Paradise Lost: um quarto de século em 90 minutos!
Resenha - Paradise Lost (Clash Club, São Paulo, 12/04/2014)
Por Durr Campos
Postado em 20 de abril de 2014
Quando o PARADISE LOST esteve no Brasil em dezembro de 2012 promovia seu até então derradeira investida em estúdio, "Tragic Idol", 13º em sua discografia. Bastante elogiado por público e crítica, o trabalho caracteriza-se por um som entre o doom metal tradicional e o metal clássico britânico. A bolachinha também trouxe aquela curiosidade em ouvirmos como se sairia o baterista Adrian Erlandsson (ex-At The Gates/ Cradle of Filth), o qual debutava com o grupo neste formato após entrar em 2009 e de fato cumpriu com as expectativas. Para esta nova visita os britânicos vieram celebrar com seus fãs brasileiros os 25 anos de carreira tocando boa parte das canções favoritas deles. A Clash Club, na capital paulista, não estava plenamente lotada, mas quem enfrentou a forte chuva naquele sábado à noite pode contemplar um bom concerto. Estivemos presentes e compartilhamos o resumo dos acontecimentos, bem como as buriladas imagens do Fernando Yokota, praticamente um prelado das lentes. Agradecimentos à Dark Dimensions pelo credenciamento e suporte.
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A grata surpresa ao iniciar o set com "Mortals Watch the Day" de "Shades of God" (1992) foi extremamente bem aceita. Este que marca o fim da primeira fase com vocais guturais é bastante querido pelo público brasileiro que, penso, pode ter esperado por uma coladinha com "As I Die", a qual não ocorreu, mas ilustrou de todo modo uma noite repleta de hinos dali por diante. Um leve salto no tempo e "So Much Is Lost" foi a escolhida para a sequência. "É sábado à noite, pessoal. Vamos dançar!", disse Nick Holmes segundos antes daquele swing delicioso abrir alas a uma casa realmente em polvorosa. "Host" (1999), de onde esta vem, é o famoso álbum em que a banda optou por seguir a linha do seu antecessor, "One Second" (1997), mas dando ainda mais ênfase ao approach eletrônico, climas mais densos, experimentais e guitarras com distorções nada comuns dentre os nomes do gênero. Até hoje apontado como sua feitura mais polêmica, percebi que com o passar dos tempos a obra passou a ser mais e mais compreendida. Ponto aos seguidores dos britânicos, capazes de acompanhar a linha criativa de seus ídolos. "Remembrance" trouxe aquela área inesquecível de "Icon" (1993) e com ela todas as memórias deste que vos escreve ao escutar o Paradise Lost com vocais limpos pela primeira vez. Lembro-me de conectar Holmes a (James) Hetfield naqueles dias, mas havia ali uma riqueza que somente os ingleses eram aptos a corporificar. Ela ainda traz um ótimo solo do Greg Mackintosh contendo um two-hands belíssimo, além do refrão mais que bacana.


"Somos uma banda de 45 mil anos, por isso vamos tocar uma dos primórdios. Que tal "Gothic"? A Clash veio abaixo quando a faixa-título daquele que é para muitos o disco essencial do PS. Também recordo-me de quando o ouvi pela primogênita vez. Ninguém, absolutamente ninguém tocava guitarra daquele jeito. Inspiradora e criadora de uma infinidade de imitações, a banda também oficializva ali de uma vez por todas o estilo gothic metal. Ali naquela noite os vocais femininos vieram pre-gravados, assim como os teclados, mas estava tão perfeitamente sincronizados que mais parecia termos mesmo dois músicos escondidos executando suas funções. Nick urrava decentemente. Pelo visto o tempo de limpeza vocal não maculou a besta naquelas pregas, mas adicionou-lhe uma calacária sem precedentes. Que homem modorrento víamos ali, senhoras e senhores. Sorte a dele ter na manga algo como, por exemplo, "Enchantment", lindeza imensurável de "Draconian Times" (1995), provavelmente seu álbum mais festejado. Nesta só precisou as primeiras notas do piano. O coro foi algo surreal de se ouvir. Eles sabem o público que tem. Este poderia ser tocado na íntegra fácil e mesmo assim sairiam de lá ovacionados. Pena apenas esta ter sido lembrada no repertório. Holmes brincando com a plateia: "Vocês vão pedindo músicas não é? Bem, esta é do álbum "Faith Divides Us - Death Unites Us" (2009) e chama-se (fazendo suspense), " Faith Divides Us - Death Unites Us" (dizendo bem rápido)". Ele estava engraçadinho ali. Que bom!

