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Kaledonia

A trágica e não revelada história do fim de Jeff Hanneman, guitarrista do Slayer

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 14 de março de 2014

Texto original de JEFF KITTS para a GUITAR WORLD de Agosto de 2013

Ele influenciou uma geração e mudou o rumo do Metal para sempre. A Guitar World apresenta a história completa e nunca antes contada de JEFF HANNEMAN, guitarrista do SLAYER por mais de 30 anos e o homem por trás de hinos lendários do thrash do porte de "Angel Of Death", "South Of Heaven" e "War Ensemble".

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ELENCO:
• Tom Araya: Frontman e baixista do Slayer
• Kerry King: Guitarrista do Slayer
• Dave Lombardo: Ex-baterista do Slayer
• Kathryn Hanneman: Esposa de Jeff Hanneman
• Gary Holt: Amigo de longa data de Jeff e seu atual substituto

Quando se espalhou a notícia de que no começo da noite de 2 de Maio de 2013, que o guitarrista de longa data do Slayer, Jeff Hanneman, havia sucumbido à falência hepática aos 49 anos de idade, uma onda de choque de poder atômico devastou a comunidade do metal com uma força que deixou muitos atônitos.

À medida que o Facebook e o Twitter se saturavam com postagens de choque, luto e lembranças de fãs que tinham passado boa parte de suas vidas seguindo o Slayer como filhotes de Rottweiler, você podia sentir que era algo diferente. Isso doeu.

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Para qualquer um que tenha crescido na metade dos anos oitenta vestindo uma jaqueta jeans e usando um bracelete com rebites, o Slayer fora sua introdução ao Speed Metal agressivo, com riffs que cortavam como uma lâmina de motosserra e uma temática sombria nas letras que muitas vezes invadiam territórios inimigos – e Hanneman era a força motriz daquilo.

"Por qualquer perspectiva, ele era a banda", diz o frontman e baixista do Slayer, Tom Araya.

Para aqueles que haviam passado uma vida em um estado perpétuo de chicoteamento devido ao headbanging de hinos do Slayer compostos por Hanneman como "Angel of Death", "South of Heaven", "Chemical Warfare" e "Raining Blood", a razão pela qual ele significava tanto para tantos era simples: porque você sempre podia contar com que Jeff fosse Jeff, do mesmo modo que você sempre podia contar que o Slayer fosse o Slayer.

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Ele não era muito de falar, mas ele nem precisava. Ele escreveu uma porção leonina das músicas mais amadas da banda e vivia para sair de trás de uma parede de Marshalls toda vez que a banda subia ao palco, e ele erguia seu punho triunfantemente, e destruía. Por quase três décadas, Jeff Hanneman era parte fixa do palco – um símbolo loiro para jovens headbangers que se apaixonaram com a agressão metálica infundida pela temática satânica e nunca se arrependeram, mesmo muito depois de tornarem-se adultos.

"Fico maravilhado por quantas pessoas ele atingiu", diz Araya. "Eles mal o conheciam, mas ele atingiu a muitas pessoas. E ele nem se dava conta disso."

Mas para todo o amor que a comunidade do Heavy Metal tinha por Jeff Hanneman, havia um lado sombrio do guitarrista que confundia muitos daqueles que tiveram contato com ele. Ao contrário de, digamos, Dimebag Darrell, Jeff não era ‘truta’ de todo mundo. Ele não posava sorrindo para fotos, não saía cumprimentando todo mundo na NAMM todo mês de janeiro, tampouco ajudava crianças necessitadas. Ele não gostava de mídia.

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Ele também tinha uma fascinação mórbida pela Alemanha Nazista e derivava uma noção perversa de diversão ao orgulhosamente – e controversamente – exibir iconografia Nazista em suas guitarras. E ele bebia. Muito.

"Se ele não gostasse de você, ele não ficava na sua companhia", diz Araya em sua casa em Buffalo, Texas. "Ele podia te pegar pra Cristo e lhe fazer sentir um merda. Mas se você aguentasse e peitasse e mostrasse que você conseguia lidar com a palhaçada, então era assim que você ficava amigo dele."

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As origens do Slayer remetem a 1981 nas áreas de South Gate e Huntington Park em Los Angeles. King e Hanneman conheceram-se em um barracão depois de King ter ido lá para investigar uma banda que estava conduzindo testes para guitarrista.

"Quando eu estava saindo, eu só vi Jeff parado de pé tocando guitarra, e ele estava tocando coisas que eu curtia, como ‘Wasted’, do Def Leppard, e AC/DC e Priest. Então eu comecei a conversar com ele e só disse, Hey, você quer montar uma banda? ’ Eu já conhecia Dave [Lombardo, baterista] e tínhamos tocado na garagem dos pais dele um pouco e então eu trouxe Jeff, e então fomos até Tom [Araya, vocalista/baixista], com quem eu tocava em outra banda, e dissemos, ‘Hey, cara, eu tenho uma banda diferente se você estiver interessado’. E foi isso."

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Lombardo se lembra da primeira vez que ele se encontrou com Hanneman: "Kerry o trouxe para ensaiar na garagem um dia. Ele tinha um Fender Twin pequeno e a Les Paul preta que está na contracapa de ‘Show No Mercy’ e ele era meio calado. Jeff não tocava já fazia muito tempo, e tudo que ele sabia tocar, ele aprendera sozinho. Mas algo naquilo pareceu bom já de cara. Funcionou."

