Saxon: o Korzus da NWBHM ou a resenha que você nunca leu
Resenha - Saxon (Tropical Butantã, São Paulo, 03/05/2018)
Por Alexandre Capitão Campos
Postado em 06 de maio de 2018
Era meu segundo show do Saxon, mas minha primeira vez no Tropical Butantã. A estrutura da casa é boa, suficiente para ser opção para receber bons shows, e poderíamos dizer que está no mesmo nível do Carioca Club. O problema está do lado de fora. Ao contrário do Carioca, que nunca encontrei dificuldade para estacionar, no Butantã tinha cobra voltando pro Instituto por falta de vagas. Os estacionamentos todos lotados, e olha que ainda faltavam 2 horas pro horário do show. O capeta sentado no meu ombro esquerdo me falou "estaciona na rua onde as meninas ganham a vida, afinal de contas, elas não iam permitir um roubo ali no seu balcão de negócios". Mas o anjo no ombro direito ponderou "mas como é que vai oferecer 10 contos pra mocinha só olhar seu pau velho, se o interesse dela é descolar um pau velho pra sentar?". Fui pra uma rua residencial, e fui orar pra ficar tudo bem com meu carro.
O Armored Dawn estava tocando quando entrei. Não vou falar sobre o show deles, sou do tipo que não presta atenção em banda de abertura. O que chamou minha atenção foi a quantidade de merchandising que os "bárbaros" tinham à venda. No quesito lojinha humilharam o Saxon, que oferecia apenas uma camiseta por 80 reais, que meu irmão Paulo Dragg me chamou a atenção para o quanto o silk estava torto. Porra, Biff, você acha que pode vir aqui no Brasil e vender essa bosta de camiseta por 80 conto? Você está achando que somos um povo ignorante, capaz de eleger uma presidente mulher, que se quer consegue formular uma frase completa? Vai se fuder, branquelo.
Palco montado, o backdrop exibindo a capa de Thunderbolt, e tudo ficava pronto pros saxões alçarem voo. Em termos visuais, é lamentável constatar que os brasileiros jamais puderam ver pessoalmente a famosa águia que adorna seus shows ao redor do mundo. A águia de aço, que parece uma galinha de lata, simboliza uma banda, cujo maior hit fala de rodas de aço, e não sobre pássaros. O metal é mesmo coisa de criança... Calma, não se ofenda! Ser criança é uma das melhores coisas da vida.
Sem atrasos, o Saxon subiu ao palco com a faixa de abertura do novo álbum. É a pior faixa do álbum, mas cumpre bem o papel de encabeçar o set list.
Biff Byfford estava com seu fardão militar que sempre utiliza. Teve uma performance corretíssima, se comunicou com o público, ocupou o palco, e soltou a voz junto com os cabelos. Não usou monitor com as letras das canções, mostrando que a memória ainda vai bem. Tirou onda do público que ao invés de assistir o show, fica filmando pra depois enfiar o vídeo no cu (ou no facebook, que é a mesma coisa), ao sacar o próprio celular do bolso e também fazer seu videozinho. Também não notei nenhum recurso gravado que o ajudasse segurar a performance ao vivo. Nas notas mais longas, aplicam um eco, que faz a última palavra do verso ficar se repetindo. Uma bobagem que deveria ser abolida, pois utilizar isso no show inteiro torna-se cansativo. Biffão, tá mandando bem, amigo. Siga firme por muitos anos. Só não me volta com essa bosta de merchan pra cá.
Doug Scarratt tem uma postura que me lembra Dave Murray do Iron. Movimenta-se pouco, toca muito, e não muda a expressão facial. Varreu Graham Oliver da nossa memória. E segue tocando muito bem.
O maior batera do metal, Nigel Glockler estava de regata, uma expressiva barriga e bandana com labaredas. Só deu uma de cuzão ao não jogar uma baqueta se quer para o público. Fica doente de novo pra ver se eu faço novena. No início do show, os bumbos estavam muito altos no PA. Mas claro que não é culpa dele. O maior batera do metal. Já falei isso hoje?
Nibbs Carter entrou atirando para matar, tocando muito, agitando demais. O cara canta todas as músicas, independente da fase, clama o público para cantar junto, rege o coro, como se fosse um membro fundador. Performance arrebatadora. É o Angus Young do baixo saxão. Apenas seus backing são cenográficos, mas ele tem crédito, pode fazer de conta que está cantando. Mr. Carter é o heavy metal personificado.
Bem, falta falar de Paul Quinn. Começou o show com jaqueta e bandana, mas o calor foi assando seus grãos, e só sobrou a careca e a Les Paul. Ah, nhô Quinn, você é um espetáculo. Sem cabelos, de óculos e dentes tortos. A antítese do rock star. A sua imagem é de um professor de Educação Moral e Cívica, dentista, porteiro do prédio. Mas é guitarrista do Saxon. Quem acompanhou sua carreia viu você lutar contra a calvice, foram bonés, perucas, artifícios que pouco travestis usaram tanto quanto você. A sua luta não foi com a guitarra, foi contra a autoestima. Num mundo de aparências, num mundo de selfs, num mundo de facebooks, num mundo de cirurgias plásticas, num mundo onde as bandas recrutam membros pelo visual, você é um pilar. Os tiozões carecas que curtem rock sentem-se representados. E continua tocando muito. Só queria te falar uma coisa, usar viseira do Bjorn Borg pra segurar peruca pode, mas colocar Floyd Rose em Les Paul, eu não se pode não, viu?
