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Megadeth: O Brasil vê que o que faltava na banda era o Kiko

Resenha - Megadeth (Siará Hall, Fortaleza, 13/08/2016)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 18 de agosto de 2016

A noite de sábado, 13 de agosto, não seria mais uma noite na capital cearense com alguma banda de forró tocando para milhares de pessoas, outra banda de forró tocando para outras milhares, algum astro da MPB em sua décima vigésima sétima quarta vez em Fortaleza tocando o mesmo setlist... bem, até que seria. Deve ter sido. Não importa. Isto porque foi também uma noite em que milhares de headbangers, outrora relegados aos seus DVDs e resenhas de shows (todos na capital paulista) na seção "Live Evil" da Roadie Crew, tiveram o seu encontro especial com uma das bandas mais importantes do Thrash Metal. A D&E trouxe o MEGADETH, banda capitaneada pelo polêmico Dave Mustaine, uma das Big4 (chega até a ser cansativo repetir tanto isso) para o seu primeiro show em solo alencarino. E ainda trouxeram junto a PROJECT46, banda paulistana, nome expoente e proeminente no metal nacional, também estreando em palcos do Ceará. Fomos presenciar este momento para contar aqui tudo o que aconteceu.

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O início da noite não foi tão simples, no entanto. A fila para entrada começou a se forma quando o sol ainda queimava a cidade, mas os portões só foram abertos bem depois da hora marcada. Como não estamos nas olimpíadas, os gritos de "Fora Temer, Fora Temer" se misturavam aos de "Megadeth, Megadeth", "Abre, abre" e outras coisas menos elogiosas reclamando da demora. E um detalhe tornou a entrada ainda mais complicada. Os cartazes que indicavam onde deveria se formar cada fila (pista normal, frontstage, camarotes) estavam afixados atrás dos portões. Como eles ainda estavam fechados, os cartazes ficaram, portanto, invisíveis. Instintivamente o público formou duas filas, mas, na hora em que os portões abriram foi aquela confusão: gente mudando pra essa fila, gente mudando pra aquela, gente sem saber pra onde ia.

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PROJECT46

Todo mundo já dentro, não demorou para que o som pesado começasse a troar e dominar cada espaço do Siará Hall. A primeira vez da PROJECT46 no Ceará, no entanto, prometia mais. A banda já tinha confirmado a presença em um festival em janeiro (aquele em que tocaria o EXODUS e do qual não falaremos aqui), mas cancelara a participação bem antes da definição final do cast. E embora não fosse a atração mais aguardada (posto obviamente ocupado pelo quarteto norte-americano - ou melhor, pelo quarteto multinacional), era um show bastante aguardado, principalmente pelos fãs do tipo de metal que o quinteto paulista toca e toca muito bem, com doses cavalares de hardcore e quase nenhuma pausa para recuperar o fôlego. O show, no entanto, foi sucinto, rápido, curto, e, portanto, por causa destes adjetivos, um tanto decepcionante.

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O vocalista Caio MacBeserra, os guitarristas 4 e 6, ou melhor, Jean Patton e Vinny Castellari, com a cozinha do baterista Henrique Pucci e do baixista convidado Baffo Neto, começaram a dar o seu recado com o novo hino nacional, "Erro +55", seguida pelas porradas "No Rastro do Medo" e "Impunidade", ambas do primeiro álbum, "Doa a Quem Doer". Caio manifestou que estava feliz por estrear em palco cearense, reconhecendo também que "demorou para chegar até aqui". E ao avistar a grande roda que havia se formado durante "Capa de Jornal", exclamou: "depois falam que no Nordeste não tem metal. Olha isso aqui". E a empolgação era tanta que ele próprio até caiu, sem parar de cantar, no meio do palco enquanto a banda tocava "Atrás das Linhas Inimigas", a última da noite. "Violência Gratuita" e "Acorda pra Vida" estavam no setlist, mas ficaram de fora, assim como algumas outras boas canções do "Que Seja Feita a Nossa Vontade" e "Se Quiser", do primeiro álbum, uma das melhores de Patton, Castellari e cia. Quem sabe elas aparecem num show completo da próxima vez, como prometeu Caio ao se despedir. E uma boa pedida seria colocá-los para dividir o palco com os meninos do IN NO SENSE, maior expoente local do Metalcore e que, assim como a PROJECT, também canta em português.

