Gojira: conheça a articulação indígena brasileira que receberá lucros de "Amazonia"
Por Igor Miranda
Postado em 26 de março de 2021
O Gojira lançou, nesta sexta-feira (26), um videoclipe surpreendente para a música "Amazonia". Tanto a canção quanto sua filmagem oficial, dirigida por Charles De Meyer, fazem referência ao desmatamento da Floresta Amazônica, que tem 60% de seu território no Brasil.
Em comunicado, a banda francesa afirma que destinará os lucros obtidos com "Amazonia" para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Segundo o texto, a instituição "defende os direitos ambientais e culturais das tribos indígenas da Amazônia que sofrem muito - são vítimas de desmatamento, perda de terras, trabalho forçado, violência e assédio".
Os músicos também organizaram outras ações em prol da Apib. Em sua página no Facebook, a banda revelou que a primeira novidade é o leilão de uma guitarra signature do vocalista e guitarrista Joe Duplantier, autografada por ele e com uma arte celebrando a vida selvagem da Amazônia. Um baixo de Robert Trujillo (Metallica) também será oferecido para arremate, entre outros itens.
Fundada em 2005, a Apib foi criada pelo movimento indígena no Acampamento Terra Livre, mobilização que, de acordo com a organização, busca "tornar visível a situação dos direitos indígenas e reivindicar do Estado Brasileiro o atendimento das suas demandas e reivindicações".
Dessa forma, a Apib reúne organizações regionais indígenas com o propósito de, segundo o texto oficial, "fortalecer a união dos povos e articulação entre as diferentes regiões e organizações indígenas do país, além de mobilizar os povos e organizações indígenas contra as ameaças e agressões aos direitos indígenas".
Integram a Apib as seguintes organizações regionais:
- Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME)
- Conselho do Povo Terena
- Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ARPINSUDESTE);
- Articulação dos Povos Indígenas do Sul (ARPINSUL);
- Grande Assembléia do povo Guarani (ATY GUASU);
- Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB);
- Comissão Guarani Yvyrupa.
O site oficial do movimento apresenta todos os seus objetivos e demandas.
Embate com o governo federal
Nos últimos anos, a Apib entrou para o noticiário nacional não apenas por suas ações em defesa dos povos indígenas, como, também, pelos embates com o governo do presidente Jair Bolsonaro. A gestão atual tem recebido críticas pela suposta falta de enfrentamento às questões ligadas ao meio ambiente e aos indígenas.
Em 2020, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, afirmou que o governo federal deveria mover uma ação contra a Apib, sob acusação de que a instituição divulgou notícias falsas sobre a situação ambiental brasileira. Heleno declarou que a associação deveria ser acionada por crime de lesa-pátria, a acusando de se juntar a instituições estrangeiras para prejudicar a imagem do Brasil internacionalmente.
A declaração do general foi feita semanas após uma mobilização feita pela Apib acusar o governo Bolsonaro de negligência com temáticas ligadas ao meio ambiente. Um vídeo divulgado pela organização chegou a ser compartilhado nas redes pelo ator Leonardo DiCaprio, o que garantiu grande repercussão internacional ao caso.
Em março deste ano, a Apib enviou uma denúncia internacional a José Francisco Cali Tzay, relator especial das Nações Unidas (ONU) para os Direitos dos Povos Indígenas, afirmando que "o Estado brasileiro segue omisso quanto ao cumprimento das ações mínimas de combate à pandemia e aos impactos aos povos indígenas".
"Com o avanço e o descontrole da COVID-19 no Brasil, os povos indígenas tornaram-se vítimas letais do vírus, independentemente do estado e região em que estão inseridos, tanto os indígenas aldeados, como os que estão em contexto urbano e até mesmo os indígenas isolados e de recente contato. Todos se tornaram vítimas da postura omissiva do Estado brasileiro", diz o órgão, apontando que, até o fim de fevereiro, mais de 49 mil indígenas contraíram o novo coronavírus, resultando em 973 mortes.
"Enquanto o governo foi omisso em promover um plano de enfrentamento da pandemia, também contribuiu para o vírus se difundir, incentivando o avanço da exploração econômica em territórios indígenas, como as atividades ilegais de garimpeiros, madeireiros e grileiros, além de apoiar a entrada e a permanência de missões religiosas em terras indígenas com povos isolados e de recente contato. Além disso, também contribuíram na difusão do vírus os problemas e dificuldades no acesso ao pagamento do auxílio emergencial do governo federal, que forçaram o deslocamento de indígenas para as cidades", completa a instituição, que também afirma ter denunciado a situação à Suprema Corte brasileira.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps