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Ceará: O Rock está em todo lugar, mas precisa de mais apoio

Resenha - III Festival de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba (Casa Verde, Ipu, 05/09/2015)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 29 de setembro de 2015

Pelo terceiro ano consecutivo, o Festival Autoral de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba quis mostrar que no interior do Ceará também se faz e se consome bastante muito dos três estilos. Com o sucesso das edições anteriores (confira a resenha da segunda edição no site abaixo), o organizador, Francisco Randolfo, investiu numa produção ainda maior. E o festival também cresceu no número de inscritos. Desta vez, foram 41 bandas, dando uma dor de cabeça enorme para os jurados e curadores, que tiveram que fazer escolhas difíceis diante da qualidade dos inscritos. Cada jurado deveria escolher dez bandas e, ao final do prazo estipulado, as dez mais votadas por todos os jurados seriam convidadas a se apresentar na cidade de Ipu, aos pés da Serra da Ibiapaba. O corte teve que ser feito na carne. Pelo menos o dobro merecia uma vaga.

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FULLREGGAE

A noite começou com uma convidada especial (que não estava concorrendo à premiação). Era a FULLREGGAE de Teresina. O vocalista declarou "Nós cantamos reggae porque essa é a missão que nos foi dada", antes de músicas como "Toda Palavra Escrita Tem Força". O som da banda piauiense é dotado de bons solos de guitarra, teclado interessante e de forte presença. Entre clássicos do reggae como "Concrete Jungle" e composições próprias de seu CD "Natureza", a banda de Teresina mostrou em uma hora seu reggae com boas partes instrumentais, louvando as raizes, mais quase sem backing vocais.

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Foto: Victor Rasga

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TOQUE PRIMITIVO

A ordem de apresentação das bandas foi definida em sorteio, pouco antes do show da FULLREGGAE. Coincidentemente, todas as bandas regueiras tiraram as primeiras posições, tornando a primeira parte do festival um autêntico show do ritmo jamaicano. A TOQUE PRIMITIVO veio de Sobral, também na zona norte do estado. Iniciaram o seu show com "Paraíso", música que conquistou os jurados, mas depois optaram por quase só tocar covers. Com apenas um mês e meio de formada, a banda tem futuro, mas ainda precisa buscar sua identidade.

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R'EVOLUÇÃO

Com um som mais maduro, a banda de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza surpreendeu os presentes. Além de solos bombásticos (o guitarrista caberia perfeitamente em qualquer banda de rock), o tecladista também se destacava. O inesperado pontuou a apresentação e um dos principais responsáveis por isso era o saxofonista, que roubava o show quando fazia seus solos. Outro que se destacava era o baterista, fugindo sempre do feijão com arroz (perdoem-me os devotos de Jah, mas este é um problema grande de, talvez, 90% das bandas de reggae - a R´EVOLUÇÃO faz parte dos 10%). A banda se sobressai conquistando até quem não tem afinidade com o gênero.

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Foto: Victor Rasga

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Algo que produção e músico estão de parabéns é a agilidade nas trocas de palco. Com 11 bandas se apresentando, seria até esperado que o festival se tornasse cansativo principalmente pelo grande número de interrupções para que uma banda saísse e outra entrasse. Quanto ao número, realmente, nada poderia ser feito, mas as trocas foram realmente bem rápidas. Palmas para músicos e produção.

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NFURIA

Nem todas as bandas inicialmente convidadas puderam se apresentar no dia 5 de setembro, em IPU. Dessa forma, iam cedendo seus lugares às primeiras classificáveis. Uma das beneficiadas foi a banda de Canindé NFÚRIA. Mesclando metalcore, meio NX ZERO, com guitarras bem estridentes, os garotos entregaram um som honesto, mas há o há o que evoluir. Há o que evoluir no vocal e o guitarra solo precisa praticar (e muito) seus solos, mas é isso que faz valer um festival como esses. Que eles tenham sabido aproveitar a oportunidade de dividir o palco com outras bandas, mais experientes, que tocariam dali a pouco.

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O BANDO

A grata surpresa foi ver uma banda da minha cidade, Tianguá, tocando com tanta técnica e feeling. Eu estava ali, eu quis ser jurado para poder plantar a semente do rock na terra que me criou. Inútil eu. A semente já tinha sido lançada a muito tempo e já se transformava em frutos através do blues superior daquele trio. O guitarrista Jefferson Mendes tocava com inabalável precisão mesmo entregando notas à velocidade da luz e expressava nas caretas que fazia a dor de cada uma delas. E o vocalista era ninguém menos que o batera, que se não exagerava nos malabarismos vocais, também não comprometia. A banda ainda deu seu toque a "Like a Rolling Stone", transformando-a num blues mais enérgico que a original. A banda, ou melhor, o bando, só precisa usar a mesma criatividade que demonstrou nas músicas para escolher um novo nome, senão, continuará fadada a ser sempre a estar na 79465736458364547ª página de resultados de uma busca no Google. E eu quero é que o mundo inteiro saiba que em Tianguá tem muito rock, sim, senhor.

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ERUDITOS

A banda mais nova (em idade, não em formação) veio de Canindé com músicas como "Horizontes" e "Teu Sorriso" (que lhes garantiu a vaga na repescagem. É difícil dizer se algum tem mais de 14 anos. Os meninos tem algumas boas ideias que precisam e podem ser amadurecidas, são ainda muito verdes, mas esse amadurecimento vai chegar se continuarem investindo em si próprios e na banda com seriedade. a vocalista Karina Sampaio tem voz doce, mas também muita timidez (é típico da idade, mas pode e deve ser melhorado). Ao cantar, a moça quase não olha para o público, canta só para o guitarrista e o tecladista (talvez buscando apoio do irmão ou namorado), só se solta mais ao interpretar uma canção que não era de sua autoria, uma cover da PITTY. Ter uma banda, crescer com ela será um grande desafio para a ERUDITOS, o sonho começou. Que abracem a oportunidade, principalmente de aprender com alguns gigantes.

