II Festival de Ibiapaba: Muito rock no interior do Ceará
Resenha - II Festival de Ibiapaba (Chácara do Sávio Pontes, Ipu, 06/09/2014)
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 17 de setembro de 2014
No final de semana de 6 e 7 de setembro aconteceu em Ipu, Ceará, o II Festival de Rock, Reggae e Blues da Ibiapaba. Este colaborador, ibiapabano de Tianguá, teve a honra de presenciar o festival como jurado e conta a partir de agora como foi. No dia 5, as bandas foram recebidas para um lual, na Chácara do Sávio Pontes, na localidade de Várzea do Giló, em Ipu, Ceará. No sábado, 6, aconteceu o festival propriamente dito, que você acompanha abaixo.
Acompanhado de uma irmã e dois sobrinhos, saímos de Tianguá, minha cidade de origem, em direção à outra ponta da serra, passando por Ubajara, Ibiapina, Guaraciaba do Norte e chegando, finalmente, à Várzea do Giló, localidade pertencente ao município de Ipu mas antes de chegar em sua sede (no sentido em que trafegávamos), onde o Festival, de fato, ocorreu. Ao entrar na Chácara do Sávio Pontes fiquei impressionado com o tamanho do palco, bem maior do que o que eu esperava para um festival interiorano e maior também que muitos palcos da capital onde, com frequência, apresentam-se bandas internacionais. Também havia área de camping (que foi utilizada por alguns músicos das bandas que se apresentaram), piscina e uma grande casa-sede, onde fomos muito bem recebidos por Francisco Randolfo, organizador do festival. Devido ao horário (Tianguá é perto de Ipu, mas não tanto), não pude explorar o resto do local, mas, vi em fotos de alguns outros músicos que devia haver um rio, talvez uma cachoeira por ali ou nas proximidades.
Naquela noite, eu seria jurado do festival, ajudando a escolher as bandas merecedoras do primeiro, segundo e terceiro premio, em substituição a Amaudson Ximenes, músico da OBKURE e fundador da Associação Cearense do Rock. Ao meu lado estavam Gonzaga Leite (maestro e motociclista), Ivanildo Neves (maestro), Ana Martins (poetisa e educadora) e Hilton Fontenelle.
Originalmente, dez bandas se apresentariam. Estas dez tinham passado pelo crivo do corpo de jurados, batendo outras trinta, através de seus clipes, divulgados na página do organizador do evento no Facebook. A banda REGGAEVOLUTION, no entanto, já tinha no início da semana informado que não poderia participar do festival. Assim, o festival contaria com apresentações das bandas LEGIONÁRIOS (de Fortaleza), VELHOS ABUTRES (também de Fortaleza), INTRUSOR e VENENO DE SHAKESPEARE (ambas de Maranguape), GLAUCO KING & THE WEST WOLVES (outra de Fortaleza), as ibiapabanas RATE (de São Benedito) e PEDRA RARA (de Tianguá) e FORA D' ROTA (de Maracanaú). A banda SYSTENOCÍDIO, de Nova Russas, vencedora da edição anterior, foi convidada a abrir o festival (a priori a banda não concorreria por ter tido problemas técnicos no envio de sua música para a seletiva). Até a hora marcada para o início do Festival, não tivemos notícia da banda PEDRA RARA. Isolados do mundo, sem sinal de telefone ou Internet, não sabíamos se tentaram fazer alguma comunicação avisando de algum imprevisto (para fazer o último telefonema do dia para minha esposa, que ficara em Fortaleza, tivemos que voltar dirigindo em direção à Guaraciaba por quase vinte quilômetros). E como esta era a única banda de reggae entre as selecionadas, após a previamente informada ausência da REGGAEVOLUTION, esta edição do Festival acabou tendo apenas Rock e Blues. Com duas bandas ausentes, foi consenso que a SYSTENOCÍDIO concorresse pra valer no festival.
LEGIONÁRIOS e VELHOS ABUTRES
O formato do festival teve cada banda apresentando sua música concorrente para, ao final de todas as apresentações e contabilização da pontuação atribuída pelos jurados fazer um show completo. A primeira banda no palco, LEGIONÁRIOS, já fez o público fazer roda com seu rock pesado "Chantagem" (não há um rótulo exato para eles ainda, trafegam pelo punk, pelo grunge e hard rock, mas precisam melhorar na afinação), seguida do blues esperto "Alice" da VELHOS ABUTRES. Além da voz grave de André Bonfim, destacaram-se Filipe Lins, solando na gaita e o guitarrista Vinícius Proietti.
INTRUSOR
Os primeiros riffs da INTRUSOR, da terra de Chico Anísio, também empolgaram a galera. A banda apresentou seu single "grudento" "My Fallen Angel", com belos solos dobrados. Como muitas bandas de seu estilo, a INTRUSOR canta em inglês (foi a única a cantar em inglês na noite), apostando em um dia poder fazer sucesso lá fora. Manu Volkova, a vocalista, tem voz bastante potente e surpreendeu positivamente a todos os presentes.
