equalize", aquela música que todos os rockeiros e rockeiras de plantão queriam que tivesse sido feita pra si.

É importante enfatizar que essas primeiras quatro músicas do show também são as primeiras do álbum lançado há 20 anos. E poucos são os artistas que logo no início da carreira já conseguem músicas que ficam marcadas para sempre na cabeça dos fãs e são cantadas inteiramente por mais de duas décadas. O mérito é todo seu, Pitty.

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Na sequência tivemos "O lobo", "Emboscada", "Do mesmo Lado", "Só de passagem", "I wanna be" e "Semana que vem" que fecharam a parte do setlist dedicado ao álbum de estreia. E, mesmo sendo músicas menos famosas que as primeiras, foram músicas cantadas pelo público, principalmente "O lobo" e "Semana que vem".

Já na reta final do show, Pitty explicou que o show da turnê costuma ser dividido em três atos mas naquela noite por conta da limitação do tempo de palco, a banda já iria pular para o terceiro ato. E assim foram tocadas "Na sua estante" e "Me adora", esta última com direito ao público batendo palma e cantando o refrão à capella.

Antes de finalizar o show, Pitty explicou que normalmente "Me adora" é a última música dos shows da turnê, mas ela aproveitou e reservou a última canção para falar sobre ela ser novamente a única mulher a se apresentar no palco principal do festival (vale ressaltar que na edição de 2022 ela apresentou o show PittyNando juntamente com Nando Reis). E como um último pedido para o público, ela pediu que as pessoas utilizassem a voz e o amor para prestar uma homenagem a sua amiga Rita Lee, a quem ela se referiu como uma das maiores mulheres que já passou por essa galáxia.

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Novamente não é necessário falar que a multidão de mais de 60 mil pessoas a acompanhou e cantaram à capella o refrão com os olhos lacrimejando, principalmente depois que Pitty emendou o último verso "não vai mais voltar..." da música com as frases "mas continua e permanece, e reside, e habita, e transita e ocupa o éter de nossa vida" e pediu ao público "um minuto de barulho". Uma bela homenagem a ídola e eterna rainha de todos os rockeiros e rockeiras do Brasil.

O show da Pitty não é somente um excelente show, mas é uma manifestação importante nos dias de hoje pela atitude que ela tem dentro e fora dos palcos ao mostrar que o rock também é um estilo musical feito por mulheres, além de que a música é algo transgressor e idealiza mensagem de ir contra as coisas que estão erradas na nossa sociedade. E se o Brasil não tivesse Rita Lee como a eterna Rainha do Rock, com certeza esse posto seria ocupado pela Pitty.

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E a difícil missão de continuar com os shows no palco principal estava com os veteranos do Ira!, o que conseguiram com proeza.

Confesso que estava meio desconfiado de como seria o show da banda paulistana tocando já em horário nobre do festival cujo o público em sua maioria não costuma passar dos 30 anos de idade. A música de abertura foi "Dias de luta" que teve seu refrão cantado pelo público seguida por "Flerte Fatal", dois clássicos que mostraram que a banda não estava ali para brincadeira.

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As próximas músicas foram "Farto do Rock n’ Roll" (cantada pelo guitarrista Edgard Scandurra), "Pegue essa arma", "Rubro zorro" e "Advogado do Diabo" que não chegaram a agitar o público, mas que também não fizeram sair de seus lugares, afinal, todo mundo sabia que a banda ainda tinha muita bala na agulha.

E isso ficou claro quando banda tocou "Flores em você" com partes cantadas à capella pelo público e "Tarde Vazia".

E antes da versão de "Foxy Lady " de Jimi Hendrix, ainda tivemos a canção "No universo dos seus olhos" e uma mensagem de Nasi para o público pressionar os políticos - a quem se referiu como "adultos que brincam que são deuses, deuses da destruição" - a preservarem a floresta Amazônia assim como a mata Atlântica também.

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E com a versão de Hendrix, ficou claro porque Scandurra foi eleito por quatro anos o instrumentista brasileiro mais influente e também um dos 100 músicos mais importantes da MPB pela revista Rolling Stone. Ele é uma lenda viva da guitarra Brasileira.

A seguir veio "Eu quero sempre mais" com Scandurra lembrando que há quase 20 anos, Pitty gravou essa música com eles para o acústico MTV. Esta música e "Tarde Vazia", lançada no mesmo acústico com a participação de Samuel Rosa (Skank), foram responsáveis por apresentar banda Ira! àqueles nascidos na década de 90 e início dos 2000 e hoje são a base de frequentadores do João Rock que cantaram em alto e bom som seus versos.

