O Futuro: estamos prestes a gravar nossos discos de vinil em casa
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 09 de julho de 2014
Texto original por Jimmy Stamp
Na primeira vez em que ouvi ao WHITE STRIPES, eu me lembro de ter pensando, ‘Isso é rock n’ roll de alta qualidade. Puro e simples. ‘ Há algo inegavelmente autêntico na música inabalável e emocionada dos White Stripes. Ela se encaixa perfeitamente na continuidade da história da música, fundindo o passado com o presente, e de algum modo, soando como ambos.
Quando Jack White fundou o selo Third Man Records em 2009, ele queria ‘trazer uma estética espontânea e tangível de volta ao ramo de discos. ’ O que isso quer dizer? Bem, pra começo de conversa, quer dizer fabricar discos de verdade. Tal como a música do White Stripes, os discos de vinil da Third Man combinam tradição e inovação.
Em junho, White lançou o álbum ‘Lazaretto’, um inovador disco de vinil de 12 polegadas que parece como um LP comum, mas foi desenhado com alguns truques na manga, por assim dizer. Alguns detalhes do disco: ‘sulcos duplos’ na faixa de abertura do lado dois implicam que uma versão acústica ou elétrica da faixa tocará dependendo de onde a agulha cair, ângulos holográficos talhados à mão na superfície do vinil giram com o disco, e duas faixas ocultas estão permeadas nos selos centrais, uma tocando a 78 RPM e a outra a 45, tornando Lazaretto possivelmente o primeiro disco de três velocidades já prensado no planeta.
Lazaretto prova o que muitas pessoas já sabiam: mediante aos cassetes, CDs, MP3 e à nuvem onipresente, os discos de vinil não estão apenas sobrevivendo, eles estão se multiplicando. Novas técnicas de fabricação e tecnologias digitais estão expandindo as possibilidades da mídia analógica.
No site de aparelhos ‘faça-você-mesmo’, a audiófila Amanda Ghassael postou experiências ao usar impressoras 3D e corte a laser para criar discos customizados. Suas diretrizes ensinam aos outros audiófilos como transformar arquivos de áudio em discos de resina de 33 RPM usando uma impressora 3D de alta resolução que cria objetos camada [bem fina] por camada.
A impressora 3D não é precisa como uma máquina de cortar vinil, e a qualidade do som deixa muito a desejar, mas em meio aos ruídos e chiados e riscos no disco 3D protótipo, ‘Smells Like Teen Spirit’ do Nirvana é prontamente identificável. A menos que você esteja fazendo um disco para um toca-discos de brinquedos da Fisher Price, a prensagem doméstica via computador não é lá muito prática ainda, mas é bem legal.
Ghassael também criou um disco cortando, por laser, os sulcos em plástico, papel, e mais incrível, em madeira. O som é similar ao dos discos da impressora 3D, mas o disco de madeira é lindo demais. E há algo quase poético em esculpir anéis. Contudo, eu me pergunto qual seria o som se alguém colocasse pra ‘tocar’ uma fatia bem fina de uma árvore, alinhando a agulha nos sulcos criados pelos anéis das camadas do tronco? Qual é o som da natureza? Me lembraram de um artigo escrito por Rainer Maria Rilke [1875 – 1926], "Primal Sound", no qual ele, de modo poético, indagava que aconteceria se a agulha de um gramofone fosse friccionada contra sulcos naturais e biológicos como os das suturas coronais em um crânio humano:
"O que aconteceria? Um som sairia dali, necessariamente, uma série de sons, música… sentimentos – quais? Incredulidade, timidez, medo, espanto – quais de todos esses sentimentos possivelmente me impedem de sugerir um nome para o som primitivo que então faria sua aparição no mundo?"
Rilke imaginou o mundo inteiro se transformando em som.
Experimentar com discos é uma prática que remete à própria invenção das gravações. Antes de o vinil se tornar padrão nos anos 30, os discos eram feitos de goma-laca; mas, antes da goma-laca, uma variedade de materiais foi testada à medida que inventores pesquisavam por uma mídia para armazenar o som. Dentre as quase 400 gravações experimentais em áudio na coleção do Museu Nacional de História Americana, estão discos feitos de bronze, cera de abelha, borracha e vidro.
Essas antigas gravações estão na coleção do Smithsonian já faz muito tempo, mas não foi até 2011 que os pesquisadores conseguiram reproduzi-las através de um processo não-invasivo de recuperação fonográfica recentemente desenvolvido no Lawrence Berkeley National Laboratory.
Quando um dos discos de vidro – produzido por Alexander Graham Bell e seus colegas em 1885 – foi tocado, em meio aos chiados e riscados, a voz de um homem pode ser ouvida dizendo a data e repetindo ‘Mary had a little lamb’, talvez em homenagem ao primeiro disco de áudio, que Thomas Edison fabricara em 1877. O áudio distorcido mal é decifrável. Na verdade soa muito parecido com os discos impressos em 3D. E eu tenho que imaginar que a alegria sentida pelos inventores ao inserirem o som em disco de vidro tenha sido a mesma sentida pelos desenvolvedores de hoje, que depositam música em uma resina impressa pelo processo 3D.
Esqueça-se do romantismo das lojas de discos. Acredite você ou não que ouvir à música EM vinil de algum modo constitui uma experiência mais autêntica do que ouvir a gravações digitais, há algo inegavelmente visceral sobre o som de manifestar mecanicamente, sobre realmente fabricar música. Músicos, desenvolvedores, engenheiros e inventores modernos usando novas tecnologias para fazerem bela música nova juntos estão provando que, quando o assunto é vinil, nós mal começamos.
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