O quarteto sem medo agora era uma unidade, forjada no inferno fundindo elementos de Iron Maiden, Motörhead, Dead Kennedys e Venom em um estilo agressivo de thrash metal que acabaria mudando a história da música. Eles eram quatro jovens que compartilhavam uma visão, apesar de Hanneman de fato destacar-se de seus colegas em um aspecto: ele não dirigia.

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Então enquanto todo mundo podia ir aos ensaios sob suas próprias rodas, Hanneman – que, dependendo de pra quem você perguntar, ou nunca teve uma habilitação ou a perdeu faz muito tempo depois de várias ocorrências de dirigir embriagado – precisava ser transportado pra onde quer que fosse que a banda se reunisse. "Quando começamos a banda, Kerry o pegava em sua casa em Long Beach e o largava lá depois do ensaio", diz Araya. "Aquilo era o problema. Então passávamos muito tempo juntos no carro, geralmente bebendo cerveja. Eu o largava em casa, e de vez em quando, dava um tempo na casa dele com os pais dele."

Foi por volta dessa época – Abril/Maio de 1983 pra ser exato, nove meses antes do lançamento do álbum de estreia da banda, ‘Show No Mercy’ – que Hanneman conheceu uma garota chamada Kahtryn. Eles se ligaram quando adolescentes – ele com 19, ela com 15 – e ficaram grudados com cola pelo resto da vida de Jeff, até o dia em que ele morreu. É certo dizer que o destino deles como casal foi selado pelas circunstancias bizarras sob as quais se apresentaram um ao outro.

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"Uma amiga minha e eu estávamos nos cansando de ir ao cinema todo fim de semana, então decidimos ver essa banda chamada Slayer em uma pequena casa noturna em Buena Park chamada Woodstock", diz Kathryn, que agora tem 46 anos de idade, em sua casa no sul da Califórnia. "Eles estavam tocando com uma banda chamada Leatherwolf. Eu implorei a meu pai para que ele nos deixasse ir ao show, sabendo que eu chegaria em casa depois do meu horário permitido, que era de 10 horas da noite, e ele aceitou. Devia haver 15 ou 20 pessoas no show, então eu pude ficar colada no palco, do lado de Jeff. E antes de eu perceber, ele se ajoelhou, me puxou pelo cabelo, e começou a me beijar. Eu fiquei muito impressionada, e foi assim que nos conhecemos."

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Caso Hanneman tivesse tentado tal ato de assédio com outra moça naquela noite, ele poderia ter acabado no banco traseiro de uma viatura policial. Ao invés disso, ele começou a receber mensagens do empresário da banda dizendo que Kahtryn – que havia procurado os agentes da banda para entregar fotos que ela tinha tirado naquela noite – queria que Jeff telefonasse pra ela.

"Eu perguntei para o empresário se ele podia pedir para o Jeff me ligar, e ele me disse que Jeff estava em Vegas visitando sua avó", ela conta. "Eu achei aquilo tão meigo. Depois de três semanas, eu estava em casa e meu telefone tocou numa noite, e eu atendi, e a voz do outro lado disse, ‘Oi, Kahty, aqui é o Jeff, do Slayer’. E meu coração começou a disparar. Eu perguntei a ele como estava a avó dele, e ele me disse, ‘Eu não estava visitando minha avó. Eu fui até Vegas para terminar com minha namorada’. E era isso que eu amava em Jeff – ele foi franco desde o começo."

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A relação de Jeff e Kahtryn continuou a crescer à medida que o Slayer ganhava força dentro do underground do Metal – quer dizer, desde que eles dessem um jeito de viajar uns 35 kilômetros entre a casa dela em Buena Park e a dele em Long Beach.

"Já que nenhum de nós dirigia, tínhamos que depender de Tom pra me pegar e me levar pros ensaios para ver Jeff ou em minha mãe para me levar até Long Beach para vê-lo", conta Kathryn. "E sempre que Jeff podia, ele pegava um ônibus para vir me ver. Foi assim que nossa relação começou, e eventualmente nunca nos separamos, a menos que ele estivesse na estrada. Passávamos tanto tempo juntos quanto pudéssemos."

"No começo meu pai ficou um pouco nervoso quando esse cara apareceu em nossa casa vestindo uma jaqueta de couro com maquilagem preta nos olhos, mas não demorou muito para todos eles se darem bem. Meus pais o adoravam. Todas minhas amigas se apaixonaram por ele também. E elas verbalizavam isso de cara."

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Enquanto Kathryn sempre deu passos cuidadosos para se proteger da fama, ela teve um papel fundamental na reputação do Slayer no começo dos anos oitenta como um grupo que os pais abominavam quando ela concordou em posar para uma antiga foto promocional da banda como um cadáver ensanguentado, vestida de lingerie.

