Hardshine: Hard Rock para estourar o crânio
Resenha - Hardshine (Espaço Som, São Paulo, 09/08/2018)
Por Nelson de Souza Lima
Postado em 18 de agosto de 2018
Já cansei de ver posts em redes sociais de gente dizendo que o rock nacional não produz nada de novo, que o marasmo e falta de criatividade tomaram conta da cena. Blá, blá, blá.
Bullshit.
Concordo que o rock deixou de ser o gênero mais tocado em nossas rádios e TVs. Agoniza, mas não morre. Há muitas bandas boas nas garagens da terra brasilis de norte a sul. Basta que os reclamões saiam da zona de desconforto e deixem de ser roqueiros apenas de facebook. Ir atrás é fundamental. É preciso fuçar e pesquisar pois tem muita coisa legal.
Prova disso é a Hardshine. Banda paulistana que já chega quebrando tudo no álbum debute com um hard rock de responsa, remetendo ao melhor do metal oitentista, mas absolutamente moderno. O curioso é que as músicas de "So Far and So Close" foram gravadas há mais de dez anos e só agora chegam ao público em mídia física. Mas como diz Pedro Esteves, líder e guitarrista da banda, quando a música é bem-feita, com qualidade e coração torna-se atemporal.
Além de Esteves, que entre outras bandas tocou no Liar Symphony, integram o HS o vocalista Leandro Caçoilo, o baixista Bruno Ladislau e o batera Anderson Alarça. Sem exagero um supergrupo, pois todos têm bagagem na música com projetos e bandas de prima. Caçoilo já integrou o Viper, Alarça empunha as baquetas no Liar Symphony e Ladislau toca com André Mattos. São músicos experientes. O resultado é uma sonoridade coesa, uníssona, que pega o ouvinte no primeiro acorde.
Então não poderia dar outra: banda boa + repertório top= grande apresentação. O quarteto fez show de lançamento de "So Far and So Close", no simpático Espaço Som, em Pinheiros. Como disse em outras matérias é um local para um público não muito grande, mas com uma qualidade de áudio excepcional.
Gosto de ver shows ali e recomendo. Literalmente a banda fica face to face com a galera. Cheguei por volta das 20 horas e nosso querido Thiago Rahal Mauro já tava lá preparando tudo. Lojinha com artigos da banda e outros itens. Os caras do HS circulando e já trocando uma ideia. Vibe boa de show que só o rock propicia.
Passando um pouco depois das 20h30 o quarteto sobe ao palco para quebrar tudo. Mandaram logo de cara a faixa que dá nome ao CD. Hardão bate-cabeça, riffs envolventes, cozinha segura e a voz limpa e potente de Caçoilo. "Now and Forever" veio na sequência. Um grande riff de Esteves, Leandro Caçoilo tem um dos vocais mais legais do metal brasuca. Grande som.
Em seguida o vocalista apresentou o batera Anderson Alarça que mandou a intro de 'Hard Way", baladaça que remete às melhores feitas por Whitesnake. Aliás, fica fácil perceber que o grupo de Dave Coverdale é influência pro Hardshine. Isto se confirmou mais adiante.
A todo instante Caçoilo agradeceu a presença do público ressaltando o quanto é "hard" batalhar música autoral no Brasil, ainda mais quando é Heavy Metal.
Os caras são bem-humorados e têm carisma. Esteves sempre brincando, dizendo que tava cansado e perguntando quando o show ia terminar. Bom, como a apresentação foi toda em cima do disco cujo tempo de duração é de 40 minutos tivemos uma performance curta. Contudo quem viu ficou bem satisfeito.
Pedro Esteves aproveitou pra descansar um pouco quando sentou num banquinho e de violão em punho mandou "If You Wanna Fly", outra balada que emociona até a medula espinhal.
Lembram quando falei que Whitesnake é uma influência pros caras? Não é que mandaram "Still The Night" e ficou muito boa. Praticamente o Cobra Branca tava no palco.
Os caras encerraram a apresentação de pouco mais de uma hora com "Do You Believe". Começaram porrada e terminaram com bate cabeça pra estourar o crânio.
No encerramento a tradicional foto com a galera. Cumprimentos, abraços e aclamação do público que se não era muito grande, mostrou que tem admiração pelos caras que tocam muito e fizeram um ótimo show.
