Rush: de voluntariado à discrição, como foram os últimos anos de Neil Peart
Por Igor Miranda
Postado em 07 de janeiro de 2021
O site da revista Rolling Stone publicou um artigo especial sobre o baterista do Rush, Neil Peart, que morreu em 7 de janeiro de 2020. O texto apresenta relatos da esposa do músico, Carrie Nuttall, além de seus colegas de banda, Geddy Lee (voz/baixo) e Alex Lifeson (guitarra), para falar sobre seus últimos anos de vida.
Peart morreu devido a um tipo agressivo de câncer cerebral, chamado glioblastoma. O diagnóstico foi obtido em agosto de 2016, cerca de três anos e meio antes de seu falecimento. Os sintomas já estavam aparecendo: ele tinha dificuldades para completar suas palavras cruzadas e até para conversar.
Um ano antes, em 2015, o Rush havia encerrado suas atividades discretamente. A banda realizou uma turnê para celebrar seus 40 anos de atividade - e ninguém, além dos próprios músicos, sabia que aquela seria a última tour.
Após ser diagnosticado com o câncer, os médicos deram a Neil apenas seis meses de vida. Ele superou essa expectativa em três anos, no fim das contas, e nunca abandonou seu tratamento.
Além disso, o baterista passou a fazer várias coisas que gostava, mas nem sempre tinha tempo, como dirigir sua motocicleta e passar tempo com sua filha, Olivia. Desde o fim de 2015, aliás, o músico estava atuando como voluntário na biblioteca da escola onde Olivia estudava.
"Ela (Olivia) via o pai na escola o tempo todo. À noite, ele vinha para casa e cozinhava o jantar. Pela primeira vez em décadas, ele estava vivendo a vida exatamente como queria, provavelmente. Foi um período muito feliz. Então os deuses, ou quem quer que sejam, estragaram tudo", afirmou.
Discrição
Assim que souberam do diagnóstico de Neil Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson foram solicitados a manter segredo. O baterista não queria que ninguém soubesse.
"Ele queria estar no controle. A última coisa que ele queria era pessoas na calçada ou na garagem da casa dele cantando 'Closer to the Heart' ou algo assim. Ele não queria atenção. Era difícil mentir para as pessoas ou desviar esse assunto de alguma forma", relembrou Alex Lifeson.
Geddy Lee completou: "Ele não queria perder o tempo de vida que lhe sobrava falando sobre coisas desse tipo. Ele queria se divertir com a gente. Ele queria falar sobre coisas reais, até o fim da vida".
Lucidez até o fim
Neil Peart tinha consciência da efemeridade da vida. Em 1997, ele perdeu Selena Taylor, sua única filha até então, em um acidente de carro. A jovem tinha apenas 19 anos. No ano seguinte, sua esposa, Jacqueline Taylor, faleceu devido a um câncer, tendo somente 42 anos de idade.
Apesar disso, o baterista sentia-se frustrado por deixar sua filha Olivia para trás. "Ele ainda queria fazer muitas coisas. As pessoas perguntam se ele simplesmente aceitou o destino dele. Sim, ele aceitou, mas isso partiu o coração dele", afirmou Carrie Nuttrall.
O lendário músico do Rush permaneceu lúcido até semanas antes de morrer. Em setembro de 2019, para celebrar seu aniversário de 67 anos, ele chegou a dar uma festa por conta própria, na intenção de reunir seus amigos e familiares. Ele também seguiu andando de moto, porém, com o auxílio de outras pessoas.
Fora o grande legado na música e os vários amigos que fez, Neil Peart enxergava Olivia como tudo o que tinha. E ele a incentivou de todas as formas para que ela seguisse os passos do pai, como baterista. Chegou a montar um kit de bateria para ela na sala de estar da casa onde moravam. "Neil disse imediatamente que ela tinha o mesmo dom que ele. Isso o empolgou", revelou Carrie.
Com a morte de Neil Peart, o Rush acabou. Não só a banda, como também, ao que tudo indica, as carreiras de Geddy Lee e Alex Lifeson na música. "Amo tocar e nunca quis parar, sempre dizia que tocaria até morrer. Mas isso se foi. Após ele nos deixar, não parecia ter importância. Porém, acho que essa vontade vai voltar", comentou Lifeson. "Por muito tempo, não tive vontade de tocar. Ainda sinto que há música em mim e em Al, mas não há pressa", completou Lee.
O artigo da Rolling Stone, em inglês, pode ser conferido na íntegra no site da revista.
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