ReVamp: uma reflexão sobre o comportamento de Floor e seus fãs
Por Adriano Ribeiro
Postado em 19 de junho de 2014
Há algumas semanas, estive apenas observando o que acontecia entre os fãs de REVAMP/NIGHTWISH e a vocalista dessas bandas, Floor Jansen, acusada por eles de ser fria, arrogante e mal educada durante sua recente passagem pelo Brasil, com o ReVamp. Em minha descrição de autor, aqui no Whiplash, consta: "Nas horas vagas, tem como hobby conhecer seus ídolos na música, conseguindo com eles fotos e autógrafos", o que significa que já conheci muita gente, incluindo a própria Floor Jansen, com quem me encontrei nas três últimas vezes em que ela esteve no Brasil (com MAYAN, Nightwish e ReVamp).
Evidentemente, a experiência de cada fã ao conhecer um artista pode variar bastante, de acordo com uma série de fatores, que incluem o humor do artista, a habilidade do fã em aborda-lo, a quantidade de fãs presentes, o comportamento geral, entre outros. Não sou nem quero ser o dono da verdade, mas estou aqui para defender a Floor: em todas as vezes que a encontrei, ela foi minimamente agradável e atenciosa. Digo "minimamente" porque realmente ela não é a pessoa mais simpática do mundo. Quem já teve a oportunidade de conhecer, por exemplo, Doro Pesch, ou Anneke van Giersbergen, sabe do que estou falando. A Floor não abraça, não beija, não gosta que a toquem, mas e daí? É realmente necessário toca-la para que um momento com ela valha a pena?! Ela quase sempre dá autógrafos e tira fotos. Não basta?!
Em 2011, quando veio com o MaYan, uma amiga pediu um abraço para ela, que recusou educadamente, explicando que abraço é algo muito pessoal, então, ela só abraça amigos e parentes. Os europeus, em geral, não gostam de ser tocados. Não é a Floor, são todos eles. Obviamente nos comentários abaixo muitos nomes serão lembrados para desmentir esta tese - eu mesmo já citei dois, Doro e Anneke. Mas a real é que a cultura deles é essa. Para eles, ser tocado não é algo natural. Se houvesse uma cultura - e provavelmente há - onde fosse normal cumprimentar com um apertãozinho na bunda, será que um(a) brasileiro(a) se sentiria a vontade em ser cumprimentado(a) pelos nativos? Por outro lado, o topless é amplamente praticado em muitas praias europeias. Então pergunto a você, mulher: se você visitasse a Europa com alguns amigos ou colegas (assim como a Floor veio ao Brasil com a banda), seria fácil deixar seus mamilos expostos? Certamente, muitas responderiam que não. E, claro, algumas responderiam que sim. Doro e Anneke são exceções, não a regra.
A real é que os fãs brasileiros são complicados. Os que sabem se comportar são minoria. A maior parte gosta mesmo de "causar": berrar, chorar, dar escândalo e fazer coisas completamente sem noção pelo simples fato da proximidade do ídolo. Como maior exemplo, citarei a última passagem da Demi Lovato ao Brasil. Não importa se você não gosta do som dela, clique no link e assista aos vídeos:
"Ah, mas o que esse cara está falando de Demi Lovato?! Aqui é um site de rock e metal, porra!". Sim, é! Mas posso citar diversos exemplos de como a civilidade do brasileiro é praticamente a mesma com qualquer tipo de artista, incluindo os do rock e do metal. Ou alguém esqueceu de como Sebastian Bach teve que sair do Carioca Club, há dois anos?!
Será que alguém se lembra da passagem do Skillet, no ano passado, quando a banda, ao chegar ao Carioca Club, foi recepcionada por centenas de fãs histéricos? Alguns deles chegaram a agredir os músicos. Sim! Agredir! Não é possível ver no vídeo abaixo, pois aconteceu atrás da van, mas a baterista Jen Ledger só não levou uma voadora de um "fã" porque o agressor foi contido pelo segurança. O vocalista e baixista John Cooper não teve a mesma sorte, pois foi empurrado contra a van, onde bateu a cabeça, assim como a guitarrista/tecladista Korey Cooper, que teve os cabelos puxados. Isso foi em São Paulo, mas há relatos de que no show anterior, em Recife, os fãs procederam da mesma maneira.