"Eu tinha uns 16 anos na época", ela conta. "Jeff me ligou numa noite e disse que eles estavam prestes a fazer uma sessão de fotos e que a garota que eles iriam usar havia quebrado o dedão do pé e tivera que cancelar, então ele perguntou se eu a substituiria. E que eu precisava levar algum tipo de lingerie preta. Eu disse a ele que tinha que ter permissão dos meus pais, mas que eu ficaria feliz em fazê-lo. E já que nenhum de nós tinha habilitação para dirigir, Tom veio e me pegou e fomos até a garagem da casa dos pais de Tom, que é onde eles ensaiavam e fizemos a sessão. Eu era muito tímida e conservadora naquele tempo, mas era o mínimo que eu podia fazer. Eu fiquei honrada por eles terem me escolhido."

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Diferente do que se fala pela internet, eles não se casaram em 1997. Jeff e Kathryn contraíram bodas em Las Vegas em 1989 em uma cerimônia simples que consistia do casal Heavy Metal muito feliz e dos pais da noiva. A decisão de casar não foi difícil para Jeff ou Kathryn, conforme eles haviam aprendido em um café da manhã no meio da tarde em uma lanchonete algumas semanas antes de irem para Vegas.

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"Pedimos pelo café da manhã e cada um de nós pediu uma cerveja, e Jeff estava bem quieto", diz Kathryn. "Eu olhei para ele e disse, ‘Eu não sei o que você está pensando – mas seja lá o que você me pedir, eu direi sim’. Ele esperou, e olhou pra mim e disse, ‘Okay, vamos fazer logo essa porra’. E eu respondi, ‘Okay, vamos fazer que porra? ’. E ele disse, ‘Vamos picar a mula e nos casar’. Eu disse Okay e o perguntei se ele tinha certeza, e ele disse, ‘Sim, tenho certeza. Eu caso com você, caso pro resto da vida’."

A causa oficial da morte de Hanneman foi uma cirrose relacionada ao álcool, um resultado de uma vida de bebedeira. "Jeff sempre foi um bebedor", diz Lombardo, que deixou a banda [pela terceira vez pelo menos] no começo de 2013. "Ele sempre tinha uma lata grande de Corrs Light na mão. Sempre."

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"Jeff e eu sempre bebíamos", acrescenta King. "Eles chamavam a Steven Tyler e Joe Perry de Toxic Twins. Nós éramos os Drunk Brothers", ele ri. "A diferença era que eu não acordo pela manhã e preciso de uma cerveja. Jeff não sabia como não beber."

"Nós fazíamos farra e muito", diz o fundador do Exodus – e atual guitarrista de turnê do SlayerGary Holt, que ficou amigo de Hanneman no começo dos anos oitenta. "Eu tenho um milhão de fotos nossas das antigas, curtindo e bebendo, cervejas na mão no meio do dia."

Para Kathryn, memórias de Jeff e o pai dela se entrosando em meio a Martinis à noite ainda são vívidas. "Cerca de um ano mais ou menos depois que nos conhecemos, Jeff se mudou para a casa dos meus pais, e meu pai sempre vinha para a casa e tomava uns Martinis. E ele oferecia uma bebida a Jeff e os dois sentavam e tomavam seus Martinis e jogavam vídeo games. Então eu conheci Jeff bebendo desde o começo. Eu nunca entendi de fato, mas beber sempre foi uma grande parte da vida de Jeff."

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A dependência de Jeff pelo álcool era óbvia para qualquer pessoa que passasse um mínimo de tempo cm ele. Contudo, ele conseguiu manter-se afastado das drogas pesadas durante a maior parte de sua vida, exceto Poe alguns anos no meio dos anos oitenta, quando a cocaína tornou-se uma atividade comum para Jeff e Tom.

"Você começa a ganhar um pouco de dinheiro, e, quando se dá conta, está ali", diz Araya. "Ela está prontamente disponível e as pessoas adoram fornecê-la. Depois de uma farra que durou um fim de semana, você se vê dirigindo na rodovia as seis d amanhã – eu estou dirigindo, Jeff está alimentando meu nariz, ele está cheirando. e de repente você percebe o quão facilmente isso poderia ter dado em merda. Eu me lembro de parar, olhando em nossa volta – ninguém mais na pista – e olhei para Jeff e disse, ‘Cara isso é louco pra caralho. Olha pra gente. Não podemos fazer isso’. E paramos, jogamos o que tínhamos fora pela janela e nunca mais tocamos naquilo. Ele ficou com o álcool e eu com minha erva e seguimos com nossas existências."

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"Tínhamos nossos vícios, mas não deixávamos que eles controlassem nossas vidas como você vê com muitas outras bandas que estão apenas começando. Isso era o que eu achava mais legal em nós – não deixávamos que aquelas coisas nos destruíssem. Tínhamos controle de nós mesmos até certo ponto."

O ponto até o qual Hanneman tinha controle de seu consumo de álcool tornou-se questionável na metade dos anos noventa, quando começou a ficar mais aparente para sua esposa e colegas de banda que Jeff não era mais apenas um metalhead palhação de Los Angeles que curtia uma farra, mas sim um bebedor contumaz.

