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Open The Road Festival: A finesse do crossover em um só lugar

Resenha - Open The Road Festival II (Via Marquês, São Paulo, 15/12/2013)

Por Durr Campos
Postado em 20 de dezembro de 2013

Em sua segunda edição, o Open The Road Festival apostou em um cast trazendo D.R.I, RATOS de PORÃO, BENEDICTION e VIOLATOR, acertando na mosca o que a galera estava a fim de ver e ouvir em um domingo pra lá de aquecido, tanto dentro quando fora da Via Marquês, onde a plácida peleja sucedeu de forma benigna e sem maiores problemas. Só deixo um sincero pitaco à organização para que acompanhe mais de perto a atuação dos seguranças na entrada da casa. Presenciei boas doses de falta de educação da parte dos "homens de preto" para com os pagantes e nenhuma boa vontade para conosco da imprensa.

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Fotos: Kennedy Silva

Violator

Pontualidade foi algo a ser destacado no Open The Road Festival. Sendo assim, às 18h as cortinas abriram-se e lá estava o Violator, quarteto candango de thrash metal old-school. Como de costume iniciaram com "Ordered To Thrash", instrumental do debut "Chemical Assault" (2006), emendada com a que abre aquela bolachinha, "Atomic Nightmare", um convite ao mosh-pit, assim como tudo o que compõe seu repertório! A homenagem ao Celtic Frost com "Endless Tyrannies" foi super bem tocada e ter aquele trechinho de "Circle of the Tyrants", hino da homenageada, abalou as estruturas da Via Marquês. O baixista/vocalista Poney fez novamente aquele discurso da não idolatria aos músicos e bandas, criticou o separatismo na cena metálica e logo em seguida mandou "Thrash Maniacs". Outros destaques ficaram por conta da excelente "Toxic Death", a velocidade absurda e contagiante de "Destined to Die" e o final apoteótico com "UxFxTx (United For Thrash)". Banda ótima, mas fica a dica: menos papo, galera, a demagogia e utopia da falácia podem ser bem maçantes.

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Line-up
Poney - Bass/Screams
Capaça – Guitars
Cambito – Guitars
Batera – Drums

Benediction

Os veteranos do death metal britânico já estiveram no Brasil e jamais decepcionam quando o assunto é porrada na cara sem necessariamente soar uma britadeira a todo instante. Na verdade o forte dos senhores de Birmingham reside justamente nas levadas mais cadenciadas, as quais agregam um peso pavorosamente eficaz aos riffs criados pelos insanos Darren Brookes e Peter Rew. A entrada de David Hunt logo após o lançamento de "Grind Bastard" (1998) deu novo rumo e adicionou uma agressividade peculiar, até por conta da bagagem do barbudo por seu trabalho no Anaal Nathrakh (onde é conhecido por V.I.T.R.I.O.L.) e no menos conhecido Mistress (lá sob a alcunha de Dave Cunt). Tamanha dinâmica de palco fez com que as ausências dos frontmen anteriores, Mark 'Barney' Greenway (Napalm Death) e Dave Ingram, não fossem sentidas em demasia, com todo respeito ao legado de ambos.

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O "Benê", como é carinhosamente chamado no país, vem tocando um de seus álbuns mais aclamados na íntegra, o seminal "Transcend the Rubicon" (1993), mas de forma embaralhada no set-list, deixando tudo mais interessante. Às 19h o morticínio teve início com "The Grey Man", faixa de abertura do até agora mais recente de estúdio, "Killing Music", editado no já longínquo ano de 2008. Como é do conhecimento de alguns, o baterista Per Karlsson toca no Deströyer 666, mas já batucou/batuca pelo Nominon, In Aeternum, Nex, Serpent, Wortox, Interment e Altar, dentre outros famigerados, daí pode-se imaginar o poder trazido ao conjunto. Justiça seja feita, itens como "Unfound Mortality" e "Nightfear" soaram tão boas que era possível fechar os olhos e imaginar Ian Treacy (baterista do grupo de 1988 a 1994) ali, assim como na sensacional "The Dreams You Dread", certamente uma das mais velozes de sua coleção de ritos, também responsável por batizar o registro lançado em 1995. Porém, antes de tocá-la e percebendo a ‘vibe’ do rolê, Hunt chamou a atenção dos seguranças para que não reagissem com agressividade à empolgação do público: "Façam o trabalho de vocês, mas mantenham a calma. A molecada só está se divertindo", enfatizou. A coisa melhorou ainda mais com as irretocáveis "The Grotesque", "Painted Skulls" e a fundamental "Subconscious Terror", a qual encerrou o showzaço deles!