Em 2010, eu fui até o hotel onde a banda EPICA estava hospedada. Ao chegar, uma fã que já estava por lá tentou me "ensinar" como a Simone Simons deveria ser abordada: "Quando a Simone sair (do hotel), não corra, senão ela não atende". Quando a Simone saiu, ela foi justamente a primeira a correr. Eu a questionei e ela me respondeu, sem diminuir a velocidade: "é a Simone! é a Simone!". Naquele dia, a Simone atendeu todo mundo. Nem eram tantos fãs assim. De lá pra cá, eu a vi novamente em algumas oportunidades, quando ela voltou como convidada do KAMELOT e do Mayan e mais uma vez com o Epica. Eu nunca tive problemas com ela que, em minha opinião, é um doce de pessoa. Mas está ficando cada dia mais difícil ter acesso a ela. Ouvi uma história de que um fã pediu para dar um beijo em seu rosto. Ela permitiu e recebeu uma belíssima lambida. Não sei se é lenda mas, conhecendo certos fãs de Epica, não é difícil imaginar que realmente aconteceu. A Simone, aliás, é conhecida como "don't touch my hair!" entre quem conseguiu conhece-la. É algo que sei respeitar, mas que a maioria não sabe.
Um ano antes, quando o HEAVEN & HELL veio ao Brasil, eu tentei conhecer Ronnie James Dio. Um pequeno grupo de fãs o aguardava em frente ao hotel onde ele estava. Um amigo estava hospedado e, após conseguir fotos e autógrafos, disse ao Dio que alguns amigos esperavam lá fora. Dio olhou para nós e sinalizou, com o dedo, dando a entender que nos atenderia em um minuto. Foi o que bastou para que uma fã começasse a esmurrar os vidros do hotel e berrar (em português) "Dio! Eu te amo! Vem aqui!". Obviamente ele não saiu. E foi uma foto que perdi para sempre. O mau comportamento de um único fã é suficiente para que todos paguem o pato. Entre meus amigos, muitos tiveram a oportunidade de conhece-lo. E todos dizem o mesmo: que era um gentleman, o cara mais legal que eu poderia ter conhecido. Infelizmente, fica para outra vida...
Já vi várias outras cenas de comportamento inadequado, como um fã interromper uma conversa entre o Nicko McBrain e o Rod Smallwood (baterista e empresário do IRON MAIDEN) para pedir uma foto com o Nicko. Levou uma patada! Outro, como já descrevi em uma matéria aqui no Whiplash.net, atrapalhou a janta do Bruce Dickinson, irritando-o. Ele até conseguiu um "autógrafo" no "Seventh Son of a Seventh Son" mas, na verdade, foi apenas um rabisco, e muito do mal feito. Já vi a própria Floor Jansen dando um tapão na mão de uma fã, e a coisa aconteceu da seguinte maneira: no aeroporto, a Floor caminhava com o carrinho de bagagens, quando a fã se aproximou e tentou tirar um selfie, enquadrando as duas. A Floor parou e explicou, educadamente, que atenderia numa boa quando chegassem à van. Mal começou a andar e a fã tentou novamente. Desta vez a Floor parou e explicou, irritada, que atenderia quando chegassem à van. Na terceira tentativa, deu um tapão no braço da menina e o celular quase voou longe. Alguém aqui é capaz de dizer que ela estava errada (nesta situação especificamente)?!
Certamente haverão aqueles, nos comentários, defendendo que fã deve se limitar a comprar CDs e ir aos shows e só. É um ponto de vista válido. Especialmente para aqueles que não sabem se comportar. Eu não vejo nada de mal em tentar conhecer um artista para conseguir uma foto ou um autógrafo, desde que seja sempre no respeito, na educação, na civilidade. Sempre será uma invasão ao espaço dele, por isso tento incomoda-lo o mínimo possível. Não estou dizendo que todos que tentaram abordar a Floor não souberam faze-lo. Como eu já disse no começo desse texto, a experiência varia muito. Mas é fato de que brasileiro adora pegar o celular e chamar todos os amigos possíveis e imagináveis para o hotel, isso quando não tuíta ou publica no Facebook.
