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Manowar: poucos clássicos e nítida sensação de frustração

Resenha - Manowar (Credicard Hall, São Paulo, 07/05/2010)

Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 08 de maio de 2010

Já fazia 12 longos anos desde que o Manowar esteve no Brasil pela última vez, conforme fez questão de lembrar algumas muitas vezes o baixista e líder do grupo, Joey De Maio, durante a apresentação da banda norte-americana em São Paulo nesta sexta-feira (7). Mas para a multidão de fãs que lotou a casa de shows paulistana Credicard Hall, o retorno dos Reis do Metal aos palcos brasileiros teve um gosto um tanto amargo. Isso porque o repertório selecionado pelos músicos foi formado inteiramente pelos discos dos anos 2000: "Warriors Of The World" (2002), "Gods Of War" (2007) e o recente EP "Thunder In The Sky" (2009). Não acredita? Role a página e vá até o final, conferir o setlist. Exatamente: nada de clássicos antigos, aqueles que os Manowarriors tupiniquins estavam loucos para ouvir novamente, depois de tanto tempo. Ao final da apresentação de quase duas horas, ficou nitidamente no ar uma sensação de frustração. Para alguns, inclusive, a sensação era de revolta.

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A abertura ficou a cargo dos paulistanos do Kings of Steel, tradicionalmente uma competentíssima banda cover do Manowar – mas é claro que, nesta apresentação, eles optaram por canções próprias (como aquela que dá nome ao grupo) e por suas versões para clássicos como "Rainbow in the Dark" (Dio). Junte a isso o discurso típico de "estamos aqui para celebrar o verdadeiro metal", aprendido com os mestres, e você tem uma platéia devidamente incendiada, pronta para arrasar. O cenário estava montado, com uma expectativa no ar tão palpável quanto os capacetes vikings de brinquedo que um grupo de maníacos usava, junto com pinturas faciais de guerra, em homenagem ao tema nórdico que o Manowar tanto gosta.

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Depois de um atraso de meia-hora, a faixa "Hand of Doom" abre o tão aguardado show do quarteto – que, nas baquetas, trouxe uma novidade: Donnie Hamzik no lugar de Scott Columbus, em sua primeira vez no Brasil. Columbus anda afastado das atividades do grupo por "problemas pessoais", sendo substituído regularmente por Hamzik ou pelo antigo baterista Rhino. Foi Hamzik, inclusive, quem gravou as canções de "Thunder in the Sky" e, por isso, era de se esperar que estivesse plenamente familiarizado com músicas como "Die with Honor" e "Let the Gods Decide", que abriram a apresentação em alto estilo, em adrenalina máxima. Mesmo a semi-balada "Swords in the Wind" foi apresentada com tamanha energia que chegou a arrepiar. Aquele era o Manowar que todo mundo queria ouvir, em plena forma, afinados e integrados como sempre. A voz do vocalista Eric Adams, por exemplo, resistiu muito melhor ao tempo do que a de seus pares. Prenúncio de uma noite memorável.

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Quando o porta-voz Joey De Maio veio, cerveja em punho, fez sua tradicional saudação, o Credicard Hall veio abaixo. Imagine então o quanto De Maio não foi aplaudido quando começou a conversar com a galera em português. Um português macarrônico, é claro, mas que foi muito além do "boa noite" e "eu te amo, Brasil". Segundo ele, as garotas brasileiras teriam lhe ensinado frases como "você tem namorado?", "você gosta de heavy metal?" e "você está molhadinha". Nada mais Manowar, leia-se. Para completar o papo, óbvio, nada melhor do que aquela mensagem para todos que não gostam do Manowar ou de heavy metal: FUCK YOU! Momento clássico, seguido do convite para que uma pessoa do público subisse ao palco para tocar guitarra com a banda. "Quem aqui tem bolas para tanto?", provocava o músico. Quando um corajoso se voluntariou, tomou uma bronca por estar usando a camiseta "errada" (uma do Iron Maiden ao invés de uma do Manowar), que logo tirou. Entornou (ou tentou) tomar cerveja no estilo Manowar. E ainda recebeu o incentivo de três moçoilas que vieram dos bastidores e que, enquanto o rapaz tocava, tiraram as roupas. Nem é preciso dizer que os marmanjos deliraram.

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Aliás, quando a banda engatou "Die for Metal" (que, é claro, funciona ainda melhor ao vivo do que no disco, como já se podia prever), Joey De Maio praticamente se esqueceu de tocar, já que estava bastante distraído com suas desinibidas acompanhantes. O refrão "they can’t stop us / let ‘em try / for heavy metal / we will die" foi repetido em uníssono por aquelas milhares de pessoas.

Que baita show se anunciava!

Mas aí o ritmo foi caindo. O Manowar passou a engatar uma seqüência de "The Sons of Odin", "Sleipnir", "God or Man" e várias outras canções inéditas. Boas músicas, de fato, mas que foram deixando as pessoas mais e mais ansiosas pelos clássicos mais antigos. Mesmo ao longo do tradicional solo de De Maio, com direito a dedilhado flamenco e brincadeirinhas com o público, para ver qual lado fazia mais barulho, era possível ouvir gritos de "Hail and Kill".