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"Eu expressava minha preocupação, e ele se continha por alguns meses – mas daí ele voltava a beber", conta Kathryn. "Alguns anos antes de o pai dele morrer em 2008, eu notei que Jeff estava dependendo do álcool para começar seu dia. Mas eu não podia dizer muito naquela altura, porque eu sabia que acabaríamos brigando sobre isso. E eu não vou dizer que não bebia com ele – eu bebia com ele sim, algumas vezes bastante. Eu achei que, como eu não conseguia parar com aquilo, que me juntasse àquilo. Mas eventualmente eu me dei conta que não poderia continuar daquele jeito, e que se eu parasse, poderia ajudá-lo a afastar-se daquilo também. Mas eu não consegui. Ele dependia demais daquilo apenas para poder aguentar o dia."

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Seus colegas de banda também enfatizam que a bebedeira de Hanneman raramente era um assunto discutido pelo grupo, apesar de ser assustadora às vezes.

"A única coisa que me vem à mente", diz King, "foi quando estávamos na turnê de ‘Divine Intervention’ [em 1994/95], quando Paul [Bostaph] estava conosco, e queríamos tocar ‘Sex, Murder, Art’ ao vivo. Mas naquele álbum, eu bem por dizer toquei tudo no estúdio, então eu não acho que Jeff jamais tivesse tocado aquela música. E ele estava simplesmente zoado demais para aprendê-la, então Paul, Tom e eu apenas a tocávamos como trio porque Jeff não vinha ao palco tocá-la. Depois disso, nós dissemos, ‘Ouça, cara, goste você ou não, você é parte dessa banda, e se decidirmos tocar uma música, você tem que tocar aquela porra daquela música. ’"

Na estrada, particularmente mais pros anos finais, Jeff passava a maior parte do tempo no ônibus de turnê sozinho, assistindo ao History Channel ou lendo um livro sobre a Segunda Guerra Mundial."Jeff manjava tudo de história – A Segunda Guerra Mundial era a especialidade dele" diz King.

Hanneman, cujo pai alemão-estadunidense lutara como soldado dos EUA na Segunda Guerra e trouxera medalhas de soldados nazistas mortos pra casa e as dera para o filho, era morbidamente fascinado pela Segunda Guerra e pela Alemanha Nazista, colecionando dúzias de bonecos de soldados alemães e dando nomes de vários oficiais Nazistas e de elementos daquele período a seus vários cães e gatos. Sua própria aliança de casamento era uma réplica de um anel com caveiras usado pelo alto oficial Nazista Reinhard Heydrich. Enquanto os objetos relacionados a esse período da história são compreensivelmente ofensivos para muitos para Jeff eles eram apenas símbolos das mesmas trevas que energizam as imagens do Metal.

"Jeff escrevia o que escrevia", diz Araya. "E as pessoas analisavam aquilo e tiravam suas próprias conclusões – mas para Jeff, era apenas uma música sobre isso ou aquilo. Não havia nenhum significado profundo por trás de nada. E muito do que ele fazia, ele o fazia porque sabia que causaria uma reação – ele sabia que teria resposta. E se você vai criar caso com isso, problema seu – essa era a postura dele em relação a isso."

Sendo o ‘caladão’ do Slayer, o guitarrista nunca fez de socializar com os fãs uma prioridade absoluta.

"Ele ficava no ônibus de turnê por muito tempo depois de um show", diz Araya. "E daí quando as multidões se dissipavam e todos os VIPs iam embora – todos os paga-paus que estavam por ali na farra – quando eles se iam, ele saía e via quem ainda estava lá. Há pessoas que querem passar o tempo delas com você apenas porque é legal, mas Jeff não queria nada com essa gente, então ele esperava. Se ele não gostava de você, ele não andava com você."

E quando se tratava de conhecer a cidade, "Jeff basicamente só ia a museus de guerra, como você pode imaginar", diz King. "Eu me lembro da primeira vez que fomos a Moscou, talvez por volta de 1998. O lance dele era ir a um dos museus de guerra de Moscou, então eu disse, ‘Hey, isso parece legal’, e fui com ele. E estava ventando e frio pra cacete lá. Mas Jeff amava aquelas coisas."

Para Kathryn, que preferia ficar em casa quando Jeff saía em turnê, tudo o que ela podia fazer era contar os dias até que ele voltasse. "Era extremamente difícil para mim", ela diz. "A primeira turnê que eles fizeram foi uma de três semanas do Sul da Califórnia até São Francisco, e naqueles dias não havia telefone celular ou internet, e era difícil para ele ficar em contato comigo. E no princípio pensei, Ah, meu Deus, eu vou morrer. Quando a banda finalmente começou a excursionar pela Europa, ele fazia questão de me mandar cartas e cartões postais quase todo dia, e isso era a única coisa que me fazia seguir em frente, porque eu não sabia mesmo quando falaria com ele de novo."

À medida que os anos pesaram, voltar para a casa de uma turnê geralmente significava que o resto da banda não veria Hanneman por um bom tempo. "Ele apenas ia para a casa e se desligava", diz King. "Ele podia morar a 45 minutos de distância, mas a menos que você fizesse parte do círculo próximo dele, era difícil manter contato com ele. E demorou alguns anos para que eu entendesse isso. Por um tempo, eu só pensava, ‘Por que esse cara não me responde?’ Mas fui envelhecendo, e me dei conta de quem Jeff era."