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Line-up
Darren Brookes (guitarra)
Peter Rew (guitarra)
Dave Hunt (vocal)
Frank Healy (baixo)
Per Karlsson (bateria)

Ratos de Porão

Pouco passava das 20h quando o R.D.P. tomou de assalto uma Via Marquês com gente saindo pelo ladrão de tão cheia. Show da banda é sinônimo de festa, pois a celebração chega a ser religiosa com quase toda a totalidade cantando palavra por palavra entoada por João Gordo. Aliás, foi hilário vê-lo em cena trajado como o Mickey Mouse, confirmando que irreverência e clima amistoso são essenciais em um show de rock and roll. Se há alguém na face da Terra que não faça ideia sobre o que estou a escrever, trata-se de um dos gigantes do crossover, nome seminal também dentre os apreciadores de hardcore, punk, metal ou tudo isso junto e misturado. Formado em 1981 na capital paulista, o quarteto contabiliza mais de uma dezena de álbuns de estúdio, incontáveis splits, 7" EPs e compilações pelos quatro cantos do globo.

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O cataclisma tomou conta do lugar durante toda a apresentação, mas foi naquelas que todos nós adoramos que a coisa atingiu proporções inimagináveis. Quer que eu dê nome aos bois, não é? Vamos lá, mas sem ordem de execução: "Plano Furado", "Ignorância", "Crise Geral", "Peste Sexual", "Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo" e a lista vai longe. Como é de costume, o Ratos prestou sua deferência a algumas bandas, a exemplos do Olho Seco ("Olho de Gato") e Inocentes ("Medo de Morrer"). Isso sempre pega bem e confirma que a maturidade elimina o estrelismo. E olha que estamos falando do grupo responsável por importâncias como "Amazônia Nunca Mais", "Mad Society" (esta possui um apreço singular a este que vos escreve), a ode "Beber Até Morrer", "Igreja Universal" (e sua, infelizmente, letra atualíssima), a obrigatória "Aids, Pop, Repressão", dentre outros inescrupulosamente deliciosos temas. Como se não bastasse o que ocorria no palco ainda tivemos nossos bolsos depenados com tanta opção na lojinha montada pela Pecúlio Discos, do baterista Boka. Eu mesmo não resisti.

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Line-up
João Gordo (vocal)
Jão (guitarra)
Juninho (baixo)
Boka (bateria)

D.R.I.

Os caras mais sujos, podres e imbecis que o Texas já pariu vieram nos visitar novamente. Se a alusão ao nome da banda pode parecer inadequada para descrevê-la no âmbito pessoal, mostra-se exata ao elucidar sua indecência quando está em cena diante de uma plateia tão dela. Porque o que o D.R.I. (ou Dirty Rotten Imbeciles, daí eu ter iniciado o parágrafo com os singelos adjetivos) fez naquela noite de domingo na Via Marquês vai novamente entrar para a história, assim como acorreu em sua primeira visita ao país em 1990, no Projeto SP, época em que promoviam o onipotente "Thrash Zone", lançado mundialmente um ano antes. De lá para cá foram mais duas aterrissagens no Brasil, sendo que a de 2011 contou com cinco shows.

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Da formação que nos visitou há dois anos, "apenas" o guitarrista e membro fundador Spike Cassidy não veio, tendo sido substituído pelo simpático Ed "Loco" Reyes, do Verbal Abuse, outra lendária instituição do underground. No mais, lá estavam o vocalista Kurt Bretch (vocal), o baterista Rob Rampy e, lógico, o doidão Harald Oimoen, que já havia dado as caras no palco durante o show do Violator oferecendo pirulito (ou sei lá o quê era aquilo) enquanto "atrapalhava" o pessoal de forma descontraída e camarada. Aliás, o rapaz é tão "de boa" que faz de tudo no D.R.I., desde fotografia, passando pelo merchandising oficial e ainda é o seu próprio técnico de baixo.