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A apresentação terminou de maneira quase súbita, com a poderosa "Thunder in the Sky", deixando um mal-estar rondando. Joey não demorou a voltar ao palco, anunciando que eles não podiam ir embora e que ainda tinham mais para tocar. O chefão do Manowar deixou claro que agora eles não demorariam mais tanto tempo para retornar ao nosso país. E foi a hora de "Warriors of the World", com seu refrão libertador, seguida da pesadíssima "House of Death". Sim, agora parecia que os clássicos pré-2000 estavam a caminho. Nada. Para encerrar de vez, veio "King of Kings", primeiro single do disco "Gods of War". Todos se reuniram no centro do palco, saudando os brasileiros com os braços levantados e os punhos agarrados. Joey De Maio então procedeu o seu ritual típico de destruição das cordas do baixo. Luzes espocaram. "Good night, São Paulo!". E é isso. Saldo? Um show bom. E ponto. Show que poderia ter sido muito melhor. Ficou a sensação cristalina de que algo ficou faltando.

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Tudo bem, "Warriors of the World" e "Gods of War" são bons discos. É claro que os brasileiros iriam querer ouvir algo destes dois álbuns, cujas faixas eram até então inéditas nos nossos palcos. Da mesma forma, o EP "Thunder in the Sky" é bombástico, a promessa de que o vindouro "Hammer of the Gods" será ainda mais épico e especialmente pesado. Concordamos quanto a isso. E também sou partidário de que uma banda tem total liberdade artística para escolher o que vai tocar ao vivo, sem precisar se influenciar pela pressão do público. Mas estamos falando de outra coisa. Como diz o mestre Gene Simmons, do Kiss, "o público é nosso patrão. Eles compram ingressos para shows e nossos CDs. Eles é que mandam". Exageros típicos do linguarudo à parte, a questão aqui é fundamentalmente "respeito".

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O Brasil é um território particularmente receptivo para bandas de rock pesado, não é preciso ficar repetindo isso. Mas o mínimo que os brasileiros esperam é a retribuição do carinho que oferecem aos seus ídolos cabeludos. Ninguém queria um repertório formado apenas por velharias. Longe disso. Mas um show sem nenhuma canção de antes de 2002? E depois de 12 anos sem dar as caras por aqui? Isso é praticamente ignorar o passado, fingir que os fanáticos perdoariam um show dos Stones sem "Satisfaction" ou do Purple sem "Smoke on the Water". E isso vindo de uma banda que se orgulha e pavoneia de conhecer e cuidar de seu Army of Immortals pessoal. Sei.

Mr. De Maio, que tal trocar aquele interminável solo de baixo por "Hail and Kill" ou "Battle Hyms"? Mr.Logan, o que acharia de deixar de lado o solo de guitarra e tocar "Kings of Metal" ou "Metal Warriors"? Sinceramente, acredito que falo por todos quando digo que seria até aceitável que as moças de família ficassem quietinhas no camarim, totalmente vestidas e tudo mais, enquanto aquela mise-èn-scene seria substituída por "Blood of My Enemies", "Kill with Power" ou "Black Wind Fire and Steel". E isso falando apenas das mais óbvias. E isso sem pensar em tirar qualquer das músicas mais recentes do set. O resultado seria completamente diferente.

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Quando o palco se apagou e "Army of the Dead – Part II" começou a tocar nos alto-falantes, ainda havia um pingo de esperança. Mas aí as luzes da casa se acenderam. Os roadies subiram e começaram a desmontar a bateria. As cortinas se fecharam. E uma vaia, por incrível que pareça, se levantou em meio ao público. Do fundão, ouviu-se um grito de "Maiden! Maiden!", que chegou até a surpreender membros da equipe de gravação do Manowar. "Estou indignado, isso é uma vergonha!", gritava um dos fãs. "Joguei 150 reais no lixo", lamentava-se outro. "Temos que encher o site deles de comentários, isso não pode ficar assim!", convocava um dos mais exaltados. No fim das contas, uma banda com fãs tão fiéis e dedicados quanto o Manowar deveria perceber que, quando uma performance termina e deixa o público reagindo desta forma, é sinal de que alguma coisa não deu muito certo. Se eles voltarem ao Brasil tão depressa quanto prometeram para rever o que Joey De Maio chamou de sua família, talvez a reação não seja assim tão calorosa...

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LINE-UP
Eric Adams – Vocal
Karl Logan – Guitarra
Joey De Maio – Baixo
Donnie Hamzik – Bateria

SETLIST
HAND OF DOOM
CALL TO ARMS
DIE WITH HONOR
SWORDS IN THE WIND
(KARL LOGAN SOLO)
LET THE GODS DECIDE
DIE FOR METAL
THE SONS OF ODIN
SLEIPNIR
(JOEY DE MAIO SOLO)
GOD OR MAN
LOKI GOD OF FIRE
THUNDER IN THE SKY

Bis
WARRIORS OF THE WORLD (UNITED)
HOUSE OF DEATH
KING OF KINGS

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Sobre Thiago El Cid Cardim

Thiago Cardim é publicitário e jornalista. Nerd convicto, louco por cinema, séries de TV e histórias em quadrinhos. Vegetariano por opção, banger de coração, marvete de carteirinha. É apaixonado por Queen e Blind Guardian. Mas também adora Iron Maiden, Judas Priest, Aerosmith, Kiss, Anthrax, Stratovarius, Edguy, Kamelot, Manowar, Rhapsody, Mötley Crüe, Europe, Scorpions, Sebastian Bach, Michael Kiske, Jeff Scott Soto, System of a Down, The Darkness e mais uma porrada de coisas. Dentre os nacionais, curte Velhas Virgens, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Matanza, Sepultura, Tuatha de Danaan, Tubaína, Ira! e Premê. Escreve seus desatinos sobre música, cinema e quadrinhos no www.observatorionerd.com.br e no Twitter.
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