"Eu não acho que Jeff e eu fôssemos os melhores amigos", continua King. "Eu acho que éramos provavelmente os mais próximos da banda,mas nunca os mais chegados. Para colocar de um modo que todos possam entender, Jeff e eu éramos sócios. Ele era meu amigo? Claro que ele Ra meu amigo. Mas não agíamos como tal. A última vez que eu estive na casa de Jeff foi em Janeiro de 2003. Fomos até a casa dele assistir ao jogo dos Raiders nos playoffs. E isso pode soar horrível, mas não era horrível. Simplesmente era assim."

"Quando Jeff estava em casa, Jeff gostava de estar em casa e ficar em casa", comenta Kathryn."Ele estava farto – farto da estrada, farto das pessoas, farto de tudo". Ele só queria hibernar um pouco, e eu sempre respeitei isso. Quando ele estava em casa, ele gostava de dormir e ficar de boa durante o dia. De vez em quando ele tinha uma ideia para uma música e corria pro quarto de música dele e começava a trabalhar nela."

"E vídeo games – Jeff era um grande fã de games. Começou em 1983 com o Intellivision, e depois disso era o Sega e Nintendo e tudo mais. Se algum sistema novo saísse, nós saíamos e comprávamos imediatamente. Jogos de tiros em primeira pessoa eram seus favoritos. Ele se mantinha atualizado sobre todos eles."

"A TV sempre estava ligada, com Seinfeld, Frasier, Cheers, Scrubs. E claro, futebol ou hóquei. Algumas vezes, todas as TVs da casa ficavam ligadas, e assistíamos a jogos diferentes em todos os cômodos."

Bichos de estimação, futebol, Seinfeld, vídeo games, música – sim, a vida doméstica de Jeff e Kathryn Hanneman era quase que surpreendentemente completa, em especial nos finais de ano.

"O Natal era seu feriado favorito", diz Kathryn."Ele amava dar presentes, e ele sempre me dava bastantes presentes. Ele me fez começar uma coleção de soldados quebra-nozes alemães e uma coleção de ursos, então ele sempre estava comprando peças novas pra elas. Para Jeff, quanto maior a árvore, melhor. Nossa casa tem um pé direito de 8 metros, de catedral,e eu me lembro de que em um ano ele veio para casa com uma árvore que tinha 7 metros de altura [risos]! E claro que eu é quem subia e descia da escada decorando-a. Jeff gostava de apensar sentar e assistir à decoração."

Quando se tratava de tocar guitarra e compor em casa, Jeff nunca teve nenhum tipo de estrutura montada. Ele passava por longos períodos sem encostar na guitarra quando a banda não estava na ativa, e as composições eram feitas em rompantes do momento, quando a inspiração vinha.

"Ele nunca dizia, ‘eu preciso escrever uma música’", afirma Kathryn. "A coisa vinha até ele do nada. Ele nunca planejava ou se preocupava com isso. Se estivéssemos em um restaurante, ele me perguntava se eu estava cm o gravador, e eu o tirava da bolsa e ele basicamente sofismava o riff ou falava a letra ao microfone. E se estivéssemos em casa assistindo TV, ele se levantava e corria para o quarto de música e começava a tocar a bateria. Foi assim que muitas de suas músicas nasceram."

Hanneman se estabeleceu como o principal compositor do Slayer desde o começo. No fim dos anos oitenta e começo dos anos noventa, ele tinha formado uma relação de trabalho bastante próxima com Araya, que proveu as letras para muitas das músicas mais icônicas de Hanneman, como "South Of Heaven", "War Ensemble" e "Seasons In The Abyss".

"Parecíamos nos convergir nas ideias e temas", diz Araya. "Ele tinha uma ideia inacabada, e eu a lia, e trabalhava em cima dela e desaparecia e juntava as ideias e daí eu dizia, ‘O que você acha? ’ e ele respondia, ‘Isso está ótimo. Isso é exatamente o que eu estava esperando que você bolasse’. Ele era muito estimulante sobre eu usar minhas ideias e nós dois trabalharmos juntos. Eu sempre gostei de trabalhar com Jeff porque ele me permitia fazer coisas que viam naturalmente. Havia muita liberdade entre nós dois quando compúnhamos e criávamos música. Eu acho que vou sentir muita falta disso’."

"De todas as músicas que já escrevemos como banda, as duas músicas que acabaram ganhando Grammys – ‘Eyes Of The Insane’ e ‘Final Six’ – eram músicas que Jeff e eu trabalhamos juntos. Isso é algo do qual tenho muito orgulho e algo que sempre tentei que ele também tivesse. Eu dizia, ‘Olha, você escreveu duas músicas ganhadoras do Grammy. Não tem como melhorar isso. É um marco’".

Lombardo também tinha grande respeito por Hanneman como compositor e admirava o fato de Jeff apresentar suas músicas cm uma bateria eletrônica simples já inserida. "Tantos guitarristas não sabem programar uma bateria eletrônica ou tocar acompanhando suas próprias músicas", diz Lombardo, que atualmente está se apresentando e compondo com sua banda, o Philm. "Fazer do jeito que ele fazia precisa de mais talento porque você está pensando de toda a instrumentação em uma música, ao invés de depender de outras pessoas. Ele ouvia tudo em sua mente antes de todos os outros o fazerem."