Apresentações feitas, gostaria de observar. Quinn, Carter e Scarratt não mudaram de instrumento uma única vez ao longo do show. Glockler não parecia estar com seu kit. Acredito que viajaram pra cá com poucos instrumentos, por uma questão de custo. Eles fizeram uma escala no México antes do Brasil, e retornam daqui para a terra da tequila. Pode ser que parte do equipamento tenha ficado lá.
Quer saber do show? Ah, mas as outras resenhas vão falar sobre isso... Bem, o Saxon comandou quase duas horas com muita propriedade, e fiquei com a sensação que se a banda estivesse mais descansada (chegaram em São Paulo no mesmo dia do show), e se tivessem com um ar condicionado decente, a performance seria mais longa. Sabe quando seu time vai jogar em Presidente Prudente, e falta perna no segundo tempo? Foi a sensação que eu tive.
Além da faixa título, o álbum Thunderbolt esteve presente com Nosferatu, Sniper, The Secret Of Flight, They Played Rock´n Roll e Sons Of Odin. 6 faixas de um disco com 11 inéditas. A qualidade do mais recente lançamento é indiscutível. E a presença de Sacrifice e Battering Ram (títulos dos álbuns anteriores) comprovam que a fase da formação atual é realmente sólida, e já dura anos. Preciso te falar, The Secret Of Flight é daquelas que fazem crescer cabelo no peito. Ouça ad infinitum.
Ride Like The Wind foi anunciada com Biff dizendo que não a executavam há 5 anos. O cover de Christopher Cross é popular por aqui, e foi a mais cantada da noite. Seguida de Broken Heroes, popularizada por seu clip ter sido muito exibido na tv aberta. Foi minha canção favorita do set, e me fez lembrar de um festival que Dragg, Leandro e eu nos apresentamos em Rio Claro, e a executamos junto com nossas músicas próprias. A Rock Brigade cobriu o festival, mas não nos notou. Anos depois, a revista faliu. Bem feito. Ah, nesse dia o Voyage do Leandro também quebrou.
Restou executar os clássicos. Motorcycle Man (com Biff dando seu tradicional assovio), Strong Arm Of The Law, Power And The Glory, Cruzader, e assim foi. A banda improvisou, não executando de forma idêntica, principalmente nos solos, o que foi muito bom de ver, algo que cairia bem no Iron, mas que tio Harris não quer nem ouvir falar. Eu gostaria de ouvir Unleash The Beast, mas não vou reclamar.
Por volta das 23 horas, a banda saiu do palco pela primeira vez. Retornou com Heavy Metal Thunder e Wheels Of Steel. Saiu e voltou novamente para finalizar com Denim And Leather. Um fã jogou seu colete jeans para Biff, que de forma simpática o colocou, usando-o durante toda a canção, e autografando-o antes de devolver. Apesar do merchan de merda, Sir Byfford, como fiel servo da rainha, é um lorde.
O Saxon foi persistente, manteve o alto nível dos discos lançados, e seguiu trabalhando incansavelmente, preservando o respeito da sua base fiel de fãs ao longo desses anos. Além de grandes apresentações ao vivo. Como o show dessa noite memorável.
A pior parte do show foi essa, ele acabou.
Estávamos saindo quando me encontrei com o não menos lendário Pompeu, vocalista do Korzus. Pedi se poderia tirar uma foto comigo, e ele olhou bravo pra mim. E eu acho que sei porque, ele sabia o que eu estava pensando, e não queria que eu escrevesse isso aqui. Mas é isso, Pompeu, eu preciso falar. O Saxon é como o Korzus. Construíram uma obra de alto nível, possuem o respeito de todos. Mas o Korzus nunca foi tão grande quanto o Sepultura ou o Angra. Assim como o Saxon nunca foi grande com o Iron ou o Judas.
Mas olha, Biff, uma prostituta ali na rua de trás me falou, o tamanho de nada importa.
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Setlist
1. Intro
2. Thunderbolt
3. Sacrifice
4. Nosferatu (The Vampires Waltz)
5. Motorcycle Man
6. Strong Arm of the Law
7. Battering Ram
8. Power and the Glory
9. Sniper
10. The Secret of Flight
11. Dallas 1 PM
12. Never Surrender
13. Ride Like the Wind
(Christopher Cross cover)
14. Broken Heroes
15. They Played Rock and Roll
16. And the Bands Played On
17. 747 (Strangers in the Night)
18. Sons of Odin
19. Crusader
20. Princess of the Night
Encore:
21. Heavy Metal Thunder
22. Wheels of Steel
Encore 2:
23. Denim and Leather
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