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No final do show tivemos "Envelheço na Cidade" e "Núcleo Base", clássicos que fizeram o público pular aos gritos enquanto entoavam as letras, e como último suspiro ainda teve uma rápida inserção de "Blitzkrieg Bop" e "Sheena is a punk rocker" dos Ramones.

Não importa o que aconteça com a banda ou com seus integrantes, o Ira! sempre será uma das bandas mais importantes da história do Rock Brasileiro. A formação que tem ainda Evaristo Pádua na bateria e o sensacional multi-instrumentista Johnny Boy no baixo e teclado sabe como poucos mostrar a importância da energia do Rock durante os mais de 40 anos de história.

E falando sobre as bandas mais importantes do país, precisamos falar sobre BaianaSystem que dentre as bandas surgidas na última década, é a banda mais importante do país. Não falo isso por conta de já terem vencido o Grammy Latino ou ter feito parcerias com grandes nomes como Margareth Menezes (atual Ministra da Cultura), Gilberto Gil, Chico César, Bnegão e afins ou até mesmo já ter sido abertura de novela Global por duas vezes.

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O BaianaSystem se utiliza da riqueza musical e cultural Brasileira para moldar sua sonoridade única. Percebemos que há elementos musicais feitos pela guitarra baiana do Roberto Barreto que atrai os amantes do Rock e estão misturados com outros elementos do Reggae, do Sound System, dos ritmos latinos, da Tropicália e também da MPB.

Logo no início do show já temos um aviso no telão que dá um norte dos temas tratados nas letras: "1º: Nunca matar. 2º: Jamais ferir. 3º: Estar sempre atento. 4º Sempre se unir 5º Desobediência às ordens de sua excelência que podem nos destruir." Feito isso, já começam a serem ouvidas as primeiras notas da música "Reza Forte" e o público já começa a dançar. Mas o público vai realmente a loucura quando começa "A Mosca", música que tem alguns versos retirados de "Mosca na sopa" do também baiano Raul Seixas. Nesse momento o que se percebe na plateia é o surgimento de várias rodas, pessoal batendo cabeça entoando o verso "Nossa cultura em primeiro lugar. Primeiro Lugar" e continua assim na música seguinte "Cabeça de Papel".

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O público só para - um pouco - de pular e bater cabeça na música "Capim Guiné", mas não por falta de agito na música e sim pelo momento em que as rodas de amigos estão focadas em acender os cigarros de "erva de capim guiné" que soltam "cheiro da erva sobrenatural" conforme os versos da música.

Bom, a próxima música já é considera um clássico da banda: Sulamericano. Esta canção não tem apenas uma letra que todos nós latinos americanos deveríamos refletir, mas também cantar como o público presente fez nos versos "Nas veias abertas da América Latina / Tem fogo cruzado queimando nas esquinas / Um golpe de estado ao som da carabina, um fuzil / Se a justiça é cega, a gente pega quem fugiu / Justiça é cega."

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Na sequência tivemos "Magnata" e "Brasiliana", está feita em parceria com Chico César e contendo a lição para aqueles que esquecem de onde nasceram: "Brasileiro, brasiliano, você nunca foi norte americano"

A banda passou por várias músicas com diversos temas políticos e culturais sendo abordados como "Balha na Agulha", "Capucha", "Bola de Cristal" e a mais famosa canção da banda: "Lucro (descomprimido)". Uma crítica a gentrificação das cidades brasileiras, principalmente as litorâneas, movidas pela ganância dos ricos loucos.

Na parte derradeira do show tivemos ainda "Miçanga" e "Panela / Calamatraca / Pagode Russo" antes de finalizarem com "Saci".

Assim, a apresentação do BaianaSystem não é somente um show. É uma experiência que mesmo estando lá sentindo a energia e compreendendo as letras, é impossível de ser descrita. O público sabe que o respeito entre si é fundamental, mas no caso do Baiana o que vemos é rodas exclusivas de mulheres batendo cabeça sem medo de sofrerem qualquer tipo de assédio, até mesmo nas rodinhas mistas o respeiro impera, não vemos pessoas com cotovelo alto pra atingir as outras pessoas, pessoas tentando socar outras, não vemos mulheres sendo assediadas pelos marmanjos que acham que podem fazer qualquer coisa, não vemos pessoas querendo arrumar briga ou ser violento dentro das rodas. O show do Baiana é um lugar da paz convivendo com o agito e a adrenalina. Se você leitor nunca foi para algum show deles e tiver a oportunidade de ir, compareça.

