EsterilTipo: Os melhores álbuns nacionais de 2019
Por Ricardo Cunha
Fonte: esteriltipo
Postado em 24 de dezembro de 2019
"As bandas nacionais têm produzido trabalhos cada vez mais profissionais. E, se considerarmos que a maior parte de tudo que é produzido no meio é fruto de esforços independentes, temos então, mais uma razão pra engrandecer o resultado desse esforço. Por motivos óbvios, nossa lista desse ano privilegia as "canções" de protesto, contestação e agressividade – mas sem descartar a suavidade, porquê ninguém é de ferro."
10) LO FI – SURFIN' ON OTHER PEOPLE WAVES PLUS AN ORIGINAL (EP)
Surfin’ on other people waves plus an original é o EP lançado pelo grupo de punk rock Lo Fi tendo como convidado os amigos do Grogue, um duo de Caxias do Sul. O registro, disponibilizado gratuitamente de forma digital, é um tributo ao punk rock e à amizade entre as bandas. São quatro músicas, sendo três versões e uma autoral, esta última composta pelas bandas exclusivamente para este EP: Mass Hysteria (Social Distortion), Alienize (The Splits), Inside Out (999) e As pessoas são estranhas (Lo-Fi e Grogue). Todas as faixas são inveteradamente punk e a essência do gênero é mesmo o que se propõe aqui, uma espécie de tributo à sonoridade rápida, ríspida, de batidas frenéticas e contestadoras.
9) STRUCTURE VIOLENCE – SHEPHERD'S HEAD (EP
Banda formada no final do ano de 2016 na cidade de Fortaleza/CE. Tudo começou quando Helder Jackson (Guitarrista) convidou Jonhny Marcel (Baterista) para formar um grupo. Enquanto procuravam por um vocalista, os dois trabalharam em músicas para a futura banda, que aguardava a chegada de Aldiel Lima (baixista, que estava fora do país) para assumir os graves da banda. Assim, após a entrada do vocalista Diego Oliveira, a banda estava completa. O EP Shepherd’s Head contém 4 músicas que mostram uma banda entrosada e cheia de energia. O registro é uma mostra de um Thrash Metal violento e moderno que será integralmente lançado na data de 26 de Abril de 2019 no Spotify. O trabalho foi produzido por Leandro Osterne & Structure Violence, mixado e masterizado por Leandro Osterne e o Video foi produzido por Helder Jackson.
8) DIREITO DE DEFESA – CULTURA DA IMPUNIDADE
Musicalmente, de um lado, o álbum tem uma levada que remete a uma extinta banda de Fortaleza/CE, que ganhou notoriedade na segunda metade dos anos 90, a Benihana. De outro, uma banda carioca já famosa, O Rappa. Ambas levantaram a bandeira da música como forma de denunciar o ódio social contra o povo das comunidades carentes e por isso tinham um apelo muito forte junto aos que participam dessa realidade. Na prática, essa música repercute bem porquê tem origem no ceio das comunidades carentes e, de lá, irradia sua força para todos os cantos do Brasil, onde a exclusão social e a impunidade são preponderantes. Dessa forma, o conceito da música da Direito de Defesa, é para os excluídos e para os indignados, coisa que este país não se envergonha de fabricar.
7) ORÁCULO – DISCIPLES OF METAL
Uma obra de arte composta por nove canções que recebeu o nome de ‘Disciples of Metal’, que pode ser visto até como um anagrama ao traduzirmos seus títulos: "Voltando no Tempo" com "Sons da Vida", os "Discípulos do Metal" em sua "Estranha Redenção", "Escapa para a Realidade" com seus "Segredos", e a "Casa da Desgraça" com "Tantas Armas" eleva "Os Pensamentos do Rei". Uma crônica perfeita para um álbum conceitual, porém, apesar da breve narração gerada por este humilde redator apaixonado por poema, suas músicas possuem temas independentes. Este é mais um CD de cabeceira para se ouvir em qualquer lugar. Envolvente e impossível de tirá-lo da gaveta sem ouvi-lo diversas vezes. Destaque máximo à ‘House of Doom’, ‘Come Back in Time’ e à faixa título que ganhou videoclipe oficial.
6) FACING FEAR – ANA JANSEN
Em Ana Jansen (título que gostaria muito de conhecer o significado), a banda apresenta um Heavy Metal tradicional feito com paixão e honestidade. Notoriamente influenciados pelas bandas da NWOBHM, a turma não decepciona. Aliás, podemos dizer que é uma das melhores coisas feitas por bandas do gênero este ano. Os nomes que me vieram a mente quando ouvir este disco pela primeira vez são: Satan, Playing Mantis e Heritage. A produção é boa e os músicos demonstram entusiasmo. Para este que vos escreve os destaques são Until The End, War Of Lies e Snow Witch (Yuki-Onna) cujo vocal lembra em muito o grande UDO Dickschneider.