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O show também foi interessante por ter a presença de Baffo Neto, líder do CAPADÓCIA, cuidado dos graves recentemente deixados por Rafael Yamada. A banda está em processo de escolha do novo baixista e sua estreia será em 7 de setembro, no Maximus Festival, na capital paulista.

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MEGADETH

Os rattleheads dividiam espaço com os eddies e alguns snaggleteeth. E, quando no som, no intervalo entre as duas bandas que subiriam ao palco, tocou "Wasted Years" (entre outros clássicos do metal), o público até cantou junto. Parecia que a turma do Steve estava de volta a Fortaleza. Mas foi quando as luzes da casa se apagaram que a gritaria tomou de assalto o lugar. Pra começar, no telão ao fundo do palco, começa a exibição do vídeo que introduz o quarteto (o mesmo exibido quando abriram para o BLACK SABBATH, alguns anos antes, e que também pode ser visto no DVD "Countdown to Extinction"). Uma falha bem no finzinho deixa todo mundo apreensivo, que susto!, mas o show começa sem todo o vídeo mesmo. Que emoção de quem via o MEGADETH pela primeira vez. Outros, que já o viram nas capitais vizinhas São Luiz (no fatídico MOA) ou Recife, ou em São Paulo, ainda tinham o que se emocionar: era a primeira vez que poderia ver um brasileiro, quase cabeça-chata, tocando numa banda de tamanho nome. E ele entra no palco correndo, já solando, como pronto para uma batalha épica. É "Hangar18", com cada nota acompanhada pelo "O Ô ô ô" do público. Divago se a música talvez nem tenha a ver com ETs, mas, sim, com o tanto de solos. David Ellefson, o Jr., mão direita de Mustaine por longos anos, e Dirk Verbeuren, recém-efetivado no quarteto, são discretos. Kiko não. Ele é o axeman pronto para matar o rei do outro exército. É quase um delírio vê-lo debulhando os solos, competindo de igual pra igual. Dave Mustaine sempre será a alma do MEGADETH, mas agora tinha encontrado um Lancelot a altura.

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O vídeo volta com o clipe da primeira do álbum "Dystopia", "The Threat is Real", enquanto Dave, Kiko, Ellefson e Dirk detonam no palco. Na primeira vez que se dirige diretamente ao público que lotava o Siará Hall, Mustaine dá boa noite e é interrompido pelo insistente e feliz coro "Olê Olê Olê Olê, Mustaine, Mustaine", mas anunciou que iam tocar canções novas, velhas, a próxima seria "Tornado", o grande clássico "Tornado of Souls".

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Mais adiante, Kiko inicia sozinho a bela "Poisonous Shadows", talvez a bela do novo CD (e que o teve tocando também piano no que Mustaine chamara em entrevista de Chopin-meets-Megadeth). As sombras nos três telões do palco (o de fundo, já citado, e dois laterais) ajudam a contar a estória, talvez com um belo tanto de autobiografia de Mustaine. "Rattlehead", tocada em São Paulo, ficou só por lá mesmo. O que veio em seguida foram "Wake Up Dead", colada em "In My Darkest Hour".

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Kiko fica sozinho mais uma vez no palco, com um violão. Ei, ele está tocando MPB? É a intro da instrumental "Conquer or Die", indiscutivelmente com reminiscências de música brasileira. Ela é toda dele, mesmo quando Jr, Mustaine e Dirk voltam ao palco. Ele conquistou e não morreu.

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Em "Fatal Ilusion", Mustaine volta ao posto de frontman. É também a primeira vez de Jr roubar a cena. Ato contínuo, vem a licantropa "She-Wolf", que Mustaine afirma falar da ex-mulher dele.