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Logo no início do set às 21h até seu encerramento, pouco mais de uma hora após, foram 26 canções cantadas a plenos pulmões pelos músicos e seus fãs, mesmo nos momentos em que o microfone de Kurt falhou. Felizmente os problemas técnicos foram sanados em tempo de não comprometerem o brilho e pujança da apresentação. Eu citei o público há pouco, mas preciso voltar a ele para registrar a beleza que foi ver tanta gente se divertindo de forma tão afável, mesmo o som pedindo um comportamento mais, digamos, eufórico. Se bem que eu já estou acostumado a eventos envolvendo hardcore, crust, punk, grindcore, splatter, crossover, etc. e, na maioria das vezes, são compostos por gente da mais fina etiqueta, sem brincadeira. Por exemplo, TODOS os pisões nos pés ou chutes na canela que levei foram acompanhados de pedidos de desculpas enfáticos e até mesmo de um copo de cerveja. Quem conhece sabe do que estou falando.

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Entrando em detalhes na música executada, confesso que não ser um Ph.D. em D.R.I., mas ouvi MUITO os álbuns "4 of a Kind" (1988) e, principalmente, o "Thrash Zone" (1989) . Do primeiro citado, já de cara, tive o prazer em ver e ouvir "Slumlord", "Dead in a Ditch" e "Suit and Tie Guy" assim, uma seguida da outra. Dali ainda houve "All For Nothing" e "Manifest Destiny", daquelas de arrancar sorriso até no mais turrão. Já do meu predileto bolachão – pois é neste formato que o tenho até hoje, nos agraciaram com poucas, de repente os mais insignes do tracklisting: "Thrashard", "Beneath The Wheel" e "Abduction". Pois este aqui que vos traça estas linhas queria mais. Quem concorda que "Enemy Within", "You Say I’m Scum", "The Trade" e "Give a Hoot" fizeram falta?

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Logicamente que o seminal "Dirty Rotten" (1983) foi deveras tocado naquela noite. Anote aí: "Who Am I", que abriu o show; "Commuter Man", "Yes, Ma’am", "I Don’t Need Society", "Snap" (Nota do redator: Canção que abre o segundo full-length "Dealing With It!", mas também faz-se presente no CD-bônus da versão remasterizada do primeiro, por isso aqui mencionada) e duas do EP "Violent Pacification", a faixa-título e "Cough Slouch", lançado de forma quase simultânea com o debut, originalmente no mercado como um sete polegadas, vale a lembrança. O encerramento seria com "Five Year Plan", do álbum que definiu todo um gênero musical, isto é, "Crossover" (1987), mas dada a enxurrada de pedidos resolveram presentear os glutões com "The Application", do "Definition" (1992), de onde também saiu, para ficarmos apenas nesta, a saborosa "Acid Rain", presente na aula que foi aquilo tudo.

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Set-list D.R.I.
Who Am I
Slumlord
Dead in a Ditch
Suit and Tie Guy
Acid Rain
How To Act
Commuter Man-
Thrashard
Beneath The Wheel
Argument Then War
Snap
Rather Be Sleepin’
Madman
Cough Slouch
Equal People
Yes, Ma’am
The Explorer
Karma
All For Nothing
Manifest Destiny
I Don’t Need Society
Soup Kitchen
A Coffin

Encore:
Abduction
Violent Pacification-
Five Year Plan

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Sobre Durr Campos

Graduado em Jornalismo, o autor já atuou em diversos segmentos de sua área, mas a paixão pela música que tanto ama sempre falou mais alto e lá foi ele se aventurar pela Europa, onde reside atualmente e possui família. Lendo seus diversos artigos, reviews e traduções publicados aqui no site, pode-se ter uma ideia do leque de estilos que fazem sua cabeça. Como costuma dizer, não vê problema algum em colocar para tocar Napalm Death, seguido de algo do New Order ou Depeche Mode, daí viajar com Deep Purple, bailar com Journey, dar um tapa na Bay Area e finalizar o dia com alguma coisa do ABBA ou Impetigo.
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