5) SPIRAL GURU – VOID
Void contem 9 faixas distribuídas em 39 minutos. Nele, os músicos demonstram personalidade e conseguem imprimir um estilo que contraria as próprias influências (de acordo com o citado no release), o que, para todos os efeitos, é bom! A produção, independente, é boa e os músicos souberam fazer o seu trabalho de forma muito satisfatória. Todos têm méritos, mas a vocalista Andrea Ruocco se destaca pelos vocais claros e bem cantados. E o principal é que, sendo uma produção independente, podemos dizer que o grupo atingiu o equilíbrio quanto à forma e ao conteúdo. Mais do que isso, peso e melodia estão bem alinhados e, considerando os recursos, tiveram muito cuidado com os detalhes.
4) MANGER CADAVRE? – ANTIAUTOAJUDA
A banda é "politicamente" engajada e, através de suas letras, expõe uma consciência social muito real e crua. Por isso, AntiAutoAjuda é conceitual e liricamente trata de questões como o adoecimento psicológico do trabalhador frente à super exploração de sua força produtiva na sociedade de consumo. Musicalmente, a sonoridade do disco é calcada no Crust/Hardcore e estruturada em bases simples que tem força para deslocar o cérebro de toda a massa de surdos ideológicos do momento presente. Os timbres escolhidos são sinistros e ajudam a reforçar a posição da banda sobre o caos dominante num país onde os direitos humanos básicos são negados cotidianamente.
3) SON OF A WITCH – COMMANDED BY COSMIC FORCES
Commanded By Cosmic Forces é um trabalho orientado para o doom metal, mas é possível identificar elementos de stoner, heavy metal e do rock psicodélico, que eu prefiro chamar de progressivo. Aqui é possível perceber o esforço da banda em criar algo atmosférico e dinâmico. Embora haja estrada a ser percorrida, fica claro que os músicos estão no caminho certo. Inclusive, uma das coisas mais legais sobre a banda é que demonstra saber o que quer e nesto reside a maturidade dos músicos. Liricamente, os caras conseguiram elaborar o conceito sem a obrigação de fazer um álbum conceitual. As composições falam de temas introspectivos e existenciais que dizem respeito à nossa situação individual em relação ao universo/cosmos. A produção é acima da média nacional e dá indícios de um trabalho feito sob direção artística.
[an error occurred while processing this directive]2) NERVOCHAOS – ABLAZE
Ablaze abre com 1) Necrocult (instrumental), que se inicia de uma forma que em nada lembra o death metal, mas dita o ritmo do álbum inteiro; 2) Demonic Juggernaut, é um thresão cujos limites do gênero são extrapolados pelas letras, que em sua maioria, são obscuras e antirreligiosas; 3) Feast Of Cain é mais melódica e mescla guitarras cativantes com partes mais viscerais; 4) Whisperer In Darkness é mais rápida e agressiva levando o álbum por um desvio mais soturno e maligno; 5) Death Rites remete aos melhores momentos do Deicide, inclusive pelo refrão; 6) Xamanic Possession funciona como uma vinheta preenchida de sons tribais e um clima sombrio; 7) Into Nightside, volta a pancadaria habitual onde a sonoridade thrash dita o ritmo agressivo; 8) Cave Bestiam começa com um ritmo arrastado que depois se transforma em algo parecido com "The Passage Of Existence" (Mostrosity); 9) Dawn Of War é mais uma vinheta e reproduz sons de guerra; 10) Mors Indecepta é uma explosão bestial que remete aos tempos de "Pay Back Time e faz sua cabeça girar em torno do pescoço; 11) Stalker, 12) My Dues e 13) Downfall são as mais "death metal" do álbum; 14) A Word Between Words é outra vinheta que apresenta sons da natureza e alguma calmaria antes da tempestade; 15) e a tempestade tem nome de Walk Away, que tem viradas empolgantes e mudanças de andamento bem planejadas; 16) Of Evil And Men é a última do disco e começa de forma sombria, mas gradualmente se transforma em algo mais complexo e maligno com espaço para grooves e quebradas bem executadas.
1) ANDRALLS – BLEEDING FOR THRASH
Bleeding For Thrash tem uma produção de auto nível e é mais técnico que o trabalho anterior. Isto naturalmente dá profundidade ao trabalho e leva o ouvinte a impressão de que a banda fez o seu melhor álbum até este ponto. O vocal é bruto, mas tão claro que é possível acompanhar o que é urrado pelo vocalista Alex Coelho. A banda não esconde o orgulho de pertencer à velha escola do thrash metal e isto significa que a música não faz uma nova abordagem ou que tem a pretensão de ser inovadora. Fato este, que agrada ao público old school – que não é pouco – e como plus o trio realmente entrega seu sangue neste mais recente trabalho. A música provoca explosões curtas, mas eficazes e todas denotam ódio em estado bruto. Tenho acompanhado a banda desde meados de 2002 e percebo como o grupo evoluiu entre mudanças de formação e álbuns lançados. Mesmo assim, trata-se de uma banda 100% underground.
[an error occurred while processing this directive]Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps