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B.B. King lembra uma vida feita de 80 anos de blues

Fonte: Yahoo! Notícias
Postado em 16 de setembro de 2005

Por Steve James

ATLANTIC CITY (Reuters) - Agora que ele é um ícone musical adorado por brancos e negros e prestes a completar 80 anos, é difícil imaginar que B.B. King vem de um tempo em que havia duas Américas.

Antes de receber seus 13 Grammys, de ter seu nome incluído no Hall da Fama do Rock and Roll, de ser homenageado pelo Kennedy Center e antes mesmo de pegar uma guitarra nas mãos, o cantor de blues colheu algodão, dirigiu tratores e cortou madeira. Ele não chegou a terminar o ensino fundamental.

E, apesar de toda sua fama, de ser mundialmente aplaudido e de ter feito discos com reis do rock como Eric Clapton e Bono, ele nunca se esqueceu de que cresceu no sul dos EUA na época da segregação racial, perto de onde acaba de ser aberto o museu B.B. King (em Indianola, Mississippi), numa fazenda local.

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"Passamos por tempos difíceis", contou King, que completa 80 anos na sexta-feira. "Vou lhe contar uma coisa, se não tivéssemos tido bons amigos brancos naquela época em que eu era criança, não teriam sobrado negros no Mississippi. Naquela época, um branco poderia matar você quando bem entendesse, e não lhe aconteceria nada. Mas havia muitos brancos que não eram a favor disso e não o permitiam. De modo que eu tive sorte."

Sentado no ônibus de sua turnê, antes de fazer um show na House of Blues em Atlantic City, King deu uma entrevista em que falou de sua vida na estrada, de seus 30 netos e sete bisnetos, de seu amor por aviões, a natureza e filmes de faroeste antigos.

Sobretudo, porém, falou do blues, a música que, como ele próprio, nasceu do sofrimento e da vida dura dos trabalhadores nas plantações do sul.

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"Vejo o blues da seguinte maneira: é a vida como a vivíamos no passado, a vida como a estamos vivendo hoje e a vida que acho que vamos viver amanhã. Para mim, o blues tem a ver com pessoas, lugares e coisas", disse King.

BEETHOVEN E BRAHMS

"Este ônibus velho aqui pode estar ok, mas ninguém sabe como serão os ônibus daqui a dez anos. Com o blues é a mesma coisa."

Considerando que a maioria de seu público é formado por brancos de meia-idade e que os negros jovens deram as costas ao blues, dando preferência ao rap, será que o blues não se tornou irrelevante?

"Não", disse King. "Acho que não está igual a antes, porque cada geração vem com suas pessoas próprias."

"Mas pense na coisa da seguinte maneira: Beethoven, Brahms e essa gente toda: a música não mudou, apenas as pessoas mudaram. Mas você continua a ouvir a música, e ela continua boa. Vejo o blues da mesma maneira."

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Questionado sobre seu esquema de trabalho exaustivo, que o leva a se apresentar mais de 300 dias por ano, viajando sem parar, King falou: "Em 60 anos, só tirei três meses de férias."

"Não tive a sorte de alguns roqueiros. Muitos deles viajam em turnê por três ou quatro meses e depois param por dois ou três anos. Eu nunca pude fazer isso -- sou cantor de blues."

"Nós cantores de blues, músicos de blues, não temos tanta popularidade", disse King, um homem grandalhão, agora afetado pela diabete, que o obriga a ficar sentado no palco, com sua guitarra "Lucille" no colo.

Mas é evidente que ele, que teve um grande sucesso em 1970 com "The Thrill is Gone", ainda se emociona quando sobe ao palco.

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Aos 80 anos, ele não pensa em se aposentar? "Não posso me dar ao luxo", ele responde, rindo. "Tiro dias de folga, mas nós não somos tocados na rádio, como outros estilos de música, então descobri cedo que, a não ser que eu vá levar minha música às pessoas, ela não vai chegar a elas pelo ar."

"VOCÊ SOBREVIVE"

B.B. King se lembra da fazenda em Itta Bena, Mississippi, onde nasceu no dia 16 de setembro de 1925. "Nunca imaginei que eu chegaria aos 80 anos. Mesmo 50 anos já parecia uma idade avançada, porque lá onde passei minha infância, na roça, não tínhamos remédios, não tínhamos médicos nem hospitais como tem quem mora na cidade."

King contou que, aos 13 anos, já dirigia. "Fui motorista de caminhão e de trator. Eu colhi algodão, eu conduzi mulas para puxar o arado. Fiz quase tudo o que as pessoas fazem numa fazenda. O trabalho nunca termina. Mas você sobrevive."

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E ele sobreviveu, tanto que deve ser o último dos grandes nomes do blues ainda vivo, após a morte de dois de seus contemporâneos do Mississippi: R.L Burnside, este mês, e John Lee Hooker em 2001.

Sua situação mudou depois da guerra, quando King foi até Memphis de carona e conseguiu emprego de disc-jockey na rádio WDIA. As pessoas o ouviram cantar e tocar guitarra, e ele gravou com o legendário Sam Phillips, que mais tarde iria fundar a Sun Records.

Foi em Memphis que Riley King ganhou o apelido "The Beale Street Blues Boy", que foi encurtado para "Blues Boy" e depois para B.B.

Seu primeiro disco foi gravado com o selo Bullet, de Nashville, e ele ainda se recorda das faixas. "Havia quatro. Eu estava casado na época, então uma delas tinha o título 'Miss Martha King'."

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Centenas de gravações mais tarde, a carreira de B.B. King está sendo festejada. A Virgin está lançando um álbum duplo de seus primeiros sucessos, e a Geffen/Universal está lançando "B.B. King and Friends -- 80", que o traz tocando com gente como Clapton, Van Morrison, Mark Knopfler, Elton John e Sheryl Crow.

Há também um livro, "The B.B. King Treasures", da Bullfich Press, repleto de cópias de cartas, fotos e programas da vida de King.

Quanto a seu 80o. aniversário, o que ele vai fazer para comemorar a data em sua casa em Las Vegas? "Não planejei nada, nadinha", disse ele.

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