"A vibração das músicas de Jeff permitia que eu criasse aqueles crescendos e decrescendos, tornando a música dinamicamente mais alta ou abaixando-a cm a bateria. As músicas dele nunca eram apenas um rugido constante de guitarra – elas eram dinâmicas, e me davam a oportunidade de decorar as canções um pouco mais num formato que fizesse sentido."

Enquanto as noticias sobre a morte de Hanneman em maio chocaram a todos menos a seus amigos mais próximos e família – "Se eu fiquei surpreso pelo modo que ele morreu? Não" diz King. "Foi uma surpresa ter sido tão rápido? Sim." – houve eventos que ocorreram nos anos anteriores que poderiam ter sido vistos como fatores contribuintes na espiral descendente do guitarrista. Uma fora a morte de seu pai em 2008.

"Foi aí que a coisa toda foi ladeira abaixo pra ele", diz Kathryn. "Foi provavelmente a coisa mais difícil que ele já teve que encarar em toda sua vida. Quando eu conheci Jeff ele não tinha uma relação lá muito boa com seu pai. Mas à medida que o tempo passou eles ficaram muito próximos. Então aquilo pesou pra ele. Ele nunca foi exatamente o mesmo depois daquilo. Eu acho que ele não se importava mais com nada."

Foi também por volta dessa época que Jeff começou a combater uma artrite que tinha progredido ao longo de muitos anos e agora começava a piorar ao ponto de interferir com seu desempenho à guitarra. "Sua aptidão para tocar estava se deteriorando lentamente", conta Araya, "mas ele não deixava que ninguém soubesse disso. Nós podíamos notar que as coisas estavam indo mal. Estava ficando difícil para Jeff tirar as coisas de dentro de si. Ele era muito orgulhoso e não queria que ninguém soubesse ou se preocupasse sobre o que mais estava rolando com ele. Ele tentava ser muito forte e por vezes, isso pode te abater."

"Você podia notar nas mãos dele e um pouco em seu andar", conta Lombardo. "Parecia que ele estava se esforçando para tocar – não fluía naturalmente. Você conseguia ouvir isso nos solos. O jeito dele tocar não estava mais tão preciso como podia ficar."

De acordo com Kathryn, o acúmulo de ácido úrico oriundo de seu consumo de álcool sem dúvida contribuiu para a artrite de Jeff, mas não havia muito que ela pudesse fazer sobre qualquer problema que estivesse afetando o guitarrista. "Nós o levamos a um especialista que o diagnosticou", ela lembra. "Mas, como você deve imaginar, Jeff não queria lidar com qualquer remédio para ajudar o problema. Jeff não era de tomar comprimidos. Quando eu o via tomando Aleve, eu sabia que ele estava com muita dor da artrite e o analgésico o ajudava a ensaiar ou fosse lá o que ele tivesse que fazer. Ele lidou com isso por muitos, muitos anos."

"Os médicos queriam que ele se afastasse de três de suas coisas favoritas – cerveja, carne vermelha e pasta de amendoim – mas Jeff ia fazer as coisas do jeito dele, e ele apenas lidava com a dor sob suas próprias condições."

Em Janeiro de 2011, ocorreu um incidente que muitos depois suporiam que fora a causa de sua morte, mas que não foi. Jeff fora picado em seu braço direito por um inseto que estava portando uma moléstia devoradora de carne chamada Fasciite Necrotizante. Relatos circularam que era uma aranha que o teria picado, mas isso nunca foi confirmado. Seja lá o que o mordeu, foi o suficiente para jogar a vida do guitarrista em parafuso.

"Jeff estava visitando um amigo na área de Los Angeles", diz Kathryn. "Ele estava na hidromassagem certa noite, relaxando, e ele estava com o braço apoiado fora da jacuzzi, e ele sentiu algo, como uma mordida ou uma pontada. Mas, claro que ele não achou que fosse grande coisa. Ele veio pra casa uma semana depois, e ele estava bem abatido quando entrou pela porta da frente. Ele não estava se sentindo bem, e ele só queria subir e dormir. Antes de ele subir, ele disse, ‘Kath, eu preciso te mostrar algo, apesar de eu não querer mesmo que você veja. ’ E ele tirou sua camiseta, e eu me apavorei quando vi o braço dele. Ele estava lustroso e vermelho e três vezes do tamanho normal. Eu disse, ‘Jeff, precisamos ir agora. Precisamos levar você para a emergência’. Mas só o que ele queria fazer era deitar e dormir, e eu sabia que eu estava tentando ser racional com uma pessoa muito intoxicada. Então não havia nada que eu pudesse fazer naquela noite. Mas na manhã seguinte eu o convenci a me deixar levá-lo. Ele não tinha muita força, mas eu consegui enfiá-lo no carro."

"Quando chegamos ao hospital em Loma Linda, eles deram uma olhada nele e de cara sabiam o que era, então já o internaram. Jeff me disse para ir para casa porque nós dois sabíamos que ele ficaria ali por horas e nenhum de nós achava que seria uma situação de vida ou morte. Cerca de três ou quatro horas depois, Jeff me ligou e disse, ‘Kath, não é bom. Eles podem ter que amputar. Eu acho que você precisa voltar pra cá.’ Quando eu cheguei lá, Jeff estava na maca esperando para passar por cirurgia, e o médico me explicou o quadro. Ele disse, Eu preciso que você veja seu marido. Ele pode não aguentar’. O médico olhou para Jeff e disse a ele, ‘Primeiro, eu vou tentar salvar sua vida. Depois eu vou tentar salvar seu braço. Daí vou tentar salvar sua carreira.’ E olhando para Jeff naquela maca e possivelmente me despedindo, sabendo que eu podia nunca mais vê-lo de novo..." – ela faz uma pausa – "… foi um dos momentos mais difíceis da minha vida."

