Ricardo Cesar: da Doçura à Claustrofobia
Por Fernando Lorenzo
Postado em 18 de outubro de 2020
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Em Abril de 2020, em meio a todo o contexto fantasmagórico da pandemia, fomos agraciados com um trabalho singular e curioso — o álbum Just Another Day, de Ricardo Cesar.
No maior estilo "Faça-Você-Mesmo", as 11 faixas do disco são uma espécie de catarse sonora, um carrossel psicodélico de violões reverberados e vozes fantasmagóricas. É quase como uma viagem lisérgica dentro da linguagem simples e doce do compositor, muito inspirado em nomes como Lou Reed, Cartola e Bob Dylan.
Mesmo tendo um histórico sólido dentro do cenário punk alencarino e fazendo parte de bandas como Os Intrusivos, Astros de Netuno, Anum Preto e Os Austrais, Ricardo mostra em seu primeiro trabalho solo uma faceta nunca antes vista, e ainda inédita na cena de Fortaleza: o folk lo-fi.
O lo-fi, feito magistralmente por bandas como Guided By Voices na década de 90, o The Velvet Underground na década de 60 (já soando protopunk) e também com os Strokes no início deste milênio, foi também a identidade sonora de outros grandes nomes como Dirty Beaches e Daniel Johnston. É um estilo que atualmente simula uma limitação musical e uma gravação de baixa fidelidade, fazendo com que se assemelhe a um registro antigo e que, neste caso, foi realizado de forma totalmente proposital, gravado em um celular, editado e produzido também pelo próprio Ricardo.
O álbum segue dentro de canções bastante intimistas, com um ar bastante melancólico, principalmente em faixas como "Alone", "Walk" e a faixa-título, "Just Another Day", lembrando bastante canções como "Sunday Morning", do The Velvet Underground, talvez sendo a principal referência sonora do disco. As canções, em sua maioria, são curtas e possuem uma estrutura bem definida — um paralelo bem interessante com o estilo de composição dos anos sessenta, copiado a rodo pelos Ramones na década de 70.
Vale lembrar que há participações femininas, o que traz uma certa sensualidade em músicas como "Alone" e "Sunshine/Moonlight" — esta última sendo uma das pérolas mais experimentais do álbum, contando com um solo realizado ao contrário. Referência aos Beatles, talvez?
As coisas mudam um pouco mais do meio para o final do disco com "Confusion", que lembram bastante Billy Idol e The Jesus and Mary Chain. É quase impossível não fazer esses paralelos, até por conta dos vocais graves que acompanham as batidas frenéticas na caixa da bateria e o sintetizador gritante. No fim, o disco finda com um sample hipnótico de "I Wish I Never Saw the Sunshine", um lado B das Ronettes, juntamente com um acompanhamento de vozes bastante monótonas, fechando então o trabalho do artista.
É um disco curioso e esquisito, mas bem interessante. Aos amantes de música lo-fi, é um prato cheio. O álbum encontra-se no Spotify, Bandcamp, YouTube e em quase todas as plataformas de streaming. Confira abaixo também o videoclipe para a canção "Alone":
FONTE: Hits Perdidos
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