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CONTURBO

Com muito blues e um toque de soul, a banda lembra (na abordagem, não nas composições) os ALABAMA SHAKES, com boa atuação, boas letras, bons solos. Certamente podemos esperar com ansiedade por mais um trabalho deles. Teria sido não menos que excelente sair de Ipu com um CD dos Ceará Shakes na mochila.

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OBSKURE

É até injusto ter o OBSKURE participando e concorrendo como qualquer outra banda. OBSKURE era pra ser Hors-concours. Apesar de ter raízes em Ipu (terra natal dos irmãos Ximenes), era o primeiro show do sexteto fortalezense na cidade. E num show curto, mas cheio de clássicos, a banda fez uma apresentação impecável. É possível descobrir novas nuances nas canções do OBSKURE a cada novo show, assim como é difícil não se emocionar com os solos de Daniel Boyadjian.

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Germano Monteiro, trocava energia com o público como ninguém tinha feito até ali e aproveitou para elogiar a iniciativa de levar o rock para a região. Por problemas de agenda de Wilker Dângelo, o show contou com Mardônio Malheiros (BURNING TORMENT) na bateria. E em "Hidden Essence Rescue", o sexteto se transforma em septeto, com os vocais de Claudine Albuquerque abrilhantando a canção. Ao fim do show, o coro do público era geral. "Mais uma, mais uma".

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COLDNESS

Era uma noite quente. A neblina comum da Serra da Ibiapaba se fez ausente, mas em seu lugar estava a fumaça que faz parte dos elementos de palco da COLDNESS. E a banda também fez questão de levar uma iluminação especial, que mudava de acordo com a canção sendo executada no momento. A COLDNESS é uma das bandas que mais cresce em popularidade e faz por merecer. Seu som alterna partes mais pesadas, com partes mais suaves e Lenine Matos, o vocalista, esbanja alcance. Ele também agradeceu a quem veio e permite que o evento continue acontecendo ano após ano. Não foi um dos melhores dias da COLDNESS (já tive a oportunidade de ver muitas), mas, mesmo assim, o público demonstrou ter curtido bastante.

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IN NO SENSE

Chegam os veteranos do festival e, mais uma vez, com muito profissionalismo a IN NO SENSE fez mais uma boa apresentação. Vicente Ferreira, como não seria nenhuma surpresa, arrebenta na bateria. Temo que em breve devemos ter a má notícia (ou boa notícia) de que o perdemos para alguma banda de nível nacional. Além dele, a IN NO SENSE trouxe boas guitarras, bons guturais e o segundo vocal fazendo o que todo segundo vocal de metal core faz (para o bem e para o mal).

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VELHOS ABUTRES

Já sob a luz do dia, com a presença do chapadão que só a partir daquela hora podíamos notar o blues safado da VELHOS ABUTRES, outra veterana do festival, fechou com o III Festival Autoral de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba. Grandes composições, grandes instrumentistas, excelentes músicas. Os ABUTRES são outra banda que tem a obrigação de lançar logo um CD com tudo o que mostraram no palco.

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PREMIAÇÃO

Com uma diversidade tão grande de estilos, a tarefa dos jurados, mais uma vez, não foi fácil. O mais esperado se confirmou, as bandas com mais estrada apareceram na dianteira da disputa, mas, como decidir quem levaria os troféus de primeiro, segundo e terceiro lugar era um era um desafio. Com votação apertada (e empate em dois quesitos), a grande vencedora do III Festival Autoral de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba foi a... OBSKURE. Com um segundo lugar decidido apenas após esgotar dois critérios de desempate, ficou a COLDNESS. Sem concorrer diretamente com as duas primeiras, mas derrubando algumas outras fortes concorrentes, a R'EVOLUÇÃO completou o pódio.

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Como consegui viver de Rock e Heavy Metal

O público, no entanto, ficou aquém do desejado. Muito aquém. Sem apoio do poder público, a realização de uma quarta edição pode ser inviável. Acompanhamos os esforços de Francisco Randolfo, e suas blitzes culturais, não só na cidade, mas em muitas cidades vizinhas, mas, mesmo assim, a louvável iniciativa parece ter chegado ao seu fim. Talvez, o prazo entre a divulgação das dez selecionadas e a realização do festival tenha sido curto demais (o peso do nome das bandas em um cartaz teria certamente atraído mais pessoas para a Casa Verde). De qualquer forma, ficamos na torcida de que alguma esfera do governo (que chega a pagar algumas centenas de milhares de reais para atrações de gosto duvidoso) abrace a causa e que as sementes lançadas pelas três edições do Festival Autoral de Rock Reggae e Blues da Ibiapaba tenham terreno fértil para crescer e se multiplicar, como a terra boa da Ibiapaba (onde eu tive a felicidade de passar os primeiros anos da minha vida).

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Agradecimentos:
Roberto Soares, pela valorosa ajuda com ideias e opiniões sobre as bandas de Reggae
Lucilene e Natália Cândido, pela companhia nessa aventura
Victor Rasga, pelas imagens que ilustram esta matéria
Francisco Randolfo, por acreditar em espalhar música boa em nossa terra.

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
Mais matérias de Leonardo Daniel Tavares da Silva.

 
 
 
 

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