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Detroit Rock City: melhores bandas dos 60s da terra dos motores

Por Paulo Severo da Costa
Postado em 31 de maio de 2014

As pessoas que morrem em Detroit e, em seguida, vão para o inferno, provavelmente, acham que estão no céu. Eu sei, porque eu já estive em Cleveland" - a frase sarcática de JAROD KINTZ coaduna com o imaginário coletivo - fria, industrial e recordista nos indíces de violência e pobreza dentre as maiores cidades norte-americanas, a metrópole pode ser, a grosso modo, considerada como um exemplo de ambiente inóspito dentre os pequenos oásis de alienação que parecem povoar a má vontade ianque.

Se é fato que a cidade que "perdeu" VICENTE FURNIER para PHOENIX (e, por respeitar a história de ALICE COOPER- a banda- que por ter iniciada suas atividades naquele local, não foi incluída aqui) jamais teve o apelo dos excessos de L.A. ou a aura da angústia grunge de Seattle, assim como nos subúrbios de Manchester, no panorama decadente da Nova Iorque dos anos setenta ou na aridez proletária de Birmingham, a dificuldade deu a luz à um epifenômeno criativo do rock n´roll dos anos sessenta.

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"Me mudei daquela merda de cidade porque não aguentava mais a negatividade daquele lugar"- nas palavras de JACK WHITE, nativo da ‘Motor City" e conhecido por sua veemente repulsa à cidade, "Detroit é o lugar mais deprimente em que já estive". Talvez seja esse o fator distintivo do ambiente que, se foi iluminado pela Motown,ou pelas baladas heartland de BOB SEGER, também traduziu o rancor das ruas para os acordes envenenados de GORE GORE GIRLS, THE VON BONDIES e THE DETROIT COBRAS. Contudo, para compreender a fúria irritadiça dos nomes relevantes das últimas décadas, a história mostra que o som dos pistões remete à década em que, nas palavras de OLIVER STONE, "a história do mundo contemporâneo começa de verdade" .

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Com o nome retirado da fictícia gangue do romance homônimo de IRVING SCHULMAN, o THE AMBOY DUKES, é, provavelmente, uma das menos lembradas bandas de proto-metal; historicamente ofuscadas pelo brilhantismo do BLUE CHEER e do VANILLA FUDGE. Mesmo com um som ácido e potente, com o sucesso do single "Journey to the Center of the Mind," de 1968, tendo lançado ninguém menos que TED NUGENT e promovido discos bem interessantes, o AMBOY (que durou de 1964 a 1975) parece ter sido relegado à uma categoria definida por DAVE WHITE como: "Eles foram bem sucedidos comercialmente, influenciaram seus pares, futuras gerações, têm nomes reconhecíveis...mas, por uma variedade de razões, quando são mencionados, a pergunta começa com: "O que aconteceu com ...?". Mesmo com a maré contra, a banda segue mencionada como influência seminal de grupos como THE FLESHTONES, DREAM SYNDICATE e HAWKIND.

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Em termos de ficha policial corrida, o MOTOR CITY FIVE - MC5 - mostra que, além de seminais para o punk, overdoses e prisões por arruaça eram coisa para o time juvenil do rock n´ roll. Esquerdistas radicais, traficantes e junkies ao extremo, eles deixaram claro que, se o caminho para o topo do rock n roll é longo, ele também é dolorido como uma paulada na orelha.

Em um curto período de duração inicial (de 1964 a 1972), as apresentações do MC5 foram descritas pelo aclamado (e odiado) colunista ROBERT BIXBY como "uma força da natureza catastrófica que a banda mal era capaz de controlar". Se IGGY POP rolava por cimas de cacos de vidro e vomitava no palco toda noite, as guitarras de WAYNE KRAMER e FRED "SONIC" SMITH funcionavam como metralhadoras cuspindo riffs a torto e a direita. Influenciados por forças tão diversas quanto CHUCK BERRY e marxismo, o som da banda casava a política reacionária e a violência das ruas em um som nocivo, barulhento, maravilhoso.

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Kick out the jams, motherfuckers!" – vamos detonar filhos da p..." - era a singela mensagem do MC5 a seu público no debut da banda - dez anos antes dos PISTOLS serem banidos da mídia inglesa por dizerem "escroto" em rede nacional. Depois de três álbuns clássicos, o grupo se separou e cada um foi cuidar da vida: KRAMER puxou uns anos de cadeia por tráfico de entorpecentes, o vocalista ROB TYNER morreu de ataque cardíaco com quarenta e seis anos, "Sonic" Smith morreu de overdose com quarenta e cinco, o baixista MICHAEL DAVIS morreu de cirrose hepática e o baterista DENNIS THOMPSON (mais conhecido como "Machine Gun")... está vivo. E reativou a banda em 2003 que já contou com LEMMY e IAN ASTBURY como vocalistas em participações especiais.

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"IGGY POP se tornaria notório pela performance manchada de sangue ou manteiga de amendoim e o stage diving. RON e SCOTT ASHETON formaram uma seção rítmica ridiculamente primitiva, espancando acordes sem nenhuma finesse - em essência, os Stooges foram a primeira banda de rock & roll completamente despojada de ‘swinging beat" que sintetizara o R&B e rock and roll dos primórdios. Com essa definição, STEPHEN ERLEWINE definiria o que todo mundo entendeu anos depois; o STOOGES foi a primeira bnda punk da história. Provenientes de Ann Arbor, parte integrante da grande Detroit, o combo (cuja era inicial compreende o perído de 1967 a 1974) simboliza a costura na colcha de retalhos entre o garage/hard/punk, unindo o choque performático com a muralha noise que sustentou os clássicos ‘The Stooges’(1969), "Fun House"(1970) e "Raw Power"(1973).

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Retornando às atividades em 2003, o grupo mostrou vigor em "Weirdeness"(2007) e, já sem RON ASHETON (falecido em 2009), "Ready To Die"(2013). Como o tempo é inexorável, SCOTT ASHETON faleceu em 2014. Como DAVE ALEXANDER (que saiu da banda em 1970) já havia falecido em 1975, os dois sobreviventes, POP e JAMES WILLIANSON continuam tocando; algo como os últimos bastiões de uma época singular; porém provindos de uma terra que, para além da fumaça encapsulada dos motores a diesel, continua fértil para o rock n´roll.

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Sobre Paulo Severo da Costa

Paulo Severo da Costa é ensaísta, professor universitário e doente por rock n'roll. Adora críticas, mas não dá a mínima pra elas. Email para contato: [email protected].
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