Ellefson e Dirk ficam sós no palco para "Down Patrol", (cadê o Mustaine?) o que acaba tirando um pouco o brilho do clássico do "Rust In Piece" (na verdade, falar em clássico do RIP é redundante quando todas as canções do álbum são clássicos). O ruivo ficou devendo, neste show, a interpretação que fizera em estúdio, mas volta para "Poison Was The Cure" e para o ótimo diálogo Mustaine-Mustaine de "Sweating Bullets".

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Dividindo os vocais com Mustaine, o público quase inteiro canta os versos de "A Tout Le Monde", provando que a balada não é, nem de longe, dispensável. O baterista Dirk Verbeuren é eficiente, brilha na introdução de "Trust", mas não se destaca tanto no show inteiro. O mais novato dos Dethes ainda precisa provar que foi uma boa escolha para substituir Chris Adler e o imortal (porque quem deixa um grande legado jamais morre) Nick Menza.

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Antes de voltar ao "Dystopia", com "Post American World" e a faixa título, Mustaine conversa mais uma vez com o público, num inglês complicado de entender. Alguém comentaria mais tarde no Facebook: "qua qua qua". "É a primeira vez que estamos em Fortaleza, que eu saiba. Quero agradecer a todos vocês que vieram nos ver". E agradece também pela bandeira brasileira que alguém havia jogado no palco, enrolando com ela o pedestal de seu microfone. E ainda dispara: "Quem ouviu o Dystopia, obrigado. O resto que se foda", acenando em sinal de que estava apenas brincando nesta última parte.

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Como em qualquer outro lugar, as notas do riff de "Symphony of Destruction" são entoadas pelo público. "Me-Ga-Deth, Me-Ga-Deth". E agora foi a vez de Fortaleza cantar junto. E em "Piece Sells", outro clássico, aparece no palco o Vic Rattlehead, de paletó. Ele não vê nada ruim, não fala nenhuma maldade, não ouve nenhum mal, mas aponta furioso para a multidão e faz repetidamente o sinal universal de que alguém está prestes a perder a cabeça.

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No volta para o Bis, Mustaine lembra que escreveu a próxima canção há muito tempo atrás, mas as coisas ruins que aconteciam naquela época, ainda acontecem. "A gente simplesmente não consegue entender". O Estado Islâmico e os israelenses que ocupam a Palestina não deixam "Holly Wars" mentir. Mas, celebremos a música. Na apresentação dos colegas, Ellefson, Kiko e Dirk, os maiores gritos e aplausos acontecem quando, como esperado talvez, ele anuncia o nome do brasileiro. Talvez fosse de bom tom "o Tesouro", que várias vezes durante o show ocupara o centro do palco, também pegar o microfone e agradecer, mas aí talvez fosse demais para o super-ego do patrão.

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Saldo final da noite: muitas lembranças boas de um evento que ficou na história do metal em Fortaleza, uma noite mágica que perde, sim, mas não se amofina diante daquela outra noite em março, quando o IRON MAIDEN e outro Big4, o ANTHRAX, estiveram em Fortaleza. Da fila ninguém mais se lembrava. E sabendo que o resultado seria este, não seria mal encarar uma outra duas vezes mais longa já no dia seguinte. A pergunta a fazer pra D&E agora é só uma: quando é que eles voltam?

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Agradecimentos:
D&E Entretenimento, especialmente Airlly Barbosa, pela atenção e credenciamento.
Sílvia Tavares, pela companhia e eterno amor.
Alex de Paiva e Chris Machado, que gentilmente cederam suas imagens para ilustrar esta matéria.
André Rocha, pela parceria. André iria fotografar o show, mas sofreu um acidente durante a cobertura de um rali. Não se preocupe, André. Com o sucesso desse show, podemos contar que um retorno a Fortaleza em uma próxima turnê é caso praticamente certo.

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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