Depois de tomarem uma água, tirar fotos, atender os fãs fui trocar uma ideia com o quarteto.
1 - Foi o show de lançamento de "So Far and So Close", no entanto as canções já têm mais de dez anos. Todas as letras e arranjos são do Pedro. Fale sobre isso.
Pedro – A intenção era lançar como um disco solo meu. Mas logo desisti, porque achei que não tava preparado pra esse tipo de aventura ainda. O Anderson já tava comigo, pois ele é o batera do Liar, ele gravou o disco e acabei engavetando o projeto. Um ano depois encontrei o Leandro num workshop e como somos amigos de muitos anos, conversamos de fazer alguma coisa juntos. Ai lembrei que tinha um trampo guardado e disse que era a cara dele. Mandei as músicas pra ele que ouviu e falou pra gente gravar. E ainda bem que ele gravou. (risos)
2 - As canções têm a cara do Leandro, que tem um vocal rasgado, oitentista. É o hardão dos anos 80?
Pedro – Sim, bebe nessa fonte. Não tem jeito e tem tudo a ver com ele. Quando ele pôs a voz no trabalho ganhou outra dimensão.
3 - As primeiras gravações foram feitas em 2008. Com bateria, guitarra e voz do Pedro. E como foi depois?
Pedro – Sim, confere. Depois em 2011 foram regravadas com a voz do Leandro e o baixo do Bruno que somou pra caramba.
4 - São canções com mais de dez anos, mas é um hard rock contemporâneo. Vem se somar a uma nova onda de resgate do metal tradicional?
Bruno – Tem muita banda legal que tá revivendo esse tipo de som. Sou muito amigo do Rodrigo Marena, que tem um trabalho bacana. A gente troca ideia e é legal esse tipo de som tá ganhando essa notoriedade agora. Pra galera começar a entender e comprar isso. É um som antigo, mas pra uma galera nova.
Pedro – Não tem idade né? Eu acho que quando a música é legal, modéstia à parte, ela não envelhece nunca. Por mais que tenhamos bebido na fonte dos anos 80e se você ouvir o disco hoje vai soar moderno. Colocamos características modernas, pois temos outros trabalhos. Cada um acabou colaborando com sua identidade.
5 - Como batera e baixo dialogam para dar toda a base para o vocal do Leandro e a guitarra do Pedro?
Anderson – Sim, como um power trio né? O baixo tem corpo e eu como baterista tô completamente satisfeito com o baixo do Bruno Ladislau. Nada a reclamar. (risos).
Bruno – Acho bom (Mais risos). Pra mim foi um negócio muito legal, pois tenho um viés mais progressivo. Como toco com André Mattos acabei tendo um braço dentro do metal mais melódico e me perguntava como seria tocar numa pegada hard rock. O Hardshine foi uma oportunidade pra pôr minha pegada dentro de um som mais Hard rock. Pus a minha cara sem deixar minha personalidade. O power trio é um desafio ao vivo. Como não tem outra guitarra toda a responsabilidade de segurar a banda são do baixo e batera. Tenho que segurar a harmonia pra voz e pros solos. É um grande desafio, mas tô achando bem legal, pois é fácil de você soar, ao mesmo tempo quando alguém erra fica muito na cara. Então você tem que estar muito seguro pro som soar coeso.
6 - Vocês ensaiaram durante um mês pra esse show?
Leandro – Sim. E isso foi bom, porque estamos bem ensaiados e o show foi tranquilo.
Pedro – Uma coisa interessante de falar é que a banda surgiu no estúdio. Como era um projeto O Leandro pôs a voz, o Bruno pôs o baixo e lançamos em versão digital em 2013. No final de 2016 saiu a versão física e nunca tínhamos tocado juntos, nem ensaiado.
Bruno – Fizemos um processo ao contrário do que seria nos anos 80. Na década de 80 nos conheceríamos, faríamos um show e lançaríamos o disco. Pra esse álbum nos conhecíamos, gravamos, mas perguntávamos se ia funcionar. Rolou superbem, interação total.
HARDSHINE – SET LIST 09/08/2018
So Far and So Close
Now and Forever
Hard Way (Apresentando Anderson)
Pay Your Sins
Don't Leave/Going Home
Learn To Live
If You Wanna Fly
Paradise
Still The Night – Whitesnake cover
Do You Believe (Apresenta banda/Thanks)
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