E não é apenas a galera do rock e do pop quem sofre nas mãos dos fãs malucos. Recentemente, o ator Ian Somerhalder (conhecido por seu trabalho em "LOST", onde interpretou o personagem "Boone" e, mais recentemente, por sua participação na série "Vampire Diaries") veio a São Paulo. Chegou meio de surpresa, com pouca gente sabendo, e atendeu numa boa todos os que se propuseram a conhece-lo, na noite em que chegou, em frente ao hotel. Uma fan-page no Facebook logo publicou a notícia e uma fã postou a pergunta "Que lugar de São Paulo?". Os próprios administradores da página não tardaram a responder: "Hotel Emiliano, Oscar Freire". O post teve mais de 100 compartilhamentos. A partir de então, seria impossível qualquer um conseguir qualquer coisa no hotel. Na mesma fan page, adolescentes combinavam de ir em grandes grupos ao hotel para "fazer o máximo de barulho possível, para que ele se sentisse muito amado". Será que foi assim que ele se sentiu?
[an error occurred while processing this directive]Isso também aconteceu com o HELLOWEEN e com o STRATOVARIUS, em São Paulo, em 2011. O hotel foi divulgado em uma comunidade do Orkut e ao menos 80 fãs apareceram. Por sorte, as bandas tiveram uma paciência infinita e atenderam a todos, exceto o Timo Kotipelto, que estava doente, e só atendeu aos poucos que voltaram no dia seguinte. Em 2013, um fã "que acha bonito" hotel lotado, passou no Carioca Club e divulgou na fila o hotel do Stratovarius. Uns 50 foram para lá após o show, e quem estava no dia diz que foi um inferno para a banda.
Ir atrás de um artista é realmente um "plus". Você sempre tende a imaginar que aquela pessoa que tanto admira é legal, por padrão. Não é bem assim que as coisas funcionam. Às vezes, sim, sua expectativa é deliciosamente superada, em muito. Em outras, a decepção é igualmente grande. Não é porque você compra CDs (e outros materiais oficiais) e paga pelo ingresso, que você será bem recepcionado. Se você realmente acha que é uma obrigação do artista te atender sorrindo só porque "você ajuda a pagar o salário dele", sugiro simplesmente que pare de gastar dinheiro com ele. Comigo isso já aconteceu. Minhas experiências em tentar conhecer Dave Mustaine foram tão negativas, apesar do restante da banda ser bacana, que jamais gastarei um centavo sequer novamente com qualquer material, show ou seja o que for do MEGADETH. Continuo fã, só parei de gastar dinheiro com quem não merece.
[an error occurred while processing this directive]Por outro lado, já fui tão bem tratado por bandas que eu não conhecia ou não curtia tanto assim, que agora faço questão de comprar material oficial e ir aos shows, para demostrar meu apoio. Eu não sabia da existência do M:PIRE OF EVIL, banda dos ex integrantes do VENOM, Mantas e Demolition Man. Fui atrás apenas para conseguir autógrafos em alguns álbuns do Venom. O mesmo aconteceu com a Anneke van Giersbergen: eu não sou fã de THE GATHERING e conhecia pouca coisa de sua carreira solo, mas fui conhece-la devido à sua ligação com o WITHIN TEMPTATION, que eu adoro. Em ambos os casos, fui tão bem recebido, que não tive alternativas senão tornar-me um fã.
