O rock envelheceu e é cobrado para ele ser um eterno jovem
Por Marcelo Euze
Postado em 06 de outubro de 2024
O rock, como um bom vinho, envelhece. Mas, ao contrário da bebida, a música é submetida a um julgamento implacável, onde a juventude eterna é exigida como um pré-requisito para um show perfeito.
A performance do Journey no Rock in Rio recente expôs de forma crua a crueldade dessa cobrança, revelando a profunda falta de compreensão de muitos fãs em relação ao processo natural do envelhecimento e às exigências físicas e emocionais de uma carreira musical.
Subir ao Palco Mundo do Rock In Rio, após décadas de estrada, é um feito e tanto e ainda ter que lidar com problemas técnicos ao vivo, tem que se levar em conta também. No entanto, a banda foi alvo de críticas injustas principalmente contra o vocalista: Arnel Pineda, por supostamente não entregar um show perfeito. Mas, será que é justo exigir de um músico a mesma agilidade, resistência e potência vocal de quando era mais jovem?
O rock, por sua natureza, é um gênero que exige um desgaste físico considerável para ser tocado ao vivo. A bateria, os riffs de guitarra, o vocal e o baixo, todos exigem uma força e precisão que se deterioram com o tempo e alguns músicos ficam impossibilitados de seguir tocando como é o caso recente do: Steven Tyler, vocalista do Aerosmith, Jon Bon Jovi também vem enfrentando problemas com a voz, Axl Rose é outro muito criticado. A capacidade técnica, por mais aprimorada que seja, é limitada pela fisiologia humana e pelo estilo de vida que cada um teve ao longo da carreira.
É preciso considerar também o fator psicológico, o estado emocional do dia do show, a saúde mental e física. A pressão de atender às expectativas do público, aliada à rotina exaustiva de viagens, mudanças de fuso horário e diferentes climas, impacta diretamente na performance de qualquer artista, mas especialmente dos mais experientes.
O corpo humano não é uma máquina, e os efeitos do envelhecimento são inevitáveis, mesmo para os maiores ídolos do rock.
A cobrança por uma performance impecável, sem falhas e com a mesma energia da juventude, é uma ilusão perigosa. É como exigir que um atleta olímpico mantenha o mesmo desempenho aos 50 anos. É desrespeitar a trajetória de uma banda, a história que ela construiu e a contribuição que ela deu para a música.
É hora de entender que o rock não é um esporte, e sim uma arte. E como toda arte, ela evolui, se transforma e se adapta ao tempo. As marcas do tempo nos rostos e nas vozes dos nossos ídolos são, na verdade, um sinal de autenticidade e experiência. É a prova de que eles dedicaram suas vidas à música e continuam a fazer o que amam, mesmo diante dos desafios da idade.
A próxima vez que você for a um show de rock, lembre-se: os seus ídolos são seres humanos, com suas limitações e imperfeições. Em vez de exigir a perfeição, celebre a jornada, a história e a paixão que os levaram até ali. O rock é muito mais do que uma simples performance, é uma experiência que transcende o tempo e conecta gerações.
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