Os dias seguintes para os Hannemans só poderiam ser descritos como esmaga-nervos. Jeff estava na UTI em coma induzido depois da cirurgia inicial e respirando através de tubos, e seu braço, em maior parte, estava intacto. Os médicos tentaram remover o tubo de respiração a certa altura, mas Jeff não conseguia respirar sozinho. Finalmente, depois do quarto dia, o tubo fora removido e Jeff estava respirando de novo. Seu marido estava vivo, mas tão logo eles removeram os curativos do braço de Jeff, Kathryn soube que a trilha para a recuperação seria longa.

"Eu nunca vou me esquecer – eu não conseguia acreditar no que estava vendo", ela lembra. "Tudo o que eu podia fazer era olhar para o médico e dizer, ‘Como diabos você vai consertar isso? ’ E ele respondeu, ‘Sabe, Sra. Hanneman, você ficaria muito surpresa. ’ E naquele momento eu tinha toda a fé do mundo que os médicos poderiam salvar seu braço."

De volta ao lar pouco depois, Jeff começou o processo de reabilitação de seu braço na esperança de recuperar sua aptidão de tocar guitarra. As semanas seguintes viram mais cirurgias, grampos e enxertos usando pele de sua coxa esquerda. Recursos de sucção estavam à mão para combater a infecção e ajudar a acomodação dos enxertos de pele. Fisicamente, o braço de Jeff estava se curando. Emocionalmente, contudo, ele estava lutando. A depressão estava se instalando…

"Eu não conseguia fazer com que Jeff fosse para o AA ou para fisioterapia", diz Kathryn. "Eu acho que ele estava deixando que o aspecto de seu braço interferisse com suas emoções, e isso estava mexendo com sua mente. Era difícil mantê-lo animado naquele período. Eu acho que ele pensava que podia fazer aquilo sozinho – que ele simplesmente iria ensaiar e tocar, e que isso seria a terapia dele. Mas eu acho que ele começou a se ligar, tão logo ele tentou ensaiar, que ele não conseguiria tocar á altura do talento ele e que não tocaria na velocidade à qual ele estava acostumado. E eu acho que isso o abalou muito, e ele começou a perder a esperança."

O incidente com o braço de Jeff não poderia ter vindo em uma época pior para a banda. Uma turnê europeia estava agendada para Março e Abril de 2011, e a lendária turnê do Big 4, que tinha o Slayer dividindo o palco com seus colegas pioneiros do Thrash – o Metallica, Megadeth e Anthrax – deveria rolar entre Abril e Setembro. Esses shows eram imensamente importantes para a banda, mas estava ficando cada vez mais óbvio que Jeff não poderia participar.

"Para mim foi realmente difícil tomar a decisão de seguir sem Jeff", conta Araya. "Eles começaram a sugerir nomes para substituí-lo, e eu dizia, ‘Como é que vocês podem sequer pensar nisso? Não temos como fazer isso sem Jeff. ’ Mas tínhamos que fazer algo. O Slayer, além de membros em uma banda e bastante coeso, é uma empresa. Essas são aspectos do que fazemos que os fãs têm dificuldade de entender. Então tivemos que tomar decisões porque éramos obrigados a fazer aquelas turnês."

De todos os substitutos possíveis para Hanneman, todos ficavam mais confortáveis com o pilar do Exodus, Gary Holt, amigo de longa data da banda.

"Eu me lembro de que quando a turnê surgiu, Jeff me disse, ‘Não, não. Sem chance que essa banda vá excursionar sem mim, ’", conta Kathryn. "Ele ficou muito magoado pelo fato de, pela primeira vez, a banda teria que seguir sem ele, mas eventualmente aceitou isso, e muito disso porque seria seu amigo Gary que o substituiria. Ele sabia que a banda tinha que seguir em frente."

"Gary era um amigo, não era um estranho", conta Araya. "Nós o conhecíamos fazia 30 anos e ele era um bom amigo de Jeff. Quando conhecemos o Exodus, ele e Jeff tornaram-se inseparáveis."

Os fãs tinham esperança que Hanneman estivesse andando a passos largos rumo a sua recuperação plena quando o guitarrista juntou-se a seus colegas de banda para duas músicas – "Angel Of Death" e "South Of Heaven" no show do Big 4 em Indio, Califórnia, no dia 23 de Abril de 2011, quatro meses depois da picada em seu braço. Nos bastidores, contudo, uma história diferente estava nascendo.

"Ele não estava no auge de sua forma naquela noite, mas ele conseguiu vir e tocar aquelas duas músicas", lembra Araya. "Foi depois disso que eu acho que ele se deu conta de que ele só poderia tocar um pouco e daí teria que parar. Ele vinha ensaiar e tocava em algumas partes e daí parava e só meio que brincava com a guitarra. Ele fez isso algumas vezes mas daí ele simplesmente parou de vir aos ensaios."

