Metal Cristão vs. Radicais Extremistas: Bem vindo ao reino das incoerências
Por Fabio Reis
Postado em 24 de novembro de 2015
1. INTOLERÂNCIA E RADICALISMO
Desde que apareceram as primeiras bandas de Metal que se utilizaram da ideologia Cristã para constituir a temática de suas letras, é de conhecimento geral o surgimento de um grupo radical que instantaneamente se posicionou de forma contrária e não reconhece a legitimidade de tais grupos como fazendo parte do Heavy Metal.
A explicação dada pela grande maioria das pessoas que compartilham tal pensamento, é a de que o gênero musical nasceu da insatisfação contra os dogmas da sociedade e da necessidade de se posicionar contra as doutrinas religiosas e políticas. Desde sua criação, o Heavy Metal teria um caráter revolucionário e contestador, portanto livre de regras pré-estabelecidas. Por estes motivos seria um total absurdo aceitar que temas relacionados a religiões, que historicamente cometeram crimes humanitários e foram responsáveis por guerras em nome da fé, fincassem raízes em um estilo musical tão libertador.
Seguindo esta linha de pensamento, ideologias ligadas ao Cristianismo tem sido combatidas incessantemente no meio e pessoas que possuem crenças fundamentadas na persona de Jesus Cristo, são tratadas com extremo preconceito e frequentemente atacadas por extremistas, que desfilam todo o seu ódio e intolerância a quem ouse tratar do tema e ainda se considerar um músico ou fã de Metal.
Para os radicais, funciona mais ou menos assim, é uma regra os verdadeiros fãs de Heavy Metal não aceitarem o Cristianismo e ponto final (sim, eles falam em nome de todos). Os que seguem esta imposição são os "reais headbangers" e todo o resto se tornam automaticamente "farsantes", "posers" ou fazem parte da "escória cristã" que apoia o "lixo White Metal" e devem ser combatidos prontamente.
2. INCOERÊNCIAS
Grande parte dos conceitos radicais aplicados a esta filosofia anti-cristã parte de fãs de subgêneros extremos como o Black Metal e o Death Metal. Geralmente estas pessoas cometem o grande equívoco de dar uma importância extremamente desproporcional a temas abordados em letras e desta maneira, se esquecem que sempre o principal foco quando se fala de Heavy Metal deve ser a musicalidade.
A primeira incoerência é romantizar a criação do estilo e dar um sentido revolucionário e livre de dogmas, sendo que cada vez mais, o gênero vem reproduzindo todo o sistema de sociedade ao qual diz ser contra. Seja com idéias retrogradas, doutrinas, preconceitos ou com julgamentos sem embasamento nenhum, a cena metal como um todo se tornou uma réplica cheia de imperfeições da sociedade ao qual não queria fazer parte e isso acontece principalmente pela alienação e consequente falta de conhecimento de seus seguidores.
O Black Metal não é um estilo reconhecido como legítimo por possuir ideologia e sim por ter PADRÃO MUSICAL. Letras são importantes para quem se interessa por elas e são secundárias quando a discussão é música. Venhamos e convenhamos, a grande parte dos bangers brasileiros não possuem um conhecimento abrangente sobre outras línguas e muitas vezes tem uma idéia generalizada e bem superficial sobre os assuntos abordados pelas bandas que apreciam. Dificilmente nos deparamos com fãs que pesquisam a fundo a parte lírica dos grupos e conhecem de maneira satisfatória as mensagens passadas.
O que mais se vê nos dias de hoje são grupos se posicionando contra um determinado assunto, existem aqueles que são contra a presidente Dilma, os que são contra a maioridade penal, contra o aborto, contra o sistema de cotas e no Metal, temos o os que são contra o Cristianismo. Esta na moda ser contra, só que isso é muito fácil. O difícil é ter a consciência que pra ser contrário a uma determinada idéia, precisa-se ser a favor a outra e saber o por que é a favor. É aí que a maioria se perde e ocorre o festival de babaquices e teorias sem o menor nexo.
Amiguinho, como você pode dizer que o Metal é um estilo musical libertário e logo depois querer proibir uma banda de se expressar caso o tema não seja do seu agrado? Você crê que um gênero existente na música possa lutar contra as imposições de um sistema opressor e ao mesmo tempo segue uma cartilha radical sem o menor embasamento e nem ao menos se questiona? Como você pode ouvir Black Metal e se dizer contra a religião, sendo que grande parte dos grupos que você escuta pregam o paganismo (uma religião)? Como você pode ser um árduo seguidor da ideologia expressada pelas bandas de Black Metal e votar em políticos que defendem os valores da família cristã como Jair Bolsonaro? Você acredita de verdade que o Satanismo é o culto a Satanás?
Creio que auto questionamento e pesquisa é um remédio potente contra a ignorância e muitos extremistas precisam de doses cavalares desse tipo de medicação, pois as incoerências chegam a um nível tão alto que se tornam verdadeiras piadas.
3. SOBRE O DIABO
No Satanismo real, não se acredita em Satã, o nome é figurativo, o termo Satã vem do hebraico e significa "o opositor" ou "o adversário", logo a idéia de Satanismo está atrelada ao conceito de ser "aquele que se opõe a religião". Acredito que é bem perceptível que um satanista que entende os conceitos básicos do Satanismo é basicamente um ateu. Isso mesmo, UM ATEU!
É claro que se tratando de uma doutrina, existe um conjunto de regras, ritos e uma ideologia estruturada, porém NADA A VER com o capeta cristão possuindo corpos de menininhas, vomitando sopa de ervilha para logo em seguida ser exorcizado pelo padre corajoso. O Satanismo se baseia no homem senhor de si, é um ode ao individualismo, hedonismo e na premissa de ação e reação. Os membros sentem-se livres para satisfazer suas vontades responsavelmente, exibir simpatia aos seus amigos e lutar contra os seus inimigos.
Para os que creem na mística de que o Diabo é uma entidade sobrenatural maligna que se opõe ao Deus cristão onipotente, uma péssima notícia: Se existe crença, adoração, obediência e a fé em seres ao qual não se tem comprovação científica da sua existência, bem vindo a religião que tanto odeia!
4. SOBRE O METAL
Ao contrário do que se divulga, o White Metal NÃO É um subgênero musical legítimo. Não pela existência das regras idiotas criadas por extremistas que querem impor a sua verdade como absoluta, mas sim pela ausência de um PADRÃO MUSICAL. As bandas cristãs executam o metal em muitas de suas vertentes, adicionando apenas a sua temática e não criando um estilo próprio.
Caso as letras sejam tão importantes pra você, ao ponto de te impedir de escutar determinadas bandas, a solução é bem simples: Ignore-as. Afinal, elas não deixarão de existir, seu público alvo não deixará de consumir material e no final, a sua "cruzada" patética contra o Cristianismo será apenas um ato incoerente e intolerante ao qual alguns irão aderir e muitos outros rir.
Creio que qualquer pessoa tem o total DIREITO de escolher o que queira ouvir, tocar, escrever e assistir, assim como o DEVER de respeitar as escolhas dos demais. Se você faz isso e não quer IMPOR que o seu pensamento é a verdade suprema e incontestável, parabéns. Caso queira estipular uma regra de proibição, promova boicotes e lute de forma agressiva, insensata e não respeite a liberdade artística do próximo, você além de lutar contra o Cristianismo, automaticamente luta contra a condição que considera primária no Heavy Metal, a de ser libertador e sem regras.
"Hoje as pessoas tem muito tempo livre pra julgar os outros e pouco tempo pra julgar a si mesmos"
(Jairo Gueds)
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