Red Hot Chili Peppers: jornalista relembra garrafada que quase levou de Flea
Por Victor de Andrade Lopes
Fonte: Team Rock
Postado em 09 de junho de 2017
O ano era 2006 e o quarteto californiano Red Hot Chili Peppers excursionava pelo mundo para divulgar seu mais recente álbum, o duplo Stadium Arcadium.
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Numa sala no Hotel Claridge's, em Londres, Inglaterra, o repórter Tom Bryant entrevistava o baixista do grupo, Flea. Eventualmente, a conversa chegou num assunto delicado: as tensões entre ele e o então guitarrista John Frusciante (hoje substituído por Josh Klinghoffer). Segundo o membro fundador, John teria simplesmente imposto sua opinião durante as gravações do álbum anterior, By the Way. Ainda por cima, Flea estaria magoado com o vocalista Anthony Kiedis por ter dormido com sua irmã, fato que o cantor revelou em sua autobiografia, Scar Tissue, lançada poucos anos antes.
Naquela momento da entrevista, Flea admitiu que considerou deixar o grupo por volta de 2004 devido às diferenças com John. O senso jornalístico de Tom apitou e ele tentou arrancar mais detalhes. O novo foco da conversa irritou o baixista, que explodiu e arremessou uma garrafa contra o entrevistador - o objeto acabou se espatifando contra uma parede.
Em um texto de 2016 para a TeamRock, Tom relembrou e detalhou o episódio:
"Subindo o tom de voz e ficando nervoso, Flea começou a falar bem rápido: 'Em suma, [John] pensou que a opinião dele era mais importante que a minha. A opinião dele nunca foi mais importante que a minha, não é mais importante que a minha e sempre que ele pensou que fosse mais importante que a minha, ele esteve errado...'
Ele parou. E então disparou:
'Porra, se você realmente quer se aprofundar nisso, eu acho que é bobo pra cacete e você está meio que me irritando agora. Isso é uma babaquice do caralho e vocês ingleses sempre fazem essa babaquice do caralho. Cala a boca, porra! Vai se foder!'
E então ele jogou uma garrafa na minha cabeça, chutou uma mesa de madeira e vidro bem pesada com seus pés descalços e saiu com tudo da sala. Graças a Deus eu não o perguntei sobre o Anthony ter comido sua irmã.
Pelos próximos dez minutos ou algo assim, Flea podia ser ouvido pelos corredores do Claridge's gritando: 'Ele que vá se foder. Chupa a minha rola, puta britânica!"
Até hoje é a única vez em que fui chamado de puta britânica. [Nota do Tradutor: o termo original é "limey bitch", sendo "limey" uma gíria estadunidense para se referir aos britânicos.]
A assessora dele entrou e perguntou o que havia acontecido, horrorizada, mas foi chamada de volta por Flea. 'Puta britânica!', ele gritou a ela, antes de apontar o dedão em minha direção e se desculpar para ela: 'Não você, a puta britânica aí dentro.'
[...]
E aí, de repente, Flea parou. Ele entrou de volta na sala e calmamente disse: 'Se eu estivesse magoado com o John, eu lhe diria.'
Ele explicou por que estava bravo: 'Às vezes toda essa situação de imprensa me deixa muito desconfiado de todos, sabe. Me deixa muito desconfiado da sinceridade e da honestidade das pessoas com o que elas dizem. Eu sinto que sou sempre completamente honesto com todo mundo sobre tudo e aí distorcem e manipulam. Isso acontece na Inglaterra, é tão estranho, não sei por quê.'
Eu lhe disse que talvez fosse porque a imprensa inglesa não pegava leve com as bandas como a imprensa estadunidense às vezes fazia. 'Mas se você sente a nojeira negativa, você vai escrevê-la não importa o que eu diga', ele apontou.
'Bem', eu disse, 'o que eu vou escrever é que você jogou uma garrafa na minha cabeça.'
'Eu não ligo! Eu joguei! Joguei! Eu fiquei furioso pra caralho e joguei ela e sai com tudo da sala. Então eu falei pra minha esposa: 'Acabei de fazer algo que nunca tinha feito. Fiquei furioso, joguei algo e saí com tudo da sala enquanto fazia uma entrevista.'
Era inédito para ambos, na verdade. Ninguém nunca havia jogado uma garrafa na minha cabeça durante uma entrevista, tampouco. 'Talvez devêssemos só apertar as mãos', sugeri.
'Beleza!', ele disse, e apertamos as mãos. 'Se você vai escrever algo malvado sobre mim, tudo bem.'
Nós conversamos sobre jazz por alguns minutos, um pouco sobre funk. Enquanto isso, o elefante na sala não conseguia se esconder. Ele sucumbiu primeiro.
'Desculpe, eu te assustei quando fiquei furioso? Você achou que eu ia te esmurrar ou algo assim?', ele disse.
'Você ia?', perguntei.
'Não, de forma alguma. Eu nunca bateria em alguém.'
'Bem, não havia razão para eu ter medo então. Eu acho que você provavelmente é mais durão que eu', acrescentei.
'Tenho 43 anos e nunca me envolvi numa briga.'
Pouco depois, a entrevista acabou e entramos num elevador para subir alguns andares e fazer a sessão de fotos. Ele colocou seu braço em volta dos meus ombros, pediu desculpas novamente e me abraçou com força. Eu o abracei de volta. Pareceu a coisa certa a se fazer.
Algumas horas depois, ele foi pro blog dele - Fleamail - e escreveu sobre mim. Isto está editado, mas era algo assim:
'Hoje eu estava falando com um cara e ele ficou me perguntando sobre... tensões entre o John e eu no último disco. E ele não parava de falar sobre isso.'
'Eu falei pra ele que estava ficando bravo com isso, que não estava rendendo nada e isso é estranho porque eu nunca fico bravo em entrevistas'.
'Eu já lidei com jornalistas muito mais ridículos na minha vida, ele na verdade parecia ser um cara legal. Eu não sei se é porque eu estou sofrendo do jet lag... mas de qualquer forma, eu comecei a ficar bravo e quando percebi eu estava gritando, me enfurecendo e eu joguei uma garrafa na parede e gritei insultos a ele e saí com tudo da sala.'
'O pequeno Flea deu piti' [NT: o termo original é "the little Flea threw a tanty", sendo "Flea" o nome artístico do músico e ao mesmo tempo o termo anglófono para "pulga". Flea está sendo interpretado aqui como o nome do músico por estar com inicial maiúscula. "Threw a tanty", por sua vez, é uma gíria para "perdeu o controle, explodiu". Foi usada a expressão equivalente no português "deu piti".]
'Bem. Eu só espero não ter feito o jornalista se sentir mal. Independentemente do que ele escrever sobre mim, eu não gosto de fazer as pessoas se sentirem mal. Mesmo que elas me irritem, não ajuda em nada.'
É legal saber que eu não sou o jornalista mais ridículo no mundo. E que, mesmo quando estou irritando alguém, eu pareço um cara legal. Mas dez anos depois, eu ainda divirto as pessoas com essa história, então, não Flea, você não me fez me sentir mal. Eu meio que gostei daquilo. E peço desculpas também. Peço desculpas por me concentrar demais nas partes negativas."
Veja a história completa em:
http://teamrock.com/feature/2016-06-04/why-flea-from-the-red-hot-chili-peppers-threw-a-bottle-at-my-head
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