VENENO DE SHAKESPEARE
Bela voz também tem sua conterrânea, Patrícia Garland. O rock da VENENO DE SHAKESPEARE é interessante, cheio de nuances e mudanças de andamento, tem os ingredientes para fazê-los conhecidos por apreciadores de rock alternativo de todo o Brasil. No entanto, uma falha técnica tirou um pouco o brilho da apresentação dos maranguapenses. Ao início de "Delírio", quase não se ouvia a voz de Garland e isso deve ter pesado na pontuação, fazendo a banda perder posições. Se tivessem optado por recomeçar a música do zero provavelmente teriam subido ao pódio do festival.
GLAUCO KING & THE WEST WOLVES e RATE
GLAUCO KING, performático artista, misto de travesti e bad boy, já passou dos 27 e ainda não virou um astro, mas fez uma apresentação bombástica de "Nasci Para Ser A Vergonha do Vovô" junto aos seus asseclas WEST WOLVES. Da cidade de São Benedito, os skatistas da RATE, introduzindo sua música ao som de rap e beat box, apostaram em seu nicho particular e fizeram uma boa apresentação, inclusive com o vocalista andando de skate no palco. Os meninos ainda tem muito o que aprender e se profissionalizar, mas já tem uma identidade e devem continuar apostando.
IN NO SENSE e SYSTENOCÍDIO
Peso e presença de palco de todos os músicos marcaram a apresentação da banda Fortalezense de Metal Core IN NO SENSE. Talvez os músicos mais profissionais da noite, não deixaram um pescoço sem torcicolo. O peso continuou com a SYSTENOCÍDIO, de Nova Russas, com letra bem reflexiva, ao mesmo tempo contra religiões e a favor de Deus.
FORA D' ROTA
A FORA D' ROTA talvez tenha sido a banda que mais deve refletir sobre qual caminho querem seguir, sem conseguir justificar com conteúdo o nome dado à sua música ("V.A.G.I.N.A"). São engraçados? São revoltados? Fazem crítica social? Gostam de sexo e de falar de sexo? São apenas jovens a fim de se divertir? Não há problema nenhum em dizer sim a uma (ou a todas essas perguntas), isso é rock e nesta noite em particular tivemos muito disso (desde os VELHOS ABUTRES sacanas aos meninos imberbes da RATE, passando pela raiva incontida de LEGIONÁRIOS, IN NO SENSE e SYSTENOCíDIO, pelo amor adulto de INTRUSOR e VENENO DE SHAKESPEARE ou ainda pelo caricato GLAUCO KING). A banda deveria refletir e se conhecer melhor antes de tentar se mostrar para o mundo num palco. Atirar em diversas direções nem sempre é garantia de acertar o alvo.
Resultados do festival
O resultado final trouxe duas surpresas, dois empates. VELHOS ABUTRES e IN NO SENSE, que mostraram muito profissionalismo e fizeram apresentações perfeitas, empataram em primeiro com 127 pontos.
Foram seguidos por GLAUCO KING e SYSTENOCÍDIO, empatando com 123 pontos.
Com lugar garantido no ranking e recebendo a premiação de terceiro lugar veio a INTRUSOR, com 120 pontos.
Sem participar da premiação, em seguida vem a boa banda VENENO DE SHAKESPEARE. RATE, LEGIONÁRIOS e FORA D' ROTA precisam amadurecer mais e ficaram com as últimas posições (apesar dos pontos positivos já indicados).
Além do atraso no início das apresentações, causado principalmente pelo péssimo costume do público (dali e de qualquer outro lugar do Brasil) de só chegar depois do horário marcado, o formato do festival fez com se prolongasse por toda a noite (devido às muitas trocas de palco). O saldo, porém, é extremamente positivo. O festival, que não teve patrocínio do poder público (pra falar a verdade, nem sempre isso é bom, vide os festivais que acontecem em Fortaleza e tomam calote da prefeitura), foi realizado com a vontade de de bandas e jurados que não mediram esforços para se fazer presentes e comerciantes e profissionais liberais da Região da Ibiapaba, sobretudo pela vontade de Francisco Randolfo, pequeno empresário local, conhecido como Mata Broca (broca seria um regionalismo para fome que nem eu conhecia). É impressionante o que o desejo de incentivar a cultura é capaz de fazer. E mais impressionante ainda é saber que isto pode ser feito repetidas vezes (esta foi a segunda edição). Aquele palco imenso ratifica o que digo. Mesmo sem uma barrinha de sinal de celular (tudo bem, Woodstock também não tinha), em pleno 2014, um festival nestas proporções leva cultura e serve de vitrine para bandas de todo o Ceará. E se Iracema tomava banho pela manhã na Lagoa de Messejana e à tarde na Cachoeira do Ipu, as bandas de Fortaleza foram à Várzea do Giló para um embate duríssimo com bandas do Interior, que tanto precisa receber incentivos à cultura para não se ver a mercê do famigerado Forró Eletrônico. O interior do Ceará, o interior do Brasil também precisa de rock e metal.
Veja mais fotos do festival em
https://www.flickr.com/photos/danseixas/sets/72157647362812766/
Cortesia de Dan Seixas, para quem vão todos os créditos.
Agradecimentos: Francisco Randolfo (Mata Broca), pelo convite e recepção, Dan Seixas pelas fotos e Lucilene Cândido, Natália Cândido e Alexandre Menezes, pela companhia nesta aventura cheia de rock.
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