A ótima "Tragic Idol" foi a filha única deste trabalho ali presente e pode-se perceber que já goza de boa popularidade no que diz respeito a cantar junto. No entanto, "Never for the Damned", que abre o "In Requiem" (2007) obteve mais sucesso e vozes em coro. Dele eu ainda esperei por "The Enemy" e, lógico, a sensacional de "Missing" do Everything but the Girl. Não vieram nem estas nem outras daquele trampo, mas era um momento de abranger toda a disgrafia, então sobravam pedidos e faltava espaço. A parte final do set regular veio, nesta ordem, com "Isolate", que serviu para Nick apresentar a banda, a qual estava ali ainda com, além dos outrora mencionados, Aaron Aedy nas guitarras e Steve Edmondson no baixo. O sotaque de Holmes é primoroso, em tempo. Sobre a canção, eu a adoro. Dançante e melancólica, impressiona como fica tão bem ali junto ao material antigo. E tem como não cantar este refrão? "Come feel the fire burn I'll slowly drift away/ A victim of the future my mind and soul decayed... Isolate", para ficarmos apenas neste diminuto extrato. Daí veio uma das que mais aprecio em todo o kit de canções do Paradise Lost, a perenal "Say Just Words", daquele disco já citado ali acima por mim, "One Second". Discordem se quiserem mas acho-o vital dentro da discografia dos britânicos. Penso que ali eles de fato "saíram do armário" com seu experimentalismo, sem medo de represálias. As tiveram, e muito, mas mesmo assim seguiram ainda mais na vanguarda. E cá entre nós, caro leitor, a pegada a la Depeche Mode e toda a vibe synthpop do Reino Unido deu certo, porque catapultou a banda aos charts alemão, suecos e boa parte da Europa. Somente seu país de origem não o escutou com bons ouvidos, por incrível que pareça. Veja o clipe da faixa em questão logo mais.
O encore veio em duas partes. O primeiro demorou uns 10 minutos para iniciar, mas percebia-se uma certa dificuldade em ajeitar o som das guitarras de Aaron e algo no baixo também. Pelo menos a espera fora recompensada com algo muito fora do comum, "Rotting Misery", da estreia em estúdio, "Lost Paradise" (1990), quase sempre ignorada por banda e público, mas compreensível por não representar de fato o que viria a seguir. Tudo bem que há predicados no disco, em especial pelas claras influências de bandas como Celtic Frost, Candlemass, Death, Black Sabbath, Kreator e até Repulsion! Ouvir novamente Holmes vociferando é sempre um prazer, mesmo preguiçoso desse jeito, mas pelo que ando observando por aí o próximo álbum tem claras chances de vir em uma linha mais extrema. Possuo um amigo bem ligado ao PS que desconfia do mesmo. Em nova tentativa de soar mais pandego, o frontman volta a brincar: "Que tal bater palmas como fizeram pro Metallica?" Imediatamente obedecido, "One Second" nos brinda com uma linha vocal de primeira e uma música melhor ainda! Aliás, já falei o quão bom é este álbum? Ops! Olhei ali no outro parágrafo e vi que já... essa minha memória. Em "True Belief" fui ao fundão e de lá assisti um grupo de fãs cantando-a com tamanha felicidade que até parei de prestar atenção à banda. "Over the Madness" tem uma pegada doom e, cá pra nós, poderia ter sido ofertada de presente ao My Dying Bride, outro de seus conterrâneos e colegas de estilo musical. É mais daquela instituição que deles, eu diria. Digo isso com imenso carinho pois nutro por ambas uma admiração exatamente igual, inclusive a mais que ao Anathema por, direito deles ou o que valha, ignorar seus primeiros dias. A densidade nos acordes desta não deixou ninguém esquecer que estávamos ali diante de líderes e não seguidores (obrigado pela deixa, Napalm Death).

O segundo bis trouxe apenas "Erased", mas foi suficiente para cingir um dos eventos mais interessantes dos últimos meses. O piano, bateria e refrão são convites a encher o peito e celebrar junto aos seus criadores. Vou até postar o vídeo também. E para finalizar este texto, fiquemos com uma frase da própria canção, a qual já tive vontade de incluir em uma tatuagem: "Cuide de minha religião, fé é apenas ficção!"
Line-up
Nick Holmes - Vocal
Gregor Mackintosh - Guitarra
Aaron Aedy - Guitarra
Steve Edmondson - Baixo
Adrian Erlandsson - Bateria
Set-list
Mortals Watch the Day
So Much Is Lost
Remembrance
Gothic
Enchantment
Faith Divides Us - Death Unites Us
Tragic Idol
Never for the Damned
Isolate
Say Just Words
Encore:
Rotting Misery
One Second
True Belief
Over the Madness
Encore 2:
Erased
Fotos: Fernando Yokota. Galeria completa no link abaixo.
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