"Nós dissemos a ele, ‘Ouça, nós entendemos que você está tendo dificuldades em tocar sua guitarra, tendo dificuldade para voltar 100 por cento, mas isso não quer dizer que você não pode ser parte do que fazemos, que é compor. Você ainda é do Slayer, você é uma grande parte dessa banda, você ainda pode compor e você ainda pode juntar ideias. Sentar no estúdio e trabalhar conosco, fazer de nós o que somos’. Ele era uma parte grande dessa banda. Eu sabia disso e tinha me dado conta disso muito tempo atrás."

"Tínhamos esperança até o dia em que ele morreu", diz King. "Se ele tivesse vindo até nós e dito, ‘Okay, eu posso fazer isso’, não haveria nem o que pensar. A vaga era dele. Agora, se eu achava que isso acabaria acontecendo? Não, não achava."

"Eu acho que parte dele sabia que ele não voltaria à banda", acrescenta Kathryn.

À medida que o realismo a respeito de sua situação começou a se estabelecer, Jeff roa forçado a aceitar o fato que sua alegria de viver estava sendo arrancada, o que sem dúvida sublinhando sua decadência motivada pelo álcool ao longo do ano e meio seguinte. Some a isso a natureza não-comunicativa e reclusa de Hanneman, e não havia muito que seus colegas de banda pudessem fazer além de seguirem em frente.

"As pessoas tem que tomar suas próprias decisões sobre como querem viver suas próprias vidas", diz Araya. "Você não pode começar a ditar às pessoas como elas deveriam viver porque isso só as afasta. Não ajuda em nada. Não foi fácil, mas não é como se tivéssemos sido cegos ao que ocorria. Nós sabíamos. E houve momentos nos quais tentamos ajudar e encorajar Jeff a voltar – dizendo a ele que ele ainda poderia ser parte do que fazíamos, mesmo que não fosse em tempo integral."

"Mas eu acho que muito disso teve a ver com o fato de que ele não queria nos desapontar. Ele não queria nos decepcionar. Ele era muito orgulhoso e queria nos certificar de que ele voltaria 100%. Eu acho que quando ele estava tendo reais dificuldades ao longo do último ano, ele simplesmente não queria que ficássemos sabendo. Ele continuava dizendo que ele precisava de mais tempo. E o isolamento também não ajudou muito. Eu acho que não importa o quanto as coisas tivessem sido resolvidas, no fim das contas, o resultado teria sido o mesmo."

"Te consome ficar pensando, ‘Por que é que eu não consigo endireitar esse cara’", afirma King. "E não é que ele não quisesse ser endireitado. Quero dizer que, ele não queria morrer. Mas ele também não conseguiu ajudar a si próprio antes de ser tarde demais."

No dia 2 de Maio de 2013, as notícias repentinas devastaram a comunidade do Metal: Jeff Hanneman tinha morrido. Araya se lembra de seu último contato com seu amigo e colega de longa data: "Eu tinha trocado mensagens com ele, e ele até me mandou uma música na qual ele vinha trabalhando. Então parecia que ele estava bem. Mas quando recebi o telefonema dizendo que ele tinha voltado para a UTI, eu fiquei preocupado. Eventualmente, ele parou de responder minhas mensagens. Era como um monólogo."

"Eu estava em casa com minha família quando soube que ele tinha morrido O telefone tocou e minha esposa atendeu, e ela estava com um semblante macambúzio no rosto. Ela me passou o telefone e eu não disse nada, e era nosso empresário, Rick [Sales], e ele me contou. Eu desliguei o telefone e fui pro meu quarto e chorei. Isso atingiu minha família com muita força, porque eles gostavam muito de Jeff, eles o conheciam muito bem. Minha mãe ficou muito consternada, minhas irmãs amavam muito a Jeff, e meu irmão também – ele foi roadie de Jeff por muito tempo. Todo mundo na minha família o conhecia e o amava muito."

Atualmente, o futuro do Slayer é incerto. Turnês programadas para logo mais na Europa e América do Sul seguirão tal como planejadas, mas o que acontecerá depois disso vai da cabeça de cada um.

"Eu planejo continuar", diz King. "Eu não acho que devemos jogar a toalha apenas porque Jeff não está aqui."

Quanto a Lombardo, apesar de sua separação da banda ter sido publicamente dramática alguns meses atrás, ele diz que a porta está aberta para qualquer discussão com seus antigos colegas de banda. "Se eles quiserem conversar, estou aqui. Eu não quero nenhum tipo de animosidade entre nós. A vida é curta demais, e estamos velhos demais para essa merda. Eu estou pronto e disposto, então veremos o que acontece."

Araya, por outro lado, não tem ideia do que o futuro guarda para essa banda. E é uma decisão que está lhe preocupando.

"Depois de 30 anos, seria como literalmente começar do zero", ele declara. "Seguir em frente sem Jeff não seria a mesma coisa e eu não tenho certeza de que os fãs seriam tão abertos a uma mudança tão drástica. Especialmente quando você considera quanto ele contribuía para com a banda musicalmente. E você pode arrumar alguém pra tapar buraco, mas ninguém nesse planeta pode fazer o que Jeff fazia. Não há como substituí-lo."

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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