Com a energia do público a mil após o show do BaianaSystem, a banda CPM22 tinha a difícil missão de não deixar a galera esfriar. Entregaram um show enérgico e cativante para o público presente, afinal, é a banda que mais vezes tocou no João Rock (simplesmente em todas as edições). Com sua mistura de punk rock e hardcore melódico, a banda proporcionou uma experiência cheia de emoção e intensidade .

Durante a apresentação, o CPM22 demonstrou uma excelente conexão com o público, levando os fãs ao delírio com sucessos como: "Não sei viver sem ter você", "O mundo dá voltas", "Dias Atrás", "Um Minuto para o Fim do Mundo", "Regina Let’s go" e "Irreversível". A energia contagiante estava presente em toda multidão, resultando em um oceano de fãs pulando e cantando juntos.

O orgulho do carismático vocalista Badauí de ter se apresentado nesses 20 anos no festival só confirmaria o que o público já sabe: Os shows do CPM22 sempre são um dos destaques do festival.

Entre o CPM22 e a próxima atração de Rock, houve a apresentação do rapper Emicida, mas como já é um gênero que não é o foco do Whiplash.net, vamos pular para o próximo (ainda que valha muito a pena conhecer a obra do Emicida).

O show do Planet Hemp no Festival João Rock foi uma explosão de energia e protesto, levando o público a uma jornada intensa de arte, música e mensagem. A banda de rap rock carioca entregou uma performance icônica, reafirmando sua posição como provavelmente a banda nacional mais influente quando se trata de música de protesto.

Do momento em que entraram no palco, os membros do Planet Hemp mostraram uma presença sem igual, com BNegão e Marcelo D2 liderando o grupo com muita atitude e carisma, além de batidas poderosas e riffs de guitarra enérgicos.

O repertório do show contou com músicas "Distopia", "Jardineiro", "Onda forte" e "Taca fogo" do álbum Jardineiros, o mais recente da banda e sendo o primeiro de estúdio a ser lançado desde o ano 2000.

Não poderiam faltar clássicos como "Legalize Já", "Dig dig dig", "Queimando tudo" e "Queimando Tudo", que foram recebidos com entusiasmo e entoados em coro pelos fãs, assim como o cover de Samba Makossa do Nação Zumbi. Mas o melhor estava por vir ainda quando na apresentação da banda na introdução de "Mantenha o Respeito", última música do set, D2 e BNegão chamaram ao palco o vocalista Badauí que poucos instantes antes subiu neste mesmo palco com o CPM. A cena curiosa ficou por conta de que Badauí dividiu um baseado de maconha com o Marcelo D2 em cima do palco enquanto a banda estava sendo apresentada (e também durante a execução da música).

A importância desta apresentação é maior ainda neste ano de 2023, já que o STF deve voltar a julgar no dia 21 de Junho um ação a respeito da inconstitucionalidade do artigo 8º da lei de Drogas, a qual criminaliza o usuário de drogas como sendo traficante ainda que esteja com uma pequena quantidade da planta e não tendo comercializado.

Como encerramento do palco principal, tivemos Felipe Ret com convidados, mas assim como Emicida, o estilo já foge um pouco do conteúdo do Whiplash.net. Mas o que podemos perceber foi um esvaziamento do público após o término do Planet Hemp, seja em direção a saída ou do palco Brasil onde se apresentava Gilberto Gil. Muitas pessoas presentes relataram que gostariam que o show do Planet Hemp tivesse sido o último do palco principal e não o Filipe Ret, pois grande parte do público do Planet Hemp estava disposto a ver o show do baiano Gil mas os horários de ambos coincidiram. Outras pessoas relataram que preferem que se não tivesse o último show (O único com mais de uma hora de duração) para dar mais tempo de shows para as outras bandas que só têm 55 a 60 minutos de palco. Esta é uma ideia que a Produção do festival pode colocar em prática ano que vem.

Mas sejamos justos, fora essas críticas quase não foi visto o público reclamando (exceto pelo preço da alimentação), pelo contrário, o público estava contente com a organização do festival e com a qualidade dos shows. O som estava limpo, podendo ser escutado até mesmo longe dos palcos. Os banheiros estavam com bom estado de uso e com parte do público indo embora mais cedo, a saída do festival não ficou caótica ainda que tivesse com trânsito.

Parabéns João Rock pelos 20 anos de um Festival que enaltece as bandas nacionais.

Parabéns por mostrar que é possível ter festival que não esteja nas capitais.

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