Retomando, não há obrigação nenhuma do artista te conhecer - exceto se você pagou pelo meet & greet, aí a história é outra. O mesmo cara que sorri para você no meet & greet pago pode ser um cuzão completo se você o encontrar em outra ocasião. Quando a Sarah Brightmann veio ao Brasil, em 2013, apenas três fãs se dispuseram a recepciona-la no aeroporto, e apenas mais duas foram ao hotel. Ninguém conseguiu foto. A Sarah nem olhou na cara dos fãs e o máximo que os que foram ao aeroporto conseguiram foi que uma assessora levasse a ela, que já havia entrado no carro, os itens para autografar, onde ela escreveu, em todos "WITH LOVE, Sarah". Já quem pagou pelo meet & greet voltou maravilhado, achando que ela é a mulher mais fofa e atenciosa do mundo...
Ser uma pessoa pública não significa ser legal. Significa apenas ser uma pessoa pública. Você a conhece (ou acha que conhece - na real, você conhece apenas o trabalho dela), mas ela nada sabe a seu respeito. Você pode até ama-la, mas ela nem sabe que você existe. Por mais que seu momento tão aguardado e esperado seja importante e especial para você, para ela você provavelmente será só mais um. Ela vê fãs e é abordada todos os dias. Alguns vêem uma oportunidade legal para interagir com quem sempre o apoiou. Outros acham isso um saco. Já vi gente sendo legal com mais de 100 fãs, muitos deles mal comportados; assim como já vi gente ser inacreditavelmente ridícula com dois fãs bem comportados. E sempre é bom lembrar que Lemmy Kilmister, o líder, vocalista e baixista do MOTÖRHEAD afirmou certa vez: "Eu não sei como pessoas podem ser babacas com aquelas que as apoiam". E ele faz o que diz: já o encontrei em 3 ocasiões e ele sempre foi mais do que eu poderia esperar.
Sobre o fato da Floor surtar com os fãs que insistem em filmar, não me sinto capaz de opinar, já que não estive presente nos shows onde isso aconteceu. Porém, teoricamente, o buraco é mais embaixo. Li, nos comentários da matéria que traduzi (Floor Jansen: "Eu não sou uma puta arrogante") gente dizendo coisas como "é meu direito filmar o show, já que paguei o ingresso". Infelizmente, não é. Eu também acho uma babaquice esse negócio de proibir filmagens, mas a real é que são proibidas e, na maioria das vezes, é uma exigência da própria banda, com cláusula contratual e tudo - e, neste caso, o produtor pode ter que pagar multa à banda se imagens do show forem divulgadas (o que hoje em dia não é muito difícil de chegar ao conhecimento da banda, graças ao Youtube).
Pode olhar no seu ingresso, a proibição está lá. Ninguém liga, mas está lá. E o fato de ninguém ligar é que hoje tornou-se impossível controlar isso. Se antes filmar era uma exclusividade de filmadoras que eram verdadeiros monstrengos incapazes de passar desapercebidas pelas habituais revistas na entrada, hoje em dia não apenas as filmadoras tornaram-se minúsculas, como todos os smartphones têm esse recurso. O produtor do evento vai fazer o que, confiscar o celular de todos que entrarem para assistir o show?! Teoricamente, esse é um direito dele. Na prática, não vale a dor de cabeça. Em tese, ele poderia tomar providências como pedir para a segurança retirar o elemento que for flagrado filmando. Mais uma vez, não vale a dor de cabeça. Mas não, ainda assim não é seu direito filmar.
Muitas pessoas que vão aos shows, incluindo eu mesmo, consideram uma imbecilidade aquele monte de mãos acima da cabeça, empunhando o celular. Além do fato óbvio que atrapalha a visão de quem está atrás, muitas vezes as filmagens são feitas por aparelhos com câmeras ruins, o que resulta em filmagens com áudio e imagem péssimos, que não vão interessar a quase ninguém. Sim, a Floor pode parar o show e reclamar ao microfone. Pode, até mesmo, solicitar que a segurança tome providências, o que não seria nada simpático da parte dela. Mas daí a querer tirar os celulares das mãos de fãs, é um pouco demais. Dizer que podem filmar a calcinha dela é um pouco demais, pois ela sempre teve a opção de subir ao palco de calça, se isso a intimida tanto assim. Neste ponto, é ela quem tem que se adaptar. Os novos tempos chegaram e, bem